NICOLAU SAIÃO
Participante do Movimento Surrealista Internacional . Criador, com Mário Cesariny, do Bureau Surrealista Alentejo-Lisboa
O SURREALISMO EM JEITO DE VAUDEVILLE… ESTATAL
Conforme se pôde ler no diário “Observador”, foi há um par de dias inaugurado, em Famalicão, o denominado “Museu do Surrealismo”, na dependência e por manejo – dizem-me que luzido e competentemente afeiçoado – da Fundação Cupertino de Miranda, entidade que já terá, como é voz corrente, articulado outras andanças que ao surrealismo dizem parte.
A sessão, além de dois protagonistas da pintura surreal, teve a presença do mais alentado magistrado da Nação, que artilhou palavras como é de seu uso e seu jeito nas sessões em que, esforçada e macissamente, comparece para maior proveito – calcula-se – abrangente das diversificadas “modalidades” em relevo na pátria.
Diz-nos, sem incorrecta intenção o mesmo “Observador” que, a dada altura (e citamos cabalmente), “No rodopio de discursos, ainda houve tempo para o ministro da Cultura fazer uma pequena reflexão do surrealismo português, que “aparece de uma forma diferente do francês”:
“Por um lado, é menos terrorista, por outro lado, é mais empenhado politicamente, apesar de não haver uma estética de compromisso com ideologias. O surrealismo é uma ideia de emancipação total, de liberdade.”.
E é precisamente baseados nessa noção de liberdade que o surrealismo, ontem, hoje e sempre é de facto, que – apesar de vivermos numa mera partidocracia, que não democracia, o que sãmente nos expõe a eventuais velhacarias do Estado e da sua parceira de casal “geringonça” – vimos dizer ao excelentíssimo (digamos desta forma) – governante, cujas qualidades, muitas ou poucas, já foram magnificamente caracterizadas num esclarecedor texto transacto de Alberto Gonçalves:
– o seu conhecimento interior do surrealismo e da liberdade e emancipação que lhe assiste será, cremos, meramente superficial, eventualmente fútil e necessariamente confuso, a atender ao verdadeiro insulto consignado nesta sua pequena jaculatória. Classificar de terrorista as actividades vitais e conceptuais dos nossos companheiros franceses é simples expressão que, se estivéssemos numa democracia real não poderíamos deixar de qualificar como acintosa e caluniosa. (Não sendo eventualmente produto de um espírito ou cândido ou ardiloso).
E o resto do seu raciocínio que, em frase quase caricatural, a seguir expande, vem na sequência dessa confusão, dessa superficialidade e dessa futilidade que se deixam adivinhar.
Nesta conformidade, e em jeito queirosiano, solicita-se a Vexa. que retire a sua alentada figura de dentro do surrealismo, que está e estará sempre pelo que se percebe nos antípodas de tudo o que Vexa. é ou se pensa, eventualmente, ser.
E, já agora, ajude igualmente outro qualquer elemento estatal ou de representatividade político-oficial a retirar-se também de dentro desse continente, avesso como ele é a entidades estatais, ministeriais ou, até, de uso para galhardetes ou “selfies”…
Nicolau Saião
Participante do Movimento Surrealista Internacional
Criador, com Mário Cesariny, do Bureau Surrealista Alentejo-Lisboa