NICOLAU SAIÃO
A Segunda Guerra Mundial, no dizer adequado de competentes autores, tem sido manancial para inúmeros livros, filmes, ensaios interpretativos vindos da mais diversa proveniência. Não só no campo da ficção como no da pura e complexa realidade, como pode constatar-se ao lerem-se as obras de Jacques Chastenet, Bertrand de Jouvenel, Coronel Rémy, Douglas Reed, Trevor Roper e tantos, tantos mais…
E há segmentos dessa História que apontam para casos do quotidiano que ficaram no conhecimento e no imaginário dos leitores e dos cidadãos, como o que se passou, por exemplo, com o pastor Jean Servais, humilde mas corajoso vigário duma povoação da martirizada França resistente. Em conversa com um paroquiano, que se lamentava por não terem armas para combater o invasor nacional-socialista (nazi), respondeu-lhe galhardamente: “Sim, é verdade. Eu não tenho arma, mas tenho a minha voz!“. Servais, adstrito a um grupo da Resistência, foi mais tarde preso pelas milícias colaboracionistas e levado a um campo de concentração. Mas sobreviveu e depois, alquebrado embora e já muito velhinho, continuou a exercer a sua boa voz para defender a liberdade e a justiça, ficando na memória daqueles a quem servira com o seu múnus de homem de bem.
Ou o que sucedeu com Jacques Bergier, o grande escritor e que foi chefe dum dos réseaux de patriotas combatentes, o homem que investigou e desmascarou o comandante dum dos mais ferozes campos de concentração nazis e que, enfrentando-o num combate à pistola quando ele se preparava para fugir após a libertação, o abateu limpamente, sendo depois galardoado com a mais alta condecoração do Estado francês. Bergier foi ainda, para além de outros feitos, o protagonista do famoso caso da água pesada, depois imortalizado no belo filme, com Kirk Douglas e Richard Harris, “Os heróis de Telemark”.
Mas se houve filmes e livros atestando a hombridade de homens e mulheres “sans peur et sans reproche”, outros houve que cifraram o que, por outro lado, aconteceu aos que atraiçoando os seus concidadãos e as suas pátrias em geral, se mancomunaram com os invasores ora por vis interesses ou ideologias assassinas: na Holanda, na escravizada Polónia, na Bélgica, na Inglaterra, nos plainos dos Países Baixos na “douce France” de Vercors, …
Neste último país, onde se deram casos nefandos como o que sucedeu em Oradour-sur-Glane de tristíssima memória, os colaboracionistas que tinham as mãos tintas do sangue dos resistentes – como o heróico Jean Moulin – numa compreensível indignação foram ora fuzilados depois de um julgamente sumário, ora levados a muitos anos de cárcere. Pois é esse o “prémio” que cabe aos traidores e aos que, esquecendo os seus deveres para com a humanidade sofredora, cedendo à mentira sustentada pelos invasores e seus esbirros, se juntam aos turiferários criminosos.
A História, apesar do que os cínicos e hipócritas pretendem, não esquece. Pois, como em tempos me referiu um dos mestres de Coimbra, “À História eles não escapam”.
Seja à História doutros tempos, seja à dos tempos que estamos vivendo.