0. Reclamo para a Via Láctea uma esterilidade absoluta? 0.2. Dentro de vinte mil milhões de segundos, ou nem talvez isso, a minha vida explodirá. E minha boca terá partido sem beijar a tua. 0.4. Tenho fome e sede e tenho pouco tempo. Tenho tanta cousa! Temos tempo, somos jovens. Temos o tempo todo à nossa volta. O nenhum tempo que temos! Não posso, não tenho tempo! Nem sequer tenho tempo para passar revista às prosas. Chego a nem ter tempo para controlar o espaço do eco e da interjeição. Esse obstáculo, contudo, é selectivo. Só sobrevive o fragmento de discurso mais apto. Os fragmentos estão sempre a evoluir, a espécie não está acabada. Muitos desapareceram no caminho porque o ambiente se transformou de tal maneira que eles não foram capazes de sobreviver à crise. Outros adaptaram-se. Por exemplo, hoje, tive de me adaptar à greve dos transportes: vim a pé para casa desde a Faculdade de Ciências. Somos criaturas em processo. 0.6. O tempo imenso que temos para mudar! Temos o tempo todo, de forma inteiriça! Deita-se todas as tardes, levanta-se todos os dias. Ininterruptamente, ao longo de 365 dias. Ao fim dos quais, recomeça. E não sabia a teoria do tempo circular! Este jovem cuja actividade profissional é levantar-se e pôr-se todos os dias nunca tinha ouvido falar dos ritmos cósmicos! Ó Ignorans! Ó meu deus solar!
0.8. Espaço-tempo-matéria. O espaço existe independentemente da minha consciência dele. E independentemente da minha consciência de mim. O sujeito é a prova de que existe a realidade. Donde nunca a realidade se me antolhou mais evidente.
0.10. Julgo que uma cidade de província foi neste instante invadida por criaturas da polícia. Vinte mil çriaturas da polícia exigindo estatutos legais. E se a minha consciência não se apercebeu correctamerite da notícia, milhões de rádio-ouvintes terão provado melhor a realidade da sua existência do que eu. 0.12 .Hoje, segundo dia da criação, tenho de acabar a criatura se não morro. Morria, ab initio. Tenho continuamente de dar cabo da criatura. 0. Um dia serei estrela morta e fria. Um dia serei o teu nome assinado de cruz. Damos-lhe mesmo um megalito! 0. 1. Para iluminar o escuro, acende-se a luz . E o que é a luz? É o conhecimento. Isso de uma forma simbólica... É uma energia. Mas para a acender, preciso de conhecer o lugar dos interruptores. Para escolher a luz que me convém, preciso de lhe medir a intensidade. Passo da qualidade à quantificação. Haverá assim um número n de fotões distribuídos por toda a curvatura das sílabas. 0.3. A civilização moderna assenta na Métrica. Até as fitas podem estar ao serviço do Progresso! Até as rimas podem conduzir-me ao arraial do Futuro!
0.5. Aos pés do jazigo correrão ágatas e topázios, virão os militantes de Deus com meteoritos e bandeiras. Formar-se-ão multidões espessas de poeiras. Nesse dia serás um sol negro, terrivelmente absorvente. Um dia as pedras cairão devagarinho nas fauces do mar. Um dia o Atlântico fechará as janelas connosco para sempiternamente dentro. 0.7. Sinto cada vez mais menipeicamente. Na troca está o lucro, na medição de forças, o prejuízo. Prazer em conhecê-lo. Eu vou à casa de banho. 0.8. Um dia virás ter comigo através dos universos. Túneis gravitacionais trar-te-ão para mim a incalculável velocidade. Um dia cruzar-vos-eis na via rápida trans-solar. Daqui a uns milhões de anos voaremos à velocidade da luz na órbita de outro globo planetário.
0.7. Posso dizer isso ou devo retirar? Não, não! Pode dizer! E devo dizer? Deve dizer!
0.6. Atrás dos montes da lua. Uma lua vermelha, Titânia, verbi gratia. Ou ]anus III. Hoje preciso de descobrir dentro de mim as Índias siderais. Adeus, António! Felicidades por cá! Despeço-me profundamente deste belo moço, poeta honrado, que parte para Goa. 0.5. Vamos lá a ver o que é que acontece agora... O senhor por enquanto vai responder... vai... espero que sIm... um nove passou... o outro 0.4. Um dia serás poço de luz infinda a iluminar o veículo da nossa sobre-humanidade! Os homens que amo! Sem a minha idade !
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