296. Os mísseis da paz vão rebentando tudo com grande sinceridade. Pombinhas imaculadas, os missionários!
Tocando clarinete e bandolim. 298. Vêm trazendo os mísseis eucarísticos. Por muito grande que seja o número deles, saiba que o número dos meus soldados ainda é superior. Infinito é o número dos que militam nos meus exércitos. Posso sempre alistar neles mais um enunciador especial.
299. Não creia que só o infinitamente pequeno é invisível à vista desarmada. O ignoto e longe só se vê com telescópio e registo de rádio-radar. Além disso há o muito muito grande que se não vê. Por enquanto. Tal como o meio termo também se não vê. De resto, que mão cheia de nada é que se vê? Nem os morcegos me levam grande vantagem na negrura.
300. Resolvo alguns dos meus problemas por saber contar. Não é contar uma história, não! Mas contar factos e caquinhas, pelos dedos: 0, 1, 2, 3, ...n... Diga-se que a partir de umas dezenas notas de mil já me vejo muito à rasca para Contar por ordem decrescente, informo para meu governo.
... ou gama grego, esquadro, ou cruz gamada. Gamaram-me a carteira com as fichas em que tinha as cotas dos artigos a fotocopiar. Oh, galo! G de gal-gal. Gal de gral. Ou Gal de Galaad, o terceiro cavalheiro. A luz do Sol ofuscou-me agora. 302. Não este Sol, que também é numerável. O maior de todos. Aquele cuja gama de raios é sempre inferior. Declaro o meu amor profundo pela matemática e toda a casta de algarismos. Declaro-me fiel devota da geometria esférica. Declaro igualmente o estudo de sítio. 303. Maratonas de dança! Quem pode proibi-los de mostrarem o seu orgulho? Quem pode negar-lhes o direito de se sentirem uns senhores? Ou de morrerem como muito bem lhes apetece? Quem pode impedi-los de terem mais olhos que pança? 304. A morte dilata os corpos, dá-lhes extensão. O corpo vivo sofre de claustrofobia, exercem-se nele inúmeras forças centrípetas de persuasão. Na morte, o corpo não tem limites. A alma também não. 305. Sinto cada vez mais dores nas costas. 306. Dígito. Um número binário, com valor de 0 ou 1, tanto faz. Sim ou não, tanto faz. - O Universo é infinito? - Pode ser que sim. - O Infinito é o Universo? - É claro que não. - É grande a distância do Peso da Régua a Lamego? - Assim assim. Gosto do assim assim. - São muitos os anos-luz entre o Luso e o planeta Vénus? - Assim assim. Tão longe como não. Tão perto como sim. Tal como ir daqui à Meia-Légua sem saber em que fim do mundo fica. Amo os analógicos, os hipotéticos, e até os dígitos heréticos. 307. Amo os hunos, os bípedes, os quaternários e os tripés. Um finito amor por tudo isto. 308. Um dia escreverei no chão o número mais comprido que souber e sobre a estrada que formar caminharei na direcção do Ser Eterno. Número branco e puro como a cautela em que me não saiu nada. Excepto a sorte grande de vos dizer o que vos digo. 309. Porque Deus é um Googolplex. Fórmula de um número compridíssimo, que dizer é impossível, e tentar escrever é inútil por completo. 310. O ciclo do frio. Quando o frio é mais frio e o quente é mais quente. No meio, o lugar fica vazio. Um míssil com alcance de mais de seis mil quilómetros, dizem na TV. Perdi-me nas folhas. Ah! O frio, cá está: No meio, o lugar fica vazio. E eu a escrever na Sé durante a Santa Missa! Duas ou três frases comovidas alinhavei com devoção. Duas ou três frases em sentido. No fim da comunhão o ar estava tão sobrecarregado de perfumes que quase perdi os sentidos.
312. Passar por cima de tudo e todos, numa carripana triunfal, como se só eles tivessem direito ao Infinito! Que até os santos morrem, e mais têm a Legião de Honra! Que até os deuses vão desta para melhor, e mais andaram na tropa! 313. As fomes que eu tenho! Galaicas, astrofísicas, marciais! 314. Eu vivo. O simples facto de ser um ser vivo já de si é uma violência. Uma concha trivalve é uma violência. Uma árvore migratória é violenta. Até as estrelas do mar são violentas. O meu coração é uma violência abrasiva. As gotas de orvalho nas pétalas do Jacinto são violentas. Sobretudo, se colhidas em manhã de Maio. As cores, por exemplo, diz-se que são violentas. Chegam a ser gritantes! Há perfumes violentos, músicas violentas, palavras violentas, gestos violentos. Ou imagens violentas. Frases de grande violência. Posso escrever VIOLÊNCIA! sem violar nada. Até posso afirmar que te amo com a mais violenta doçura! Eu, porém, por apenas estar vivo, sou a violência. A infinita violência.
315. Mas eu sou um animal feroz, e isso é ainda mais violento. Flor que se devora com os olhos à beira d'água. Debruçado nos meus, a tua imagem reparte-se em chispas de ágata. O amor violento. A maior violência. Infinita é a violência que habita em mim, porque eu sou verbo infinitivo. Sou o verbo. Verbo ser. Morreu Elis Regina, dizem na TV. Outra violência. 316. Parou-Ihe o coração. Renúncia do Presidente. Esclarecimentos. Enquadrados. Alimentem sublinhar confirmou considera responsabilidade condução portanto república demissão confessional promulgação motores apresentação sua obrigação democrática termos universal continuar poder democrática existência por isso não abdica pessoal todas as possibilidades condições cumprimento não se pode dizer conspurcado respeito balanço eventualidade irresponsável enconqral responsabilidade intenções defendido democrátima progressos república assumiu este livre por isso direito reconstituição regra vigor responsabilidade possível logo essencial importa claras não se pode obsessivas pretexto república direito república democracia mandato decurso república esclarecimentos clrcunstânclas... 317. Embirro solenemente com a política. Nunca percebi raspas de política!
318. Infinita era a violência que morava em mim, porque eu sou uma violeta. 319. Sintetizo as formas variadas de matéria à minha volta. Encavalgo e distribuo os tempos. Levo ao forno. Refaço um mundo rotundo, estéril e rebarbaratlvo.
320. Pensar que somos um montão de números! Pensar que a tua boca é redutível a uma fórmula relativa à combinação dos pesos atómicos do hélio e do carbono! E nem um semazinho de paixão? Um coraçãozito solar carbonizado? Pensar que o sentido nasce por atracção e repulsão das partes! Pensar no buraco negro do teu sorriso! Pensar que ainda resta algo que não pode ser medido! Quem pode pesar, medir um sorriso?
321. Sorriu durante precisamente 20 segundos, até verificar que o tempo é a medida de todas as cousas incomensuráveis. 322. Sol negro, beijo-te profundamente na boca!
323. Eu não sei aplicar a minha sabedoria. À roda, o mundo expande-se, explode, perde peso. Nem as forças gravíticas me seguram quando me abato nos abismos matemáticos. Sempre engalinhei com algarismos. 324. E ei-los que chegam, os números, os galináceos todos! Naturais e racionais. Amen. Fico sem Um para me agarrar! Que os outros tolos os vestidos me agarram, cega tontura! Este remoinho numeral! Vêm em dígitas colunas, raízes quadradas, potências esquisitas. Vêm aos milhafres, horas deles, hunos e berberes, esquimós e bosquímanos. Vem um grego de todo. Vêm todos gagos, galos, árabes e romanos, gastos e galgos, gatos. Vem um egípcio hieroglífico e um atlante imaginário. Vêm aos pares, ímpares, e primos. Vem um trio de ases à cabeça. Vêm os gês todos. À sua frente, na avonguoarda, o eco dos passos os vem precedendo: gal... gal... gal...
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