DE LINK EM LINK No ciberespaço encontramos tudo o que oferece qualquer outro medium, a saber: palavra, imagem, som e movimento. Mas além disto, há nele um elemento novo, que usamos de forma intuitiva, sem nos interrogarmos sobre a sua natureza e capacidades. Qualquer texto ou imagem que circule no ciberespaço é um hipertexto, isto é, um texto ou imagem que aparece no nosso browser por nele existirem hiperligações com outros hipertextos alojados noutros pcs. Mas nem todo o hipertexto é ciberarte, tal como nem toda a frase é poesia. O elemento radicalmente novo do ciberespaço, que não existe nem na televisão nem na rádio, é a hiperligação. Por isso os links são a grande obra alquímica a que os artistas devem meter mãos, pois são eles que permitem transmutar o hipertexto em ciberarte. Por ciberarte entendo não as habilidades dos ciborgues nem dos técnicos de informática, sim uma forma de criação humana específica do ciberespaço. Específica quer dizer que a ciberobra, uma vez trasladada para livro, cinema ou rádio, perderia parte das suas qualidades. Uma excelente imagem executada no Paint, esteja ou não no ciberespaço, é transferível para papel, sem nada perder da sua dimensão artística. Por isso não corresponde ao que entendo por ciberobra. Mas se essa imagem feita no Paint tiver um link, já perde na transferência. Perde tudo o que era próprio do ciberespaço, passa a ser uma imagem igual às dos outros meios e suportes. Repito assim que o link é o eixo em torno do qual deve mover-se quem quiser criar no ciberespaço. E para quê esta insistência numa arte centrada no link, a que mais vale então dar o nome de linkart? Não é a correcta classificação das obras em géneros e espécies que estou a discutir, essa questão vulgaris de Lineu nem sequer me interessa. Interessa é que o artista pode transmutar os links em signos e símbolos, conferindo-lhes dimensão poética, e não apenas funcional ou técnica. E isto não o tenho visto fazer ainda. Sob a designação de ciberarte aparece muita obra no ciberespaço que às vezes nem sequer é arte, desde os textos gerados por computador, de que são exemplo os produzidos por Pedro Barbosa (1), até às páginas que divulgam produtos para webdesigners, passando por aquelas em que há narrativas engenhocadas com programas de contar histórias. Também encontramos sob essa designação muitas galerias de arte, como as de Epimetreus (2), John Coulthart (3) ou David Michalczyk (4). Em Coisas da Cultura (5), um link remete para a melhor página de ciberarte do mês ou do semestre, segundo a preferência do webmaster. Nesta altura elege Arte en Linia (6), com muito boa aparência, o que é habitual nas webs concebidas com os programas Flash. Porém o facto de o Flash ser facilmente reconhecível, diminui logo a importância de um dado essencial da arte, seja ela qual for - a originalidade. As webs feitas com bons programas tendem a apresentar visual semelhante, o que é excelente do ponto de vista da qualidade técnica geral do que corre na net, mas é decepcionante no campo em que o que conta não é o melhor, sim o diferente. Por muito original que seja a obra dos artistas plásticos, no ciberespaço tende a limitar-se à divulgação da biografia, das obras do pintor expostas fora dele, ou a outros assuntos, não se apresentando assim como obra específica do ciberespaço. Não é o exemplo da homepage de Xana, que apresenta até uma secção de webart (7), mas já é exemplo disso a de Leonel Moura (8). Menciono por último a revista Interact (9), da Universidade Nova, executada também com um programa Flash. Nela encontramos um “Laboratório” e as “Anotações” de José Augusto Mourão. Os links, nas “Anotações”, têm função referencial e não poética, e no laboratório aparecem obras geradas em computador que podem nem fazer uso dos links. Por isso não são linkart. Na maior parte dos casos, privilegiam-se as imagens, os elementos que mexem e que piscam, as letras em labaredas, as frases que correm à frente do rato e o fintam, mas a arte, seja linkliteratura, seja linkpintura ou linkmúsica, se existe, ainda a não descobri. Com a designação de ciberarte também figuram obras minhas no ciberespaço, porém só uma, “A Árvore de Links” (10), merece ser classificada como linkarte. As outras são apenas textos editados online como podiam estar editados em papel, ou ter sido passados para vídeo ou filme. As imagens, feitas na maior parte a partir de digitalização directa de objectos, nada perderiam transpostas para outro suporte. Por consequência, não são linkarte, tal como a desejo praticar e promover. Uma infinidade de programas e produtos podem ser comprados ou adquiridos gratuitamente para ajudarem a construir webpages, mas o excesso tem reverso da medalha. Os profissionais cingem-se aos clássicos Arial ou Times New Roman e usam pouco elemento que pisca e que mexe; além de preferirem ser discretos, a maior parte dos pcs não tem capacidade nem para abrir uma web, quanto mais para dar a ver páginas sofisticadas. Por isso, os sites que apresentam grande arsenal de efeitos especiais são acusados de elitistas. De outra parte, pondo de lado as rotinas informáticas, às vezes muito desanimadoras, o que o artista tem de saber bem reduz-se a três segredos que vou revelar, advertindo porém que o facto de os ter descoberto não faz de mim um mestre. Por enquanto sou uma aprendiz. Primeiro segredo: as tabelas As tabelas são aquelas quadrículas em que encaixamos frases, imagens e algarismos. Diferentemente da televisão, em que vemos todos as mesmas imagens, seja o monitor grande ou pequeno, aquilo que vemos no ciberespaço depende das polegadas do écran, da capacidade do pc e dos programas que instalámos. O que vemos depende também dos caches conservados nos cookies e nos Temporary Internet Files: acontece com frequência vermos não uma página actualizada, não o que está online, sim o que já esteve, e ficou conservado na memória do nosso pc, quando se trata de um site a onde vamos regularmente. Para termos a certeza de que não estamos a ver memórias do que já não existe, temos de deletar primeiro o conteúdo daqueles directórios. Se a imagem varia consoante o receptor, o webmaster tem de fazer opções em relação ao público, optando em geral por escalas médias, para a página ser vista pela maioria das pessoas. Para isso usa tabelas, que delimitam o espaço ocupado no écran por cada um dos elementos gráficos. As tabelas são matéria que exige muito treino e precisão, têm de ter os pixels exactos ou o resultado pode ser catastrófico. Nas figuras 1 e 2 vemos um trabalho do webmarshall Magno Urbano, que exemplifica a necessidade das tabelas, no caso para unificarem os vários elementos do logotipo da sua página, Efeitos Visuais (11). Magno Urbano é também um dos autores que melhor conhecem os programas Flash, embora o não use nos seus sites. Além de co-autor de "O Guia Prático do Macromedia Flash 5" - Edições Centro Atlântico, Lisboa, 2001 (11) -, ganhou no ano passado o primeiro prémio do concurso Flash 2000 com um trabalho sobre poemas de Fernando Pessoa (12). Uma das técnicas de Magno Urbano, consultor e operador do sistema do TriploV, além de co-proprietário da Dois Pontos Internet, empresa na qual o site está hospedado, consiste em fatiar as imagens, isto é, em cortá-las em pedaços, que depois têm de ficar unidos de modo a que não se percebam as linhas de corte, como se vê na figura 1-2. A imagem fatiada desanima os larápios : além de não saberem que terão de copiar três ou quatro imagens, só com muita perícia as conseguiriam juntar outra vez.
Quando o webmaster vê noutro browser as frases desalinhadas e os ícones a metros de distância do texto, não pode corrigir, porque esses modos de ver são só de leitura. Só a experiência permite medir o desespero implícito no que digo. Um dos conselhos dados a quem faz homepages é a de as ver no maior número possível de browsers. Na secção FAQ da página de David Michalczyk (4), menciona ele, entre o harwdware e software utilizado, que tem 19 browsers. Isto dá a ideia da variabilidade da mancha e da relativa cegueira em que de facto o artista trabalha. Quem usa o ciberespaço apenas para navegar, achará bizarro que considere o domínio das tabelas um dos três pontos fundamentais da linkarte. Porém a verdade é esta: sem tabelas não há arquitectura e sem arquitectura não há catedral. Para o artista, elas são um fio de Ariadne a balizar o caminho, impedindo que a terceira linha de um texto salte para o último lugar e que uma colagem de ícones desabe numa hecatombe de imagens. Como diz Magno Urbano, quem domina as tabelas é senhor do mundo. Segundo segredo: o sistema de navegação Se as tabelas balizam a via, encaminhando o artista em cada um dos documentos, os links funcionam como hermai ou como as conchas nos edifícios situados ao longo da Estrada de Santiago - conduzem o cibernauta na sua peregrinação. O caminho do ciberespaço é feito de link em link, de aposentos em aposentos e de pousada em pousada. Mas não falo para aqueles que apenas peregrinam, sim para quem concebe o caminho que outros hão-de percorrer dentro de uma catedral. À planta do templo, ou mapa do percurso, dá-se o nome de sistema de navegação. A nave central é a página do index, a partir da qual se geram as hierarquicamente dependentes dela. O sistema de navegação serve para saber que documentos devem ser hiperligados uns aos outros, de modo a traçarem a via. Tem de ser concebido de início, ou não conseguimos depois colar os documentos, de modo a ficarem acessíveis ao visionamento. Enviamos as páginas, elas acumulam-se no servidor, mas como faltam as hiperligações, no monitor não aparece nada. O sistema de navegação permite percorrer os compartimentos de uma catedral ou sair dela para outro templo. Não é possível obrigar o cibernauta a fazer a peregrinação que lhe propomos, ele goza de livre arbítrio, por isso pode sempre bazar ou desligar o pc. Mas o que o arquitecto pretende é que o cibernauta, uma vez entrado na sua capelinha, só saia dela para ir dormir, e que volte ao menos uma vez por semana para ver as novidades. É preciso assim que o sistema de navegação proporcione uma visita a sites aliciantes, e é sobretudo preciso que os links estejam activos, ou uma das consequências é o error 404 - documento não encontrado. Outra: o visitante, decepcionado, não volta. Terceiro segredo: o link A hiperligação é um endereço de Internet ou e-mail atribuído a uma palavra, frase ou imagem. Uma vez seleccionado com o rato o segmento que contém o endereço, o documento correspondente é carregado no nosso pc. Se a direcção falta, não existe link nenhum. Mais simplesmente, as hiperligações são referências em linguagem digital, não podendo por isso conter erros. As referências desta comunicação são constituídas apenas por links. Quando for editada online, quem quiser visitar as webs que mencionei só terá de clicar neles com o rato. Oxalá não apareça indicação de error 404 - a web pode já não existir no ciberespaço.
Estima-se que estão publicados na Internet 25 biliões de webs. Numa página, por pequena que seja, há sempre dezenas ou centenas de links, internos e externos (Fig.3). À escala da longevidade humana, o número total de links que podemos clicar no ciberespaço é por isso infinito. Esta dimensão de infinitude exige uma pausa para reflectirmos. É verdade que a maioria dos links nos levam para webs de palavra morta. Mas o ciberespaço tem dimensão planetária, e se nele vem à ponta da língua a palavra Infinito, outra palavra, muito perdida fora dele, ali é possível reencontrar, quanto mais não seja na possibilidade da infinita peregrinação em busca do nosso semelhante. Ela está lá, de link em link vamos passando muitas vezes por ela, é a palavra que designa o destino maior de qualquer questa. Que palavra é essa não o direi, por agora só vos digo adeus. Referências (1) http://ufp.pt/units/cetic/cetic/barbosa.htm
De facto, alguns dos links das referências já não funcionam, ou porque as moradias para que apontavam desapareceram do espaço, ou porque o espaço que ocupavam tem agora novos inquilinos. Então, a acrescentar aos três segredos para a boa ciberarte, há mais estes, que são de cariz funcional:
a) É preferível juntar as obras num único espaço, em empresa de hospedagem, que garanta que o sistema vai manter a web no ar, ainda que isso fique um pouco dispendioso.
b) Para a web ter boa divulgação, e público que a visite a partir de pesquisa, é preciso fazer o Submit it - registá-la nos motores de busca.
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