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Estela Guedes:

Diário de Lilith

 

 

 

SEGUNDO DIA - As quintas

Podiam ser sextas ou sábados,
As quintas que se empoleiram nos socalcos
Em uma e outra margem do rio…………………………
Foges com o rabo à seringa……….........
Não chegas à catarse, Lilith.
Ou estarás a guardar para a boba
O pus, o enxofre e a bílis?

Telefonou de Cádiz
O Enrique Wülff
A agradecer-te o “a_maaar_gato”
E a perguntar se tens mais poemas sobre
Budismo……………………………………………….

Lilith!.....................................
Tens de aprender a subtrair-te à dor
Sem passar pelas técnicas
De eliminação do desejo
Próprias do budismo!

O budismo, Enrique, constitui
Uma referência, vinda
Da árvore, a Figueira-dos-pagodes,
Ficus religiosa, sob a qual, reza a lenda,
Buda recebeu a iluminação.

A boba, a Miguéis, em cuja boca
Tens de pôr sapos e ratos
Com a força vicentina
De um pranto da Maria Parda.
Embebeda-a, Lilith!
Embebeda a Miguéis………………………………..

Não, não precisamos de estimulantes, drogas,
Álcool, violência, chicote na espinha,
Pimenta, noz moscada e canela, não
Precisamos de nada disso,
Somos excitantes quantum satis,
E do que somos nos alimentamos e inspiramos.

Reis pedófilos pederastas
Por baixo de histórias de amor eterno
Lindas como vogar num barco de seda no Adriático
Com chamas erguidas no veludo nocturno
Feitas da cabeleira de Inês

Reis boçais príncipes gagos
Com maneiras brutais
E gosto pelo assassínio
A que chamam justiceiro

Os caldeirões de Pêro Botelho
Aguardam a Miguéis
Para a cozinhar com arroz de Pedro
Inês e Afonso IV

 
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