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SEGUNDO DIA - Jardins suspensos |
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Respira, Lilith. Respira fora do colete-de-forças dos obsessivos pensamentos. Essa ira que vai e volta, essas palavras mastigadas, engolidas, regurgitadas e de novo nos dentes, como raciocínios de bovino. Olha os peixes, de boca aberta. Essas tainhas, se te apanhassem na água, chamavam-te um figo. Distrai-te, fixa a mente em qualquer ponto inócuo, os peixes? Pronto, seja, medita nos peixes. Os mais comuns no rio, outrora, eram as bogas, os escalos, os muges e as enguias. Constituíam parte substancial da dieta das populações ribeirinhas. Ouviste a rã? Lilith, na noite acenderam-se as estrelas e o ar escalda. Ouve-se um fragor ao longe, vamos ter tempestade.................. Outras espécies subiam o Douro para fazerem a desova, caso do sável e da lampreia. Não tentes pôr as mãos na água! Esses peixes de boca aberta estão mortos por te ferrar uma dentada! O ar avinha e baixa, esse tecto de uva mourisca. Um rasgão no negrume anuncia o raio, baixa a cabeça, Lilith, baixa a cabeça, ele dirige-se para aqui e estala já o trovão como se estivesses em África no vórtice de um tornado. O esturjão também aparecia no rio. Com as ovas confecciona-se o caviar. Hoje o rio é pasto de tainhas e de turistas. Dos dois lados, pendem, como jardins suspensos, bardos sobre bardos sobre bardos de malvasia fina. |
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