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Estela Guedes:
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PRIMEIRO DIA - Espinho
antes do nome repete Eco
e antes do Espinheiro ouviríamos a história
de Rosa de Carvalho, mais as Chioglossa, se tu a contasses.
Em Espinho bate o mar. Em Espinho marulham ondas atlânticas.
O mar branco e azul, o salso mar, o odre marítimo, Armando,
Armando Nascimento Rosa, o “Odre Marítimo” é teu...
Ensopado de lembranças com coentros,
caldeirada de referências.
O Valmir, o Carbonário, não quis ir a Espinho
apesar do desejo de conhecer a terra de sua mãe Negrusca.
Que outro desejo maior do que esse o impediu?
A salamandra não é controlável...
A praia branca, o casario moreno, o mar enorme,
e o casino, na orla do Atlântico, de seixos e conchinhas
coalhado, à Camilo. Também ele é horizonte, duplo.
Não tires partido da excepção, Lilith.
É muito perigoso aguentar a diferença na consciência dos outros.
Procura a régua, o esquadro e o compasso,
e alinha-te pelo nível dos próximos.
Um passo em falso e condenam-te à morte.
Não tires partido da excepção no alheio,
embora percas belas histórias.
É perigoso.
Naturaliza o que poderia elevar-te aos olhos dos outros, Lilith.
Como se nada fosse, não, não tem importância, é natural.
Sim, claro, nada de mais falso que o natural. Mas tens de sobreviver
na selva das vinhas.
O Walmir não quis ir a Espinho porque preferiu ir a outro lado.
E andaste com ele, o grande chefe da Maçonaria Florestal Carbonária,
pelos restaurantes da Ribeira do Porto e pelas sapatarias de Braga.
Naturalizas o que para outros é mítico, um Caminho de Santiago
perfeito!
Mal sabes quão mito és tu, Lilith das calças cearenses.
Tu a fazer de guia ao Carbonário, tu a levá-lo pelas estações
de pedra da Via Láctea, parando a uma porta 33
de um prédio em Guimarães,
onde outrora se reuniam os membros da Carbonária Portuguesa!
Abelha Mestra, chama-te a Eugénia Vasques.
Abelha Maia...
Naturalizas o excepcional, o miraculoso, desmitificas tudo!
Lilith, para subires ao tejadilho do autocarro
precisas de admitir que
ao menos nasceste noutro mundo
para muita gente...
Entendes?
Eles acreditam que nasceste no Reino de Ys, como Isabel,
a Rainha Santa...
Para além do pinhal vê-se água azul-marinha,
para além do pinhal grita gente.
Para lá do mar salgado
atravessam-nos rios de água ardente!