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A propósito da obra de compilação de Armando Rica & Fernando Cabral, "Ilustres de Lamego", para já desejo manifestar a alegria que senti ao ver-me incluída na lista (1), não só por ombrear com personalidades e personagens tão notáveis como D. Egas Moniz e a princesa Ardinga, mas sobretudo porque é muito gratificante sermos reconhecidos entre os mais próximos, na nossa terra - Britiande, no caso. Depois, quero manifestar solidariedade com os autores devida ao facto de a tarefa de reunirem umas centenas de pessoas nascidas na região ser muito difícil, sobretudo na época actual. A partir do momento em que a teoria literária relega o papel do autor para segundo ou terceiro plano, por volta dos anos 60, a biografia e áreas históricas confinantes entram em declínio, tornando áspero o trabalho de saber quem é quem - em muitos casos, essa informação não é divulgada nos canais por onde circula a informação literária ou histórica. Só com o advento da Internet se começa a reagir contra a tendência para dissolver a figura do autor, notando-se de novo o interesse pela biografia e contextualização histórica da obra de arte. Por isso este livro, como qualquer outro da mesma índole, que visa erguer biografias dos naturais de dada região geográfica, apresenta insuficiências e lacunas. Estes trabalhos são por natureza incompletos. Porém o levantamento de Armando Rica e Fernando Cabral é já uma fonte de informação valiosa para obras subsequentes, e um instrumento de consulta muito útil para a Câmara Municipal de Lamego, que o editou, e para outros interessados. |
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Na casa de Pinheiro da Rocha, em Britiande, se bem que fechada quando ele não estava, havia uma dependência, à direita da escada, no rés-do-chão, que funcionava como câmara escura. Ali o artista revelava e ampliava, passando para papel as suas criações. Retratista com garra, amante de fotografar belas mulheres, Manuel Pinheiro da Rocha deixou fotos dispersas nas mãos de familiares e amigos. Segundo a minha mãe, Preciosa de Jesus Pinto, várias vezes sua modelo, como revela a foto em cima, ele não retratava qualquer um, e mostrava-se criterioso na oferta de cópias das suas obras. Foi ele quem fotografou o casamento dos meus pais, tendo as cópias constituído a sua prenda de casamento. Note-se que se trata de um artista, não de um fotógrafo profissional - ele não se fazia pagar pelo trabalho, e é de crer que a foto de casamento, não só banal como género destituído de valor estético nos dias de hoje, seja, no conjunto da obra de Pinheiro da Rocha, muito rara. Além daquela que mostro abaixo, figuram mais duas no directório que abri para o artista no TriploV, gentilmente cedidas para este efeito, tal como as outras, pela minha mãe, a quem agradeço a boa vontade manifesta em colaborar neste trabalho, não só com as imagens como com as informações (3). |
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Embora Manuel Pinheiro da Rocha tivesse, pelos vistos, a noção do seu alto nível artístico, e por isso cuidasse em não banalizar a obra, creio que talvez seja possível reunir um pequeno lote de fotografias em Britiande e Lamego, se alguém se dispuser a fazer uma exposição não muito ambiciosa. Para mais altos voos, haveria necessidade de recorrer ao espólio, conservado no Centro Português de Fotografia, o que implica burocracia e despesas, sobretudo se fosse preciso utilizar os negativos. Grande parte das pessoas fotografadas, pelo menos em Britiande, ainda estão vivas, ficariam felizes ao reverem-se na época de juventude ou infância. Lamego ganharia em divulgar a obra dos seus artistas, e o mundo ainda mais ao tomar conhecimento dela. No desejo de contribuir para revelar o nosso património a quem o não conheça, deixo em baixo mais duas fotos. Dizem respeito ao próprio artista, a primeira é dele, a segunda não é certamente. Na primeira, vemos cinco meninas: são filhas de José Pinheiro da Rocha, irmão do fotógrafo, exceptuando a mais crescida do meio, Cilinha, que também é sobrinha, mas filha do seu outro irmão, Genésio; e exceptuando ainda uma das mais novas, de laçarote na cabeça, que sou eu. Na imagem do meio, o homem das mãos cruzadas, à direita, é Manuel Pinheiro da Rocha, que a minha mãe classifica como tendo sido um belo homem, que não deixava indiferentes as jovens. O garoto de mãos nos bolsos, à esquerda, é o seu filho Fernando; a menina com gorro branco na cabeça é a minha tia paterna, Clotilde Guedes Almeida. A que está ao seu lado esquerdo, com fato regional, é a Bebé, filha do senhor Melo, de quem Pinheiro da Rocha era amigo íntimo. Nas mãos da família Melo é possível que se conservem fotografias dele. Esta foto é um postal ilustrado, com autógrafo do artista no reverso, enviado ao seu filho Fernando, o mesmo menino que figura no grupo. |
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Falei apenas de retrato, o género mais passível de ser guardado de geração em geração pelos familiares dos modelos. Conta no entanto a minha mãe que Manuel Pinheiro da Rocha saía muitas vezes de casa com o tripé às costas, tendo por destino a serra e o campo, pelo que é de esperar que exista muita paisagem desta zona duriense no espólio do artista. | ||||