MARIA ESTELA GUEDES
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Alberto Miranda é o mais incomum da Incomunidade, "projecto apoiado por inconclusões. Apesar da reminiscência activa os ácidos para a abertura das células refractárias. Sempre que pode Sai Disto e Vive ao Ar Livre". Honro-me de participar, de ser tida por, de ouvir dizer que A Estela Está Nisto desde. O mentor é Alberto Augusto Miranda, espelho em profundidade dos nossos tempos, que, de profundidade, à tona do dizer vão não vai além da espessura da epiderme (Lacan). Por isso também, e sem querer comparar o incomparável, os do Gato Fedorento. Também eles, numa repetição típica de "Borbotom", que é a típica repetição de quem ensaia e não chega a ouvir os aplausos do público, dizem assim. Nada. Mas muita palavra. Com esta diferença: o dizer nada da Incomunidade é metamórfico, revoluto, dá a volta à vida, por isso não é vazio. Mas podia ser, os incomuns estão-se nas tintas. Porém a linguagem não permite. Quando em assunção dramática, caso de em Borbotom, por mais que queiram, as palavras-personagens não conseguem ser vazias nem falar com os seus botons. Existe uma impregnação semântica na linguagem que deve ser da ordem do hereditário, coisa de genes, por isso a linguagem deixa-se falar e fala-se independentemente de um autor que assine ou desassine ou mesmo um autor que assassine, como em vermelha rubrica acontece em poema de Herberto Helder. É uma peça de teatro inconclusa, imprincipiada, sem Alfa nem Ómega, onde por conseguinte nenhuma das figuras pode dizer: "Eu sou o princípio e o fim". Chegam do abismo, das margens, das loucuras e dos frenesis de uma arte que nos olha com o seu olho crítico, e que nós olhamos com o nosso olhar censório. Entre os dois olhares, não parece que haja encontro nem salvação. No máximo, entre os dois que passam, ela, a Arte, com a sua desdenhosa e longa boquilha, e ela, a Sociedade, com a sua quadrícula de ferro forjado nas paredes, haverá um "Salve-a Deus!". A inconclusão dos projectos sociais, dos grandílocos projectos políticos, e o abismo aos pés. Sempre detestei projectos por não passarem de manifestos No Future. Nos 10% do que sonhamos residem eles, os ditos produtos dos projectos, vamos supor, um projecto de quatrocentos mil euros apresenta um livrito como resultado, eis o que caga a montanha, melhor dizendo, a montanha que não consegue parir mais do que um rato. E há o reverso da medalha, o rato que vai parindo montanhas, sem ver um cêntimo de patrocínios, subsídios estatais, assim nós, os Incomuns, demasiado preguiçosos às vezes para pedir, a Burocracia, ah!, a D. Burocracia é uma velha sacana a quem não apetece pedir contas. Nesta peça em Borbotom, que borbulha e de que correm borbotões do que quiser, as personagens são pessoas e coisas e factos como as árvores de Monsanto e os nossos amigos Incomuns, são eles os dialogantes. Aí encontramos os habituais frequentadores dos filo-cafés, acontecimentos sócio-poéticos de invenção albertiana, em que tudo pode acontecer, desde a cègada ao golpe de génio. Eis alguns deles, os que conheço, semeados entre os poetas da Galiza e os do Mundo: o Henrique Dória, o Nuno Rebocho, o António Cardoso Pinto, o Alexandre Teixeira Mendes, o Aurelino Costa. Também se passeiam pelo TriploV, garantindo, como em Borbotom, que é preciso resistir. É preciso resistir, Alberto. Tens génio, o teu génio merece sobrevivência. |
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