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MARIA ESTELA GUEDES
Foto: Ed Guimarães |
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Maria Azenha em trânsito de
signos
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In: Ana Maria Haddad
Baptista, Rosemary Roggero & Ubiratan d’Ambrosio (orgs), Signos
artísticos em movimento.
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Estou na página.
neste falso regaço materno
neste assombro de
navegar e dar a volta ao mundo
da maneira mais
estranha.
Maria Azenha, De amor
ardem os bosques
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PREAMBULUS |
Maria Azenha
(Portugal), figura iluminada entre os poetas contemporâneos da nossa
língua, conta com umas dezenas de títulos publicados, desde o primeiro,
Folha móvel, em 1987. Dois dos mais recentes sairam no Brasil, Num
sapato de Dante e A casa de ler no escuro. Os leitores
interessados também podem aceder ao portal Triplov, em
www.triplov.com, onde encontram bastante trabalho -
poesia, ensaio e pintura - a documentar a sua personalidade multifacetada.
Se a quiserem ouvir dizer os seus poemas, no YouTube encontram ilustração
necessária.
A pintura merece
um aparte. Não referindo as exposições em que tem participado, as artes
plásticas estão representadas no currículo literário de Maria Azenha por
ser autora de textos em livros de pintores com os quais estabeleceu
parceria. Isso acontece em Symbolos, de Valdemar Ribeiro, e em
De Camões a Pessoa: a viagem iniciática, assinado por Ellys.
O tema dos signos em movimento aponta
imediatamente para a escrita. Não será esta movimento dos dedos que
manuscrevem ou teclam, movimento de carateres a organizarem-se em
palavras, palavras a organizarem-se em frases, frases a organizarem-se em
poemas no papel ou no monitor do nosso portátil?
No entanto, a deteção de vetores nesta linha
de pensamento não se completa aqui: na arte da grafia, seja manuscrito ou
texto impresso, os carateres e as palavras também sofrem mutações, por
isso movimentam-se. E é preciso contar com a oralidade, esta, agora, quer
em referência, tratando-se de livro, no qual surge no interior dos poemas
(em segmentos dialogados, p. ex.), ou então apreensível pelo ouvido o
movimento dos sons, como acontece quando declama.
Então teríamos, como primeiro ponto deste
contributo, a análise dos signos relacionados com a escrita, em Maria
Azenha, cientes de que tal implica uma tendência típica da modernidade,
que é a de o texto refletir sobre si mesmo. Por outras palavras, a
modernidade, ao ver-se ao espelho, estipulou que um dos seus carateres
diagnosticantes, ou um dos seus elementos de identificação, seria a
metalinguagem que, no caso, é metapoesia. Porém, o prefixo “meta” não fica
limitado a perquirições físicas, numa escritora em cuja obra o “Além”
comporta várias dimensões espirituais. A maior parte dos seus poemas
revela sinais muito fortes de misticismo, disso sendo um dos mais claros
exemplos o livro O último rei de Portugal, rei esse que não
coincide de modo nenhum com o monarca imediatamente antecessor da
República Portuguesa, D. Manuel II. Neste caso, a movimentação dos signos
corresponde ao pensamento e também à Fé, quer no plano religioso quer
esotérico.
Temos sempre de deixar de lado as veredas,
quando os pés fogem para o conforto das estradas largas. Basta atentar em
alguns títulos de Maria Azenha, para se verificar o quanto o movimento os
atravessa: Num sapato de Dante, a viajante desloca-se na Divina
Comédia; n’ O coração dos relógios, o andamento dos ponteiros
revela o que é afinal o movimento, enquanto princípio da Física, e o lugar
é bom para informar que a autora foi docente universitária na área da sua
formação académica, a Física e a Matemática. A chuva nos espelhos
mostra um movimento da Natureza; Folha móvel, que tanto refere a
folhagem vegetal como o papel em que o poema se escreve, fala precisamente
dessa movimentação dos signos quando produzem carateres que se vão ligando
uns aos outros; De Camões a Pessoa explicita em subtítulo o tipo de
movimento que leva do Camões de Os Lusíadas ao Fernando Pessoa da
Mensagem: “a viagem iniciática”. Como já referi, o autor deste
livro não é Maria Azenha, sim um pintor que se identifica apenas com o
nome simbólico Ellys. Maria Azenha contribui com a matéria escrita,
no espírito da História de Portugal esotérica.
Cumpre entretanto esclarecer que a temática de
Maria Azenha vai do menor quotidiano ao maior incidente político e à
catástrofe mundial: ela está muito atenta ao movimento cívico, à guerra,
aos resultados desta, em especial migrações forçadas que são pretexto para
genocídio. A autora milita em obra social que lhe forneceria, caso
precisasse, um manancial de casos excruciantes para tratar em literatura.
Aliás, vendo bem, por a sua experiência da desgraça ser grande é que no
extremo a poesia tende para o messianismo, a que na mística portuguesa
corresponde a crença na vinda de um rei salvador, D. Sebastião.
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O POEMA É UM AUTOMÓVEL |
Do outro lado do
estacionamento
a luz insiste
na mala impenetrável
do poema
Aproximam-se
algumas fardas de
polícias,
- os cães à vista –
Temos apostado
erradamente o alvo.
Maria Azenha, A casa
de ler no escuro
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O poema em epígrafe, intitulado “Ameaça”, no
índice do mais recente livro de Maria Azenha, não podia ilustrar melhor o
tema dos signos em movimento, ao transferir para o automóvel a sua
identidade. O poema é um automóvel, dispõe de porta-bagagem, eis o que
significa a mala a abrir pela Polícia num parque de estacionamento. Logo,
o poema desloca-se, engole quilómetros, causa distúrbio, ao atrair a
atenção dos agentes de segurança pública. Resta saber quem ameaça: se a
Polícia, com a prisão, se o conteúdo subversivo na mala do poema.
Não é entretanto o automóvel o veículo mais
tipicamente metaforizador do poema, sim, nos livros de caráter místico,
como O último rei de Portugal, a nau e a caravela, representantes
dos novos mundos que as navegações portuguesas deram ao Mundo.
De modos vários se verifica a movimentação
dos signos, na generalidade das nossas experiências quotidianas, e bastará
interrogar os livros de Maria Azenha para acharmos ilustração disso.
Ou porque passamos de comboio e os letreiros vão fugindo para trás, ou
porque nos deslocamos nós com uma T-shirt que publicita qualquer empresa,
banda de música ou evento, ou porque entramos em relação intertextual com
outro autor, o que é muito frequente em Maria Azenha, seja este o exemplo:
“Aqui há ladrões e fantoches./ Alguém representa o papel de führer” –
exclama ela, no poema “Tempos difíceis” (A casa de ler no escuro).
Voluntária ou involuntariamente, a autora vai ao encontro de Hannah
Arendt, para quem Eichmann era um fantoche, trazendo à tona a sua tão
debatida teoria da “banalidade do Mal” que contribuiu para lhe celebrizar
a obra filosófica. O Mal não é atributo de pessoas excepcionais, pode ser
protagonizado pelas criaturas mais banais e insignificantes, fantoches
manipulados por quem se referirá mais tarde como superior responsável. Foi
exatamente o que em Nuremberga aconteceu com Eichmann, ao explicar aos
juízes que se limitara a cumprir ordens superiores ao mandar matar
milhares de pessoas.
O tema do Mal, em modalidades variadas,
entre elas a do Holocausto, e mais recentemente as migrações forçadas que
têm atormentado a Europa e o Médio Oriente, ocorre regularmente nos livros
de Maria Azenha.
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O POEMA É ANDAMENTO MUSICAL
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É muito sensível, na lírica da autora, a
oralidade. Neste ponto, cumpre informar que ela declama habitualmente os
seus e versos estranhos. A sua presença como diseuse, em lançamento
de livros e em tertúlias, é tão familiar como a de poeta.
A oralidade manifesta-se entretanto no
interior dos textos, quer por recurso ao mais óbvio discurso direto, quer
pelo mais críptico uso de discurso coloquial. Este falar corrente aparece
até em situações das quais, mesmo metafóricas, esperaríamos mais pompa e
circunstância, por se tratar de diálogo com criaturas do sagrado. Tal
acontece no livro Nossa Senhora de Burka, em que se relata uma
visita da santa homónima. Eis a primeira parte do poema:
Nossa Senhora de Burka
vi nossa senhora bater-me à porta
apanhou-me de surpresa
julguei que era a porteira àquela hora da
manhã
eu estava de robe e de chinelos chineses
a escrever versos que me doem tanto
já pensei até deitá-los fora atirá-los todos
para o mar
vê-los navegar fazer deles caravelas como
antigamente
iam por aí sabe-se lá aportar onde
mas àquela hora quem me apareceu
foi nossa senhora de burka
fiquei espantada que havia de dizer
perguntei-lhe se queria entrar delicadamente
eu estava a escrever versos para fora da
gaveta
com palavras bravas e escandalosas
ela disse que sim que vinha para ficar
andava à procura do filho que perdera
há mais de dois mil anos
[…]
Voltando aos meios pelos quais o poema se
apresenta como oralidade e andamento musical, ele pode ser música e muito
concretamente fado. No CD O mar atinge-nos, Maria Azenha declama a
sua poesia fazendo-se acompanhar pela guitarra portuguesa, tocada por
diversos instrumentistas. Bastava a presença da guitarra portuguesa para
nos situarmos no coração do fado, quer coimbrão quer lisboeta. Maria
Azenha nasceu em Coimbra, o fado pertence à tradição estudantil das
serenatas. É operático e cantado só por homens, ao contrário do fado
lisboeta. Géneros musicais distintos, o fado de Coimbra aproxima-se
mais da música erudita, o de Lisboa é francamente popular. Algo porém os
irmana, o sentimento.
De facto, um sentimento, característico da
alma portuguesa, a saudade, une os dois fados. Transferido para a
literatura, desenvolveu-se na “filosofia portuguesa”. Avultam nela nomes
de escritores como Padre António Vieira, com a História do Futuro,
Leonardo Coimbra, Sampaio Bruno, criador de O Encoberto, António
Telmo, com a sua História secreta de Portugal e Agostinho da Silva,
estes sobretudo no ensaio, e poetas como Teixeira de Pascoaes,
desencadeador da corrente de pensamento saudosista, e o Fernando Pessoa da
História mística portuguesa impressa nos poemas de Mensagem. O tema
característico do fado e da alma portuguesa é então a saudade que, no
saudosismo aliado ao sebastianismo e ao mito do Quinto Império, pode
transcender-se em saudade do futuro, o tempo em que aparecerá – título de
Maria Azenha - O último rei de Portugal. Não esqueçamos que fado é
o Destino e que a história secreta de Portugal aponta para a vinda de um
Messias, esse, sim, o Rei que há de vir, por isso último, “último” em
dimensão também escatológica, usualmente trave-mestra do sebastianismo: D.
Sebastião, O Encoberto.
A estes e outros filósofos e poetas recorre
Maria Azenha no livro O último rei de Portugal, uma viagem
iniciática que empreende no mais místico dos terrenos literários em
Portugal, quer relembrando acontecimentos notáveis, batalhas, reis,
navegadores, heróis e poetas, em mais de uma centena de textos, quer
deixando-se possuir pelo ritmo e cadência de alguns poemas dos autores
invocados, o que denuncia notável mestria no manejo de métricas, ritmos e
outro aparato da forma fixa e capacidade de superar a voz estranha com o
seu próprio registo pessoal. A título de ilustração, vejamos como Maria
Azenha reescreve à sua maneira “O Mostrengo” de Fernando Pessoa e a
passagem de Os Lusíadas sobre o gigante Adamastor. Começa por
decifrar o título pessoano no dela, “O Cabo das Tormentas”, e esta
descodificação é um complexo movimento sígnico, uma vez que a metáfora
corresponde a outra metáfora, eufemística designação geográfica: Cabo da
Boa Esperança. Apresentemos então o belo texto em que se reescreve o tema,
de que resulta um desfecho original:
O Cabo das Tormentas
Meus dias, uma sombra Além de lá,
Cumprindo o Destino de um mar sepulto.
Disse-me Deus, em sonhos: Deus não há.
Só fantasmas, ânsias. E um mistério oculto.
E o mar em impropérios fez
Continentes,
Vomitou a Terra, o ar e o céu que
atravessou;
E, em vários continentes, d’Oriente a
Ocidentes,
Ergueu, do sonho negro, o Mostrengo que
falou:
- Pois venha o que não Há que é já Império,
O sonho que foi morto é já no ventre. –
E Deus, sem porto, nem sombra nem mistério,
Juntou o mar ao céu. Tornou-se crente.
Rodou o Mostrengo então. Rodou três vezes.
Três vezes mais rodou além de estreme;
E Deus, da velha Nau, daqueles revezes,
Tornou-se Português. Com Bojador ao leme.
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O MISTÉRIO DOS SIGNOS |
Também a semântica se movimenta, de modos vários,
na lírica de Maria Azenha, entre eles mediante a citação, referência ou
desenvolvimento de outros poetas. Acabámos de ver como ela tece, com
Camões e Pessoa, uma rede de sentidos própria. Mas já o simples ato de
pensar é movimento, deslocação de sons e sentidos no tempo, enfim:
oralidade. Nós não pensamos sob modo escrito, sim como fala silenciosa, e
mesmo a declamação, para voltar à Maria Azenha diseuse, com livro
aberto diante dos olhos, é fala e não escrita, isto é, entre a leitura e a
reprodução oral houve um processo de descodificação e interpretação de
signos.
Modo comum de os escritores, e não apenas
poetas, mostrarem a sua singularidade, é agindo no interior da gramática.
Tudo pode ser alterado na linguagem em função de um objetivo criador, que
se torna misterioso para quem lê: fonética, morfologia, pontuação,
intrusão de desconhecidos sinais gráficos, sintaxe, semântica. Se as
referências poéticas recuam à Idade Média, por exemplo, a tendência será
para recuperar registos dessa época, como acontece em O último rei de
Portugal, em que por vezes transparecem manifestações da coita,
o sofrimento causado pelo amor, e outras fórmulas linguísticas hoje
anacrónicas. Diversas motivações levam os artistas a moldar o verbo
à sua maneira, e em geral o impulso tem origem na tensão emocional, como
lemos num poema de Num sapato de Dante: “tenho um garfo
atravessado na língua / digo gulher em vez de mulher”.
Na senda de António Telmo, autor da
Gramática secreta da língua portuguesa, a fonética e as letras, tal
como as palavras, são detentoras de significado cabalístico, um valor
semântico que se acrescenta ao registado em dicionário. Vejamos, em De
Camões a Pessoa – a viagem iniciática, um exemplo em que a letra “S”
se ergue no seu estatuto de labareda, para homenagear o navegador Diogo
Cão:
Cumpre o Homem a espada.
Ao alto, o que nele clama.
Em obra tão ousada
Trouxe do padrão o
S
A chama.
No poema inspirado no Infante Dom Henrique,
promotor dos Descobrimentos, de novo ascende o sibilante e
misterioso sinal, no caso para emergir do Santo Graal, como o Sangue
cuja memória o vaso conserva: “Hoje, / Emerge o S da mítica Taça”.
O mistério, em termos específicos, diz
respeito a uma linguagem codificada pelo uso de símbolos cuja
interpretação correta depende do conhecimento da área religiosa ou sagrada
que os avaliza. A cruz, por exemplo, só pode ser interpretada corretamente
numa igreja, se conhecermos a iconografia cristã, e antes disso precisamos
de conhecer alguma coisa da História do Cristianismo. Se à cruz juntarmos
a rosa, ficamos com os dois símbolos mais identificadores da Ordem
Rosa-Cruz.
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VIAGEM NO LUGAR DE QUEM DIZ
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Em Maria Azenha encontramos por vezes uma
linguagem secreta, mensagens ocultas num dizer corrente, manifestas de
várias maneiras, e digo “manifestas” porque o segredo é como um botão de
rosa: abre-se. Então, além de outros exemplos, vemos uma curiosa
manifestação de segredo na autoria (muito discreta, é preciso procurá-la
com lupa) dos textos preambulares do livro verde (digo “verde” porque um
dos nomes da linguagem secreta é “língua verde”, alusiva ao mistério da
floresta), livro verde, repito, intitulado De amor ardem os bosques.
Em aparência, o autor, Mestre na “língua das aves” (ou língua verde…),
preferiu manter-se numa posição velada. Eis um cisquinho do que ele nos
pode ensinar:
«o homem é uma planta celeste, o que
significa que é como uma árvore invertida cujas raízes tendem para o céu,
e os ramos para baixo, para a terra».
Em diversos poemas a autora declara
chamar-se “Maria” em tom de desafio, enfrentando a própria mãe com um nome
que não é o do batismo. Como se o nome escolhido fosse uma arma, e forçoso
então será interrogarmo-nos, porque nomes simbólicos como “Maryah”
identificam o iniciado em determinado ritual, mas não detêm poder
agressivo, a menos que encaremos a hipótese de que um ritual diverso do
familiar, num país maioritariamente católico, corresponde a uma ruptura
com o costume, a um movimento de dissenção e desafio.
Não obstante a vivacidade destes elementos
no interior do poema, é talvez mais inquietante ainda outro modo de os
antropónimos dialogarem entre eles e connosco, caso da irrupção de um
alterego n’ A sombra da romã. Maria Azenha assina o livro, mas
outra entidade surge como autor, movendo a poetisa a interrogar-se, no
texto preambular:
“Afinal quem sou?”.
Chama-se a entidade Samuel Prado, nome com
ressonâncias bíblicas de uma parte, e da outra campestres, bem ao gosto
jardineiro da autora, cuja obra se encontra semeada de rosas. Samuel Prado
é o enunciador dos poemas, muito curtos (em geral dísticos, não
ultrapassam outros os cinco versos). Essa personagem tem por única tarefa
a adoração da Amada. Totalizam cinquenta e um belíssimos micropoemas que
nos trazem à memória e ao ouvido o Cântico dos Cânticos e por isso
Herberto Helder também, pois este verteu para a sua linguagem a de
Salomão:
14
Volta, Amada, não suporto mais a solidão das
águas.
Um demente espia o meu coração.
~~~~
33
Amada, levaste-me a beijar a boca de Deus.
E fiquei louco.
~~~
34
Um diamante aflora às jóias do firmamento
É a minha Amada nos braços fulminantes da
noite.
Risoleta Pinto Pedro assina o
posfácio de A sombra da romã, no qual fala da Árvore da Vida. Com
ela termino a minha jardinagem nos vergéis de Maria Azenha: «Cheguei
à última página. Regresso ao início. Mas agora, só eu e os bagos da romã.
Digo, os jardins e suas sombras».
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OBRAS DE MARIA AZENHA REFERIDAS
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- Folha móvel.
Lisboa, Edições Átrio, 1987.
- O último rei de Portugal.
Lisboa, Fundação Lusíada, 1992.
- O coração dos relógios.
Lisboa, Editora Pergaminho, 1998.
- Poemas ilustrativos de Maria Azenha
em Valdemar Ribeiro, Symbolos. 2001.
- Nossa Senhora de Burka.
Coimbra, Edição Alma Azul, 2002.
- Poemas de Maria Azenha em Ellys,
De Camões a Pessoa – a viagem iniciática. Lisboa, Sete Caminhos,
2006.
- A chuva nos espelhos.
Coimbra, Editora Alma Azul, 2008.
- O mar atinge-nos. CD.
Portugal,
estudio@metrosom.web.pt, 2009. Poemas ditos por Maria
Azenha com acompanhamento à guitarra portuguesa de Octávio Sérgio, Manuel
Mendes, Gentil Ribeiro, Armindo Fernandes, Manuel Gomes, António Jorge e
Carlos Ligeiro.
- De amor ardem os bosques.
Edição de Autor. Impresso em Vila do Conde, 2010.
- A sombra da romã.
Lisboa, Apenas Livros, 2011.
- Num sapato de Dante. São
Paulo, Escrituras Editora, 2012.
- A casa de ler no escuro. São
Paulo, Editora Urutau, 2016.
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Ana Maria Haddad Baptista, Rosemary
Roggero & Ubiratan d’Ambrosio (orgs)
Signos artísticos em movimento
BT Acadêmica, São Paulo, 2017
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Índice antigo |
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Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa, do Instituto São Tomás de Aquino
e da Associação 25 de Abril. Directora do TriploV. Membro das
Comissões Interinstitucionais da Academia Lusófona Luís de Camões e do
Instituto Fernando Pessoa - Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas. Nessa
qualidade vem integrando as Comissões de Honra de diversos congressos.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um
bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013;
Folhas de Flandres, Lisboa, Apenas Livros, 2014; dir. CadeRnos
SuRRealismo Sempre, na Apenas Livros. Nessa coleção, "Surrealismo
incertae sedis, 2015".
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário Histórico das Ordens e
Instituições Afins em Portugal, Lisboa, Gradiva Editora, 2010; «A
minha vida vista do papel», in Ana Maria Haddad Baptista & Rosemary
Roggero, Tempo-Memória na Educação. São Paulo, 2014.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira.
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