Ando há muito para desabafar a respeito das
séries policiais do canal Fox Crime, o meu favorito, porque gosto
de policiais clássicos, com investigação de crime e descoberta do
criminoso, com os normativos alibis e motivos. Mas ando muito
saturada de bêbados! Havia um inspetor Morse bem giro, em Oxford,
amante de ópera e que cantava num coro, tudo muito académico e
passado na maior parte dentro da Universidade, mas Morse é um
alcoólico que morre disso.
Depois,
já nem me lembro dos bêbados seguintes.
Tivemos uma Vera,
inspetora na Northumbria, paisagens de campo e mar fabulosas, ela
esperta e capaz de descobrir todos os assassinos, mas não por
causa da garrafa que sempre a acompanhava.
Não sei em qual das
séries apareceu uma cena em que alguém contou 50 garrafas vazias
antes de as pôr no lixo! Ah, sim, quem as contou foi a governanta
do Dr. Baker ou nome afim, médico legista que protagoniza a
série com o seu nome. Esta é australiana, não vou dizer que
Austrália e Inglaterra são países em que os máximos responsáveis
da Polícia se definem como alcoólicos, estaria decerto a atentar contra a
reputação dos sóbrios, mas é aquilo que os argumentistas parece
quererem que nós entendamos.
Agora temos uma série que podia ser
melhorzinha, com um detetive-padre, e até o
raio do padre - um borracho!, passe o considerando, alías
"borracho" em sentido de "homem bonito" - anda a beber cada vez mais
e já cai para o lado podre de álcool! Uma vergonha. Mas a maior
das vergonhas todas é o que fizeram a uma excelente atriz, Helen
Mirren, senhora elegante com belíssima figura! Puseram-na a
chefiar um posto de Polícia em que faz figura de bêbada, num dos
últimos episódios sentada num auditório de Alccólicos Anónimos.
A dado passo, em interrogatório ao "principal suspeito" - título
geral - censura-o, dizendo que está alcoolizado, facto que
percebeu pelo cheiro. E o suspeito replica: «O cheiro a álcool vem
de si!" Se me dissessem que, apesar das fraquezas do argumento,
Helen Mirren ganhou uma data de prémios,
não acreditava. Mas é verdade! Só uma excelente atriz consegue
levantar o copo em tais circunstâncias.
Lamento a falta de imaginação para compor as
personagens e o retrato que a Inglaterra e a Austrália nos dão
das suas instituições policiais.
Se compararmos com as séries de Agatha Christie, quanta
diferença! Há sempre, além de fumadores, fumadoras de longa
boquilha, a denunciarem a modernidade dos tempos. Sim, mas não
há bêbados.
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Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um
bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013;
Folhas de Flandres, Lisboa, Apenas Livros, 2014; dir. CadeRnos
SuRRealismo Sempre, na Apenas Livros. Nessa coleção, "Surrealismo
incertae sedis, 2015".
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário Histórico das Ordens e
Instituições Afins em Portugal, Lisboa, Gradiva Editora, 2010; «A
minha vida vista do papel», in Ana Maria Haddad Baptista & Rosemary
Roggero, Tempo-Memória na Educação. São Paulo, 2014.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira.
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