MARIA ESTELA GUEDES
Foto: Ed. Guimarães
Música: http://triplov.com/letras/mario_montaut/Estela/index.htm

A respeito do sono, uma hipótese

Hoje acordei inquieta a meio de um sonho que me deu uma ideia, uma ideia acerca do sono. Porque é que dormimos? Ninguém sabe. Parece óbvia a resposta: para descansarmos. Mas descansarmos o quê? Não a mente, que afinal trabalha mais intensamente de noite que de dia.

Despertei de um sonho inquietante que me deu uma luz acerca do sono: dormimos para baixarmos o mais possível o grau de atividade física, por isso, sim, nessa ordem de ideias, dormindo descansamos.

O que o sono interrompido pelo inquieto sonho me disse foi que dormimos para não comermos. Aliás, bem o sabemos: se não queremos ficar obesos, comemos algo leve ao jantar e vamos para a cama cedo, pois enquanto dormimos não comemos. Claro que há as cenas patológicas de quem se levanta a meio da noite para devorar uma embalagem inteirinha de bolachas, mas isso são exceções. Por norma, não comemos de noite.

Que animais dormem muito, chegam a dormir meses? Pois, foi isso o que o sonho me trouxe, a imagem dos ursos e de tantos outros animais que hibernam, e hibernam porquê?

Antes da resposta, vejamos o que diz a Wikipédia sobre o que acontece quando se hiberna: “A respiração quase cessa, o número de batimentos cardíacos diminui, o metabolismo, ou seja, todo o conjunto de processos bioquímicos que ocorrem no organismo, restringe-se ao mínimo”.

Hibernação, estivação e enquistamento são modos de os seres vivos sobreviverem ao frio, ao calor, à falta de alimentos e de água.

O sono deve ser reminiscência. Em qualquer era geológica muito antiga, os nossos antepassados sobreviviam a grandes dificuldades, dormindo. É bem provável que no curso da evolução alguns grupos animais anteriores aos Primatas – o Celacanto, depois de ter saído da água e povoado o meio terrestre, quem sabe? – é bem provável que alguns dos nossos parentes não humanos tivessem essa capacidade de hibernar. A civilização, que é uma forma controlada por nós de evolução, foi superando - com aquecimento, refrigeração, conserva de alimentos - as dificuldades, deixámos de precisar de hibernar, mas o sono diário permanece como recordação, exatamente como o ossículo no termo da coluna vertebral, que nos recorda dos tempos em que andávamos nas árvores e precisávamos de cauda preênsil para nos agarrarmos bem aos ramos e não nos estatelarmos no chão da floresta com a cabeça a reluzir de fantásticos pensamentos.

 
 
 
Índice antigo

Maria Estela Guedes (1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov

Membro da Associação Portuguesa de Escritores, da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.

LIVROS

“Herberto Helder, Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979;  “SO2” . Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”, Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa, 1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários : Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora, 1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”. Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007; “Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed. Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010. “Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010; "Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa, Apenas Livros, 2011; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013; Folhas de Flandres,  Lisboa, Apenas Livros, 2014.

ALGUNS COLECTIVOS

"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte. “O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual. Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”. Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009. Entrada sobre a Carbonária no Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal, Lisboa, Gradiva Editora, 2010; «A minha vida vista do papel», in Ana Maria Haddad Baptista & Rosemary Roggero, Tempo-Memória na Educação. São Paulo, 2014.

TEATRO

Multimedia “O Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando Alvarez  e interpretação de Maria Vieira.