Hoje acordei inquieta a meio de um sonho que me deu uma
ideia, uma ideia acerca do sono. Porque é que dormimos? Ninguém sabe.
Parece óbvia a resposta: para descansarmos. Mas descansarmos o quê? Não a
mente, que afinal trabalha mais intensamente de noite que de dia.
Despertei de um sonho inquietante que me deu uma luz
acerca do sono: dormimos para baixarmos o mais possível o grau de
atividade física, por isso, sim, nessa ordem de ideias, dormindo
descansamos.
O que o sono interrompido pelo inquieto sonho me disse
foi que dormimos para não comermos. Aliás, bem o sabemos: se não queremos
ficar obesos, comemos algo leve ao jantar e vamos para a cama cedo, pois
enquanto dormimos não comemos. Claro que há as cenas patológicas de quem
se levanta a meio da noite para devorar uma embalagem inteirinha de
bolachas, mas isso são exceções. Por norma, não comemos de noite.
Que animais dormem muito, chegam a dormir meses? Pois,
foi isso o que o sonho me trouxe, a imagem dos ursos e de tantos outros
animais que hibernam, e hibernam porquê?
Antes da resposta, vejamos o que diz a Wikipédia sobre
o que acontece quando se hiberna: “A respiração quase cessa, o número de
batimentos cardíacos diminui, o metabolismo, ou seja, todo o conjunto de
processos bioquímicos que ocorrem no organismo, restringe-se ao mínimo”.
Hibernação, estivação e enquistamento são modos de os
seres vivos sobreviverem ao frio, ao calor, à falta de alimentos e de
água.
O sono deve ser reminiscência. Em qualquer era
geológica muito antiga, os nossos antepassados sobreviviam a grandes
dificuldades, dormindo. É bem provável que no curso da evolução alguns
grupos animais anteriores aos Primatas – o Celacanto, depois de ter saído
da água e povoado o meio terrestre, quem sabe? – é bem provável que alguns
dos nossos parentes não humanos tivessem essa capacidade de hibernar. A
civilização, que é uma forma controlada por nós de evolução, foi superando
- com aquecimento, refrigeração, conserva de alimentos - as dificuldades,
deixámos de precisar de hibernar, mas o sono diário permanece como
recordação, exatamente como o ossículo no termo da coluna vertebral, que
nos recorda dos tempos em que andávamos nas árvores e precisávamos de
cauda preênsil para nos agarrarmos bem aos ramos e não nos estatelarmos no
chão da floresta com a cabeça a reluzir de fantásticos pensamentos.
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Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um
bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013;
Folhas de Flandres, Lisboa, Apenas Livros, 2014.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário Histórico das Ordens e
Instituições Afins em Portugal, Lisboa, Gradiva Editora, 2010; «A
minha vida vista do papel», in Ana Maria Haddad Baptista & Rosemary
Roggero, Tempo-Memória na Educação. São Paulo, 2014.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira.
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