Se eu fosse o Pai
Natal, saberia resolver os problemas que me afligem a mim, os vossos, os
de Portugal e Europa, os do resto do mundo?
Pode ser que lá no País
das Renas, onde ele nasceu, as escolas e as universidades tenham melhores
programas, professores e alunos, portanto ponham na rua pessoas
competentes para acabarem com a miséria e tudo o que a seguir conste no
rol das desgraças planetárias. Porém em meu entender nada disso basta se
as pessoas não forem honestas. E ninguém nasce bom ou mau, a bondade e a
maldade aprendem-se, como o ABC. Aprendem-se na primeira de todas as
escolas, juntamente com a língua, o seio materno, a família.
Se eu
fosse o Pai Natal, dava-vos a melhor das prendas, uma nova estrutura
social, e com ela um novo paradigma e com este um mundo novinho em folha.
Novo mundo: um mundo sem discriminações, em que ao menos as
pessoas, os políticos, os militares, as instituições importantes como os
bancos, em que todos ao menos cumpríssemos a Constituição e as leis, que
são sempre mais avançadas do que a nossa capacidade de as compreender e
aceitar.
Temos leis democráticas. Sim, mas em casa, quem manda? A
Constituição garante que são iguais em direitos todos os cidadãos, sem
olhar a sexo, género, etnia, religião ou cor política. Sim, sim, as leis
são avançadíssimas, mas quem as cumpre porque as compreende?
Temos
aí um surto de novos fascistas, com mentalidade esclavagista, temos aí
gente corrupta porque discrimina os que toma por parvos, temos aí gente
racista que pergunta, dos António Costa, "O que é que ele é?", temos aí
tipos machistas, que ameçam, mostrando os tomates: "Ai de quem não faz o
que eu quero!", temos aí energúmenos de um narcisismo que destrói tudo à
sua volta para se manterem de pé, temos aí um Natal igual aos outros, com
um boneco a distribuir bonecos, com bonecos a mexerem os membros segundo a
vontade de quem lhes puxa os cordéis.
Se eu fosse o Pai
Natal...
Não sou o Pai Natal nem o Pai Natal, verdadeiro que
fosse, conseguiria mais do que distribuir bonecos às crianças.
Agradeço a vossa adesão à causa TriploV. Tudo o que o Triplov pode é
o que faz: publica, divulga, dá suporte às falas. É uma liberdade que nos
pertence e cultivamos, desde o mais extraordinário ao mais circunstancial
dos discursos, como este de agora, que consiste em desejar-vos
Boas Festas e um excelente 2016
Maria Estela Guedes |
Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um
bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013;
Folhas de Flandres, Lisboa, Apenas Livros, 2014.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário Histórico das Ordens e
Instituições Afins em Portugal, Lisboa, Gradiva Editora, 2010; «A
minha vida vista do papel», in Ana Maria Haddad Baptista & Rosemary
Roggero, Tempo-Memória na Educação. São Paulo, 2014.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira.
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