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Danças com a Pega-azul (Cyanopica cyanus) |
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A televisão é o retrato cultural da nossa época,
maioritariamente virada para o entretenimento, muitas vezes de mau gosto.
Mas há surpresas. Surpresas de cortar a respiração, como me aconteceu
ontem, ao ser obrigada a parar no canal Mezzo, estupefacta com as imagens:
bailarinos dançavam em palco com uma Pega-azul (Cyanopica cyanus,
uma espécie miraculada - emendo: uma espécie relíquia, em Portugal e
Espanha limítrofe, área de Vila Nova de Foz Côa). Depois vieram corvos, aliás as pegas
também pertencem à família Corvidae, gansos, estorninhos, araras e mais.
Fui-me informar. No YouTube, outra caixinha de surpresas, há
fragmentos desse bailado, La confidence des oiseaux, e de outros,
também com animais, do coreógrafo Luc Petton. Vários aspetos merecem comentário: a
originalidade e decerto dificuldade extremas de coreografar animais, pois
acredito que haja muito movimento aleatório, donde os bailarinos terão de
os seguir e não o inverso, improvisando; a extraordinária beleza
dos movimentos e da coreografia em geral; a recusa evidente e obstinada de
um academismo tão hirsuto que ainda usa o bailarino só como bengala da
figura feminina e que só admite esqueletos como corpo; e a vontade de aliar a
arte a ideias ambientalistas.
Luc Petton, ornitólogo amador, está perto da Biologia
do Comportamento, tirou partido de descobertas
patenteadas por Konrad Lorenz, para treinar os seus gansos. A mais famosa
delas foi a constatação de que os pintos, ao eclodirem, se não tiverem a
gansa por perto, adoptam como mãe o primeiro ser que se abeirar deles, no
caso o próprio Konrad Lorenz e, na dança, o treinador dos gansos
bailarinos. Talvez as outras aves se comportem do mesmo modo, ignoro.
Percebe-se que os animais vão à procura da comida discretamente fornecida
pelos artistas.
Luc Petton faz passar para o público a sua convicção de que o Homem não é
o rei da Terra, apenas uma das muitas espécies que a habitam, e que deve
por isso respeitar as outras, enquanto membros, em igualdade de direitos, do superorganismo que nos
habituámos a chamar Gaia. Nem daqui a cem anos esta ideia será assimilada
e posta em prática na sua qualidade de medida salvadora da própria
Humanidade. Há seres humanos rápidos, mas estamos a falar da espécie, e
essa é muito lenta.
A respeito do corpo, a notar que algumas
coreografias apresentam grávidas a dançar, ou bailarinas que simulam
gravidez, e que a companhia de bailado não parece comportar esqueletos
ambulantes, esse horror de montes de ossos associados à beleza, em
especial feminina, que vemos não só nos desfiles de moda, mas também no
cinema e no bailado. Os bailarinos são pessoas de peso normal, alguns que
até diríamos cheiinhos.
Por tudo isto, mais não havendo, era de
esperar que a companhia de bailado de Luc Petton tivesse um auditório
razoável na Internet, mesmo que não fossem os milhões que batem palmas
a quem melhor imita os passos de Michael Jackson ou mais alto salta de
motorizada. Infelizmente, não, na Internet, as coreografias de Luc Petton ainda são
desconhecidas, por isso é certamente uma revelação o que estou a divulgar
aos
triplovnautas. Espero que vão ao YouTube descobrir as coreografias de Luc
Petton com animais... O primeiro teste falhou redondamente: links
para as danças das aves, postos ontem no facebook, hoje ainda não tinham
likes que se gostasse de contar...
Vamos lá, senhores! É beleza em estado puro,
arte de nível superior, inteiremo-nos do que vai acontecendo de bom e de novo neste
Mundo!
Maria Estela
Guedes . Odivelas . 23 de outubro de 2014 |
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Cyanopica cyanus . Pega azul Foto in:
http://www.google.pt/imgres?imgurl=https://c2.staticflickr.com/ |
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DANÇAS COM A
PEGA-AZUL Confidence des Oiseaux,
Luc Petton |
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Confidence des Oiseaux,
Luc Petton |
http://www.youtube.com/watch?v=6Sn_0jV8xXQ |
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Luc Petton, né en
1957, est un
danseur et un
chorégraphe français.
Il est principalement connu grâce à son travail avec les oiseaux, mis en
place depuis 2004, qui lui procure une reconnaissance internationale. Ornithologue amateur depuis de nombreuses années, il utilise,
notamment pour la famille des
anatidae
(cygnes, canards), les techniques d'imprégnation
post-éclosion
développées avec les oies par
Konrad Lorenz dans les
années 1950.
Le spectacle Swan en 2012 lui a valu la récompense du «Talents
Danse de l'ADAMI».
Da Wikipédia |
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Índice antigo |
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Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um
bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário Histórico das Ordens e
Instituições Afins em Portugal, Lisboa, Gradiva Editora, 2010; «A
minha vida vista do papel», in Ana Maria Haddad Baptista & Rosemary
Roggero, Tempo-Memória na Educação. São Paulo, 2014.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira.
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