Poeta de uma delicadeza e hipersensibilidade
femininas, à Camilo Pessanha, Manuel de Castro é um poeta estranho e
extraordinário, de hermetismo declarado, no sentido estrito do termo: o
seu misticismo de cariz oriental deve ter sido obra de contágio com as
culturas da Índia, onde viveu. Mas hermético também pelo gosto de criar
mistérios e dificuldades de penetração no poema, graças a jogos como o
anagrama. De outra parte, contrastante, é tão cristalino como a nossa mais
antiga fonte poética, a poesia trovadoresca.
A edição teve número
de exemplares limitado e não está à venda nas grandes livrarias. Corra a
procurá-lo, é escandalosamente bom, na sua beleza funerária. Vai dar ainda
muito que falar.
Quanto a Mário Cesariny, por generosidade de
António Cândido Franco, saiu um caderno na Editora Licorne com cinco
cartas dele ao poeta de «Agricultura celeste», entre outras obras, algumas
romances de fundo histórico sobre grandes figuras míticas da nossa
História, a exemplo de D. Sebastião e D. Inês de Castro. Além de muitos
outros pontos comuns entre ambos, a que Cesariny faz referência, o grande
elo entre o mais conhecido artista do surrealismo em Portugal e António
Cândido Franco é o poeta do Marão, Teixeira de Pascoaes, que cumpre juntar
aos nomes de Cesariny, António Maria Lisboa e diversos poetas surrealistas
mais, enquanto seu predecessor. Mais
um contributo valioso para o conhecimento do surrealismo, por parte de
António Cândido, de cuja iniciativa saiu, dedicado ao movimento, o mais
recente número da revista «Ideia», e que está a organizar um outro número,
dedicado ao poeta recém-descoberto para a plateia literária lusa, esse
mesmo Manuel de Castro de que falamos acima.
Casa dos Banhos . 4 de março de 2014 |
Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um
bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário
Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal, Lisboa,
Gradiva Editora, 2010.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira.
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