MARIA ESTELA GUEDES
Foto: Ed. Guimarães
Música: http://triplov.com/letras/mario_montaut/Estela/index.htm

Mais surrealismo: Manuel de Castro e Mário Cesariny de Vasconcelos
Saiu o ano passado, e foi posto nas bancas já neste, um livro francamente inesperado, por motivos vários, o primeiro dos quais é este: o autor é quase um desconhecido. Manuel de Castro morreu em 1971 (com 36 anos), e só agora começamos a verificar que se trata de um dos mais importantes poetas do movimento surrealista português, ou importante sem o movimento, já que não é de imediato que o consideramos surrealista. Se é verdade que Maria de Fátima Marinho o menciona na sua obra «O surrealismo em Portugal», de 1987, já  Perfecto E. Cuadrado, em «A única real tradição viva - Antologia da poesia surrealista portuguesa», dez anos mais recente, não o contempla. É no entanto antologiado noutros lugares, e em particular por Herberto Helder, em «Edoi lelia doura», o que não obsta ao nosso considerando de que Manuel de Castro só agora vai ser conhecido, graças a amigos, que reuniram os seus dois livros «Paralelo W» e «Estrela rutilante», bem como poemas dispersos em revistas e jornais, no volume «Bonsoir, Madame».
 
 
Manuel de Castro  MANUEL DE CASTRO
Bonsoir, Madame
Alexandria & Língua Morta
[Lisboa] 2013
Poeta de uma delicadeza e hipersensibilidade femininas, à Camilo Pessanha, Manuel de Castro é um poeta estranho e extraordinário, de hermetismo declarado, no sentido estrito do termo: o seu misticismo de cariz oriental deve ter sido obra de contágio com as culturas da Índia, onde viveu. Mas hermético também pelo gosto de criar mistérios e dificuldades de penetração no poema, graças a jogos como o anagrama. De outra parte, contrastante, é tão cristalino como a nossa mais antiga fonte poética, a poesia trovadoresca.

A edição teve número de exemplares limitado e não está à venda nas grandes livrarias. Corra a procurá-lo, é escandalosamente bom, na sua beleza funerária. Vai dar ainda muito que falar.

Quanto a Mário Cesariny, por generosidade de António Cândido Franco, saiu um caderno na Editora Licorne com cinco cartas dele ao poeta de «Agricultura celeste», entre outras obras, algumas romances de fundo histórico sobre grandes figuras míticas da nossa História, a exemplo de D. Sebastião e D. Inês de Castro. Além de muitos outros pontos comuns entre ambos, a que Cesariny faz referência, o grande elo entre o mais conhecido artista do surrealismo em Portugal e António Cândido Franco é o poeta do Marão, Teixeira de Pascoaes, que cumpre juntar aos nomes de Cesariny, António Maria Lisboa e diversos poetas surrealistas mais, enquanto seu predecessor. Mais um contributo valioso para o conhecimento do surrealismo, por parte de António Cândido, de cuja iniciativa saiu, dedicado ao movimento, o mais recente número da revista «Ideia», e que está a organizar um outro número, dedicado ao poeta recém-descoberto para a plateia literária lusa, esse mesmo Manuel de Castro de que falamos acima.

Casa dos Banhos . 4 de março de 2014
 
MÁRIO CESARINY
Cinco cartas
Editora Licorne, 2013
editoralicorne.blogspot.com
 
 
Índice antigo

Maria Estela Guedes (1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov

Membro da Associação Portuguesa de Escritores, da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.

LIVROS

“Herberto Helder, Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979;  “SO2” . Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”, Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa, 1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários : Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora, 1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”. Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007; “Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed. Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010. “Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010; "Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa, Apenas Livros, 2011; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013.

ALGUNS COLECTIVOS

"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte. “O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual. Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”. Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009. Entrada sobre a Carbonária no Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal, Lisboa, Gradiva Editora, 2010.

TEATRO

Multimedia “O Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando Alvarez  e interpretação de Maria Vieira.