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Boas Festas com erros mas sem erratas |
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Os erros são um dos pilares do nosso
conhecimento, daí que a ciência contemporânea proceda, em muitos casos,
pelo método da tentativa e erro. Costumo escrever que a vida é a grande
mestra, aprendemos batendo com a cabeça nas paredes: sofrimento e erro a
pautarem a aprendizagem.
O meu pensamento tem-se ocupado no assunto
em razão de algo que já devo ter escrito, e várias vezes, fiada em não sei
que valor factual: um "diz-se", um "li algures". E que se diz, que terei
lido? Pois hei de ter lido, em ensaio, provavelmente, e em ensaio repeti,
crédula, que os monges tibetanos andavam a trabalhar com um computador,
combinando letras, para nas listas infindáveis de palavras resultantes
acharem o verdadeiro nome de Deus.
É assim que se constroem os
mitos, vejamos: com desencontrada informação sobre dada matéria sobre que
paira algum véu de sacralidade. Acreditando na relação entre as palavras e
a vida histórica de textos como o Alcorão ou a Bíblia.
Infelizmente, não: os monges, no Tibete, estarão ocupados com mil e um
trabalhos, mas nenhum deles se relaciona com programas informáticos
destinados a averiguar qual o verdadeiro nome de Deus. Esta trama não
provém de textos sagrados, sim de um livro de contos de Arthur C. Clarke,
Songs of distant Earth, que por acaso tenho andado a ler. O
assunto vem logo na primeira história, "The nine billion names of God".
E por acaso terei de escrever outro artigo, onde possa tirar a mão da
boca e falar sem auto-censura, já que agora, de dentes cerrados, direi
apenas que estive esta tarde no lançamento de uma obra literária, versando
na maior parte sobre um poeta, de que se disse (e eu repeti), ter visto a
mãe ser espancada mortalmente pelo marido, o pai, que ele odiava, alguém
contou, e por alguma razão seria. Pois esta tarde, um membro da família,
presente na sessão, vem dizer que não, que não foi bem assim, ele
tratava-a mal mas de outra maneira, com infidelidades, não parava em casa,
e etc., e realmente a senhora acabou com a vida tomando comprimidos.
A este tipo de erros, aliás erratas, podemos dar o nome de
branqueamento dos negrumes criminais para paz de alma familiar. Como de
costume, salvam-se as aparências, o protagonista da nossa sociedade
patriarcal não cai nas mãos da justiça literária, o nome é limpo, e quem
se condena é o mais fraco, a vítima mais costumeira da violência
doméstica, a mulher.
Não voltarei a este assunto, mas dar a mão à
palmatória, não dou. A corrupção, como se sabe, não diz respeito apenas
aos outros, aos que desviam dinheiros dos cofres do Estado, aos que ganham
mais do que os ministros, servindo estes, a corrupção começa mesmo na
família, ao nosso lado, com a nossa cumplicidade, com discriminações e
atropelos que na origem e no objetivo têm a propriedade, o valor metálico
das coisas. Da família, que serve os exemplos, vamos trepando até às obras
socráticas dos altos postos governamentais.
Tende um Natal tão
feliz quanto possível. Por favor, ao menos no Natal, não espanqueis as
vossas mulheres, não cometais burlas, saques, abusos sobre inocentes
crianças. Desejo-vos um Ano Novo que realmente seja novo, jovem, sadio,
sem erros, sujeiras, nem por isso necessidade de julgamentos nem de
erratas.
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Maria Estela Guedes . Odivelas . 13.
dezembro. 2014 |
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Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011; "Brasil", São Paulo, Arte-Livros, 2012; "Um
bilhete para o Teatro do Céu", Lisboa, Apenas Livros, 2013;
Folhas de Flandres, Lisboa, Apenas Livros, 2014.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário Histórico das Ordens e
Instituições Afins em Portugal, Lisboa, Gradiva Editora, 2010; «A
minha vida vista do papel», in Ana Maria Haddad Baptista & Rosemary
Roggero, Tempo-Memória na Educação. São Paulo, 2014.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira.
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