REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE
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Maria Estela Guedes
Foto: Ed. Guimarães |
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Portugal no pós-troika |
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Espanta-me que alguém indague o que se passará em
Portugal no pós-troika, como se não soubesse, como se esperasse um milagre
da Senhora de Fátima.
Para saber a resposta, não é preciso rezar,
consultar estatísticas nem a bola de cristal. Ainda menos ouvir os membros
doutos do Conselho de Estado.
Todos sabemos que o
Governo está a fazer o melhor possível, de acordo com o seu modelo e
paradigma, que contém tabelas, números e datas, mas nada de nomes como Ruy
de Carvalho, Teatro Experimental de Cascais, Manuel A. Sousa, Triplov,
Luís Reis, etc.. Estes nomes, os nomes de nós todos, identificam os
portugueses, e os portugueses são a substância de Portugal, aquilo que se
esperava que fosse governado, mas não: o que está a ser governado, para
não entrar em piores caminhos, é uma abstração aritmética cujas parcelas
têm de bater certo de uma abstrata maneira, apesar de quotidianamente os
contabilistas nos virem confessar que as contas afinal estavam erradas. E
nós aqui, pacientes e quiçá bovinos, a digerir pachorrentamente umas
contas que só são nossas porque no bolso tilintam cada vez menos as
modestas moedas que servem para o nosso sustento.
Verifico, sem
surpresa, mas com desilusão cada vez maior, que os algarismos têm mais
valor para a governação do que quem já não pode pagar as contas, se vê em
risco de no pós-troika estar a pedir esmola nas escadas de São Bento, já
se suicidou ou vai ainda atirar de uma ponte, por as escolas já não
conseguirem alimentar as crianças entre as quais está um filho seu que em
casa nada tem de comer.
No pós-troika, não é preciso lançar o Tarot
para o sabermos, nem pedirmos ajuda à grande filosofia, teremos uma
multidão de pedintes nas ruas, o Ensino escavacado, a Função Pública
inoperacional, as ruas cheias de lixo, as fábricas fechadas, fechados os
cafés, as mercearias, as lojas de produtos agrícolas. Veremos os
cemitérios incapazes de dar resposta à quantidade daqueles que vão morrer
por falta de remédios e de assistência médica, os tribunais a
abarrotar de processos por crimes de roubo e falta de pagamento. Nenhum
processo, evidentemente, contra governantes incompetentes, que não nos
governam.
O pós-troika será uma contra-utopia, a história de um
país com o mais desgraçado dos desenlaces.
Há porém quem sonhe com
a utopia de contas bem certas, de quem sabe a tabuada de cor, apesar de
errar mais do que alunos da primária. É para isso que se reúne o Conselho
de Estado? Para saber em que estado se encontrará o país daqui a cinco ou
dez anos?
Melhor não adiantar a conversa, ainda me fecham o Triplov
e apanho com algum processo por dizer o que está na boca de todos, e não
apenas na de Miguel Sousa Tavares, que até foi parco, em boa verdade,
interpelando só um, quando também podia ter mandado para o circo todo o Governo.
Casa dos Banhos, 25.05.2013
Maria Estela Guedes
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Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011; Trabalhos da Maçonaria Florestal Carbonária.
Lisboa, Apenas Livros, 2012; Brasil, São Paulo, Arte-Livros, 2012.
"As Rosas do Freixo", Apenas Livros, Lisboa, 2012.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário
Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal, Lisboa,
Gradiva Editora, 2010. "Munditações", de Carlos Silva, 2011. "Se lo
dijo a la noche", de Juan Carlos Garcia Hoyuelos, 2011; "O
corpo do coração - Horizontes de Amato
Lusitano", 2011.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira. |
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