REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE
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Maria Estela Guedes
Foto: Ed. Guimarães |
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Portugal já não tem «vós»? |
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Não é «voz», é «vós», se bem que o país
não me ressoe ao ouvido, apesar das calamidades que nos caem em cima.
Perdemos a voz, aceitamos tudo em silêncio, e perdemos o tratamento por
«vós». Vou contar...
Apanhei um táxi para Lamego, precisava de
ir à Óptica - acho que não se pode tirar o «p», senão a falta de vista
passa a falta de ouvido, a menos que diga tudo, numa grande falta de
decoro pela minha privacidade: «Fui à Ótica buscar as novas lentes de
contacto (aqui o «c» mantém-se, espero, porque o pronunciamos), pois já
não conseguia ler o que vocês me escrevem» - e aqui está o móbil do meu
desabafo, parece que já não se diz: «Fui à Ótica buscar as lentes novas
pois já não conseguia ler o que vós me escreveis»...
Enfim, ia eu à Óptica de Lamego e no táxi
ouvi um programa de Rádio que motiva este artigo: contra a oferta de um
livro excelente, não fixei de quem nem o título, desafiavam-se os
ouvintes a acertar numa de duas opções de boa gramática quanto ao modo e
tempo da forma verbal, numa frase do género: «Se eu contasse o
troco, não tinha sido enganada pelo vendedor». Excelente, alguém
acertou, segundo uma professora que apareceu ao microfone para corrigir
o teste e «completar o paradigma»: «se tu contasses, se ele contasse, se
nós contássemos, se vocês e eles contassem». E ainda, no mesmo
imperfeito paradigma: «eu contava, tu contavas, ele contava, nós
contávamos, vocês e
eles contavam».
Então e o «vós»? «Vós contáveis», «Se vós
contásseis»? Ficou reservado à Igreja? Só os padres, na missa, se
dirigem por «vós» ao rebanho?
E como explicar, sem o «vos» de
«explicar-vos»? Passamos a dizer: «E como explicar a vocês»?
Sem voz e sem vós, Portugal caiu
definitivamente na fossa, calo-me, não sem antes perguntar a quem, de
entre vós, possa esclarecer-me: em que número do Diário da República
saiu o decreto que privatiza o pronome «vós»?. |
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Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário
Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal, Lisboa,
Gradiva Editora, 2010. "Munditações", de Carlos Silva, 2011. "Se lo
dijo a la noche", de Juan Carlos Garcia Hoyuelos, 2011; "O
corpo do coração - Horizontes de Amato
Lusitano", 2011.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira. |
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