REVISTA
TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE
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Maria Estela Guedes
Foto: Ed. Guimarães |
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Animais nossos amigos |
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Nesta tarde duriense em que caem com a
calma as aves, como diria Sá de Miranda, escrevo numa paz doente, com o
nosso primeiro ministro no pequeno écran a discorrer sobre os serviços
de espionagem, esses que, em princípio, deviam ter, nos lugares
competentes, competentes animais nossos amigos, mas parece terem, nos
incompetentes lugares, animais nossos inimigos, que usam a informação
secreta para benefício de particulares.
Nós, portugueses, vivemos numa paz doentia,
olhamos para as atrocidades morais que nos vão empurrando para um redil
sem portas, sem grandes gritos de alarme, como se fosse natural, como se
inimigos fossem as cobras, os sapos, os escaravelhos que nos entram em
casa ou coabitam connosco nas quintas.
Os animais nossos inimigos são outros, têm
nomes de batismo e carteiras de identidade, e vão desde os mais próximos
aos mais distantes, esses que se sentam nas cadeiras do poder e das
bancas, aqui, ali, em Portugal, na Grécia ou na China.
Urge tomarmos banho com muito detergente,
abrirmos os olhos, erguermo-nos na decência que nos resta para
encetarmos vida nova, a partir da pobreza franciscana, se necessário,
mas é necessário encetarmos nova vida, e ela pode começar por pegarmos
na lupa e nos livros para identificarmos corretamente os nossos inimigos
e os nossos amigos.
Para ajuda, deixo fotos de três categorias
de seres nossos amigos, tomadas neste final de mês de maio, duas delas
aqui em casa, não dentro mas quase, enfim, no pátio e nas escadas (cobrita
e sardão), e outra numa cascata de roseiras que debrua um velho muro de
pedra empilhada (ninho de melro).
Posto isto, vamos lá ver e ouvir em direto,
na TV, o
depoimento do ministro Miguel Relvas, sobre as suspeitas
que sobre ele impendem no caso de transferência ilícita de informações
secretas para as secretárias de empresas particulares.
Maria Estela Guedes
Casa dos Banhos, 30 de maio de 2012
P.S. No Parlamento tudo vai bem, nada de
relevante se apurou durante as várias horas de seca de audição
televisiva. Fora dele, o lamaçal sobe de nível, com a insistência em
relatórios indevidos sobre a vida particular de certas pessoas, passagem
de informações dos serviços secretos para a via pública, etc...
Enfim, portugueses, podemos continuar a dormir, só estamos entregues aos
bichos. |
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Cobrita juvenil, em tamanho natural ou quase (um dedo
magro de perímetro), que tomava banhos de sol no pátio. Deve ser uma
cria de cobra-rateira (Malpolon monspessulanus) |
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Antes que
pudesse fotografá-lo de corpo inteiro, desapareceu misteriosamente outro
gracioso inquilino, uma cria de sardão (Tymon lepidus). |
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O ninho tinha
três ovos, parece que restam duas crias de Turdus merula, o
melro. Vê-se bem que um, mais forte, tem o bico apoiado à borda do
ninho, o outro, mais fraco, agacha-se debaixo do irmão. |
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Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov
Membro da Associação Portuguesa de Escritores,
da Sociedade Portuguesa de Autores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” .
Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler
Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”,
Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial
Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa,
1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria
Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À
Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de
Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu
Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários :
Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em
colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora,
1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”.
Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas
Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis
Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007;
“Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na
Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”.
Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Geisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas
modernos em Portugal”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
“Tango Sebastião”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2010. «A obra ao
rubro de Herberto Helder», São Paulo, Editora Escrituras, 1010;
"Arboreto». São Paulo, Arte-Livros, 2011; "Risco da terra", Lisboa,
Apenas Livros, 2011.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte.
“O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.
Entrada sobre a Carbonária no Dicionário
Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal, Lisboa,
Gradiva Editora, 2010. "Munditações", de Carlos Silva, 2011. "Se lo
dijo a la noche", de Juan Carlos Garcia Hoyuelos, 2011; "O
corpo do coração - Horizontes de Amato
Lusitano", 2011.
TEATRO
Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação
Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação
de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de
Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de
Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando
Alvarez e interpretação de Maria Vieira. |
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