Faço um pequeno balanço
da IV Bienal de Poesia de Silves, porque há certo número de assuntos que
não podem ser deixados no esquecimento.
Silves é uma cidade
encantadora no Algarve, rescendente a flor de laranjeira - as
laranjeiras da praça maior, frente à Biblioteca, ditas ornamentais,
parecem alfaces, e não se entende por que motivo se descurou um dos
ícones da terra, desprezando as que davam fruto comestível. Encantadora
mas completamente morta, segundo os habitantes, à excepção das
actividades na Biblioteca Municipal, e continuo a citar os habitantes.
Primeiro ponto a tocar: o
que se passa na Biblioteca durante a Bienal é exemplar: directora e
funcionários aliam-se e empenham-se para levarem a cabo uma série de
acções culturais e de entretenimento, assegurando ao mesmo tempo um
clima de alegria, que permite aos poetas sentirem-se em casa. A enorme
quantidade de imagens que recolhi e publico no TriploV dão-nos a prova
do que afirmo.
Num período em que se
lamenta que as Câmaras não só estejam descapitalizadas como endividadas,
prestemos à Câmara Municipal de Silves o tributo do nosso reconhecimento
pelo facto de quase só com a prata da casa se terem assegurado os
espectáculos que acompanharam os trabalhos literários. As bailarinas do
Projecto Dansul agradaram, tal como a atmosfera poética da Cisterna
Árabe, em que dissemos poemas. Os funcionários da Biblioteca, em
particular Paulo Pires, com o seu acordéon, também animaram as tardes e
as sessões nocturnas. Quanto ao passeio no Rio Arade, foi delicioso, e
permitiu avaliar a diversidade de espécies que nele têm habitat: garças,
cegonhas, rapináceas, gansos, e outras. No capítulo da Herpetologia,
fiquei entusiasmada ao ver tantos cágados nas margens, provavelmente
representantes das duas espécies que existem em Portugal.
No que se refere aos
espectáculos externos, foi uma belíssima surpresa o concerto de Vera
Mantero e Gabriel Godoy. Vera Mantero é uma artista magnética, que faz
prodígios musicais com a voz.
E o espectáculo «Os
Lobos», de Maria Toscano, em que todos participámos, foi muito divertido
e religador.
Isto para dizer que a
Bienal é sempre um acontecimento, um espaço de reciclagem mental e de
conhecimento de novos escritores. O que se passa alcança muito bom
nível, por isso dá gosto participar e honra-nos o modo como somos
tratados. Esperamos que não se perca pelo caminho a iniciativa e que
possamos reencontrar-nos em 2012 para a quinta edição.
Dê-se aos poetas o que é
dos poetas, aos funcionários da Biblioteca o que lhes compete, à Câmara
o que à Câmara pertence: parabéns por tudo ter corrido quase na
perfeição. Para o fim fica a obreira principal do acontecimento silvense,
a quem presto homenagem especial, Maria Gabriela Martins Gouveia. |
Maria Estela Guedes
(1947, Britiande / Portugal). Membro da Associação Portuguesa de Escritores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.
LIVROS
“Herberto Helder, Poeta
Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979; “SO2” . Guimarães
Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler Editora, Lisboa,
1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”, Guimarães Editores,
Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial Presença, Lisboa, 1985;
“O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa, 1987; “Ernesto de Sousa –
Itinerário dos Itinerários”. Galeria Almada Negreiros, Lisboa, 1987
(colaboração e co-organização); “À Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores
e Associação Portuguesa de Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F.
Sacarrão”. Lisboa. Museu Nacional de História Natural-Museu Bocage,
1993; “Carbonários : Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica
Bocage, 1864”. Em colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela,
Contraponto Editora, 1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora,
Lisboa, 2005; “A_maar_gato”. Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la
Carbonara”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C.
Cabanel & Silvio Luis Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora,
Lisboa, 2007; “Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A
poesia na Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de
papel”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Géisers”. Bembibre, Ed.
Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas modernos
portugueses”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.
ALGUNS COLECTIVOS
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de Poesia
de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom homónimo, com
poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte. “O reverso do
olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual. Coimbra, 2008;
“Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”. Parede, Ministério
dos Livros Editores, 2009.
TEATRO
Multimedia “O Lagarto do
Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação Calouste Gulbenkian,
com direcção de Alberto Lopes e interpretação de João Grosso, Ângela
Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de Xana; “A Boba”, levado à
cena em 2008 no Teatro Experimental de Cascais, com encenação de Carlos
Avilez, cenografia de Fernando Alvarez e interpretação de Maria Vieira. |