Odiaste Nova Iorque, Federico.
Odiaste a América,
Com o seu brutal capitalismo.
Olha, meu amigo: pior que ela
Foi essa tua hedionda Espanha
Que te meteu no ânus o cano de uma
espingarda
E deu ordens ao soldado para premir o
gatilho.
Nova Iorque, Nova Iorque,
Cidade tão pulsante como a tua poesia.
São toneladas de luz
Sobre outras tantas de lixo
Só em plástico saído
Mesmo de restaurantes de luxo.
Meu caro Federico, nessa cidade
Que rejeita copos e pratos de vidro
Sempre numa hurry, numa hurry,
Sem tempo para mastigar
Por isso, do frango só come o peito
E outras carnes tritura, fatia, resolve
em molho picante.
Honesto e franco bife não se come em
parte nenhuma,
E costeleta com o osso, ainda menos.
Como cortá-la em pedaços, no prato,
Se os talheres são descartáveis,
frágeis,
Para elevarem aos triliões as toneladas
Capitalistas de lixo?
Come-se de colher e garfo no metro e
Nos autocarros, meu amigo, por causa da
hurry,
Sem intervalo para almoço,
A noite sempre aberta, vendendo e
comprando
Vinte e quatro horas por dia.
Apesar disto, Federico, nada hoje
verias do
Torpe racismo
Nem do estúpido horror a gays
Que sofreste no teu tempo!
E repara, Poeta: não foi a América,
Sim a tua europeia Espanha
Quem te assassinou a tiro! |