Entrar pela estreita porta e quase
Invisível
No aparato capitalista da Broadway
Avenue.
Avançar por entre pilhas de saber
No desfiladeiro do escuro corredor,
Lá como cá de soalho de tacos
Mais rudes que tejolos
Mas sentirmo-nos ainda assim
Na caverna de Platão,
Ávidos da realidade que no papel
transpira.
As paredes revestidas por duas e três
camadas de volumes,
A capa brilhante, plastificada, outros
Cerrados na clausura de profundas encadernações
De couro gravadas a lume.
E os dedos que ousam, como tentáculos,
Tocar ao vivo a Poesia.
Põe os óculos e busca algo como
«Poeta en Nueva York», do desgraçado
Lorca,
A quem a selvajaria do Poder
Assassinou do modo mais atroz.
Porém, os dedos, em vez dele, acham por
si sós
E logo à primeira tentativa de saque
Outra cena tão diferente...
Um velho, as brancas barbas, entalado
entre
Jovem alfarrabista que ao computador
escreve
E a barragem inexpugnável de livros,
Num banquinho rente ao chão sentado
O olhar azul-beatnik ergue para a
intrusa,
Interpelando-a, sem recato:
- Porque é que Elisabeth Barret
Browning
Deu a esse livro o título
de Sonnets from the Portuguese?
- Não sei -, responde a estrangeira,
Grata pelo contacto verbal que lhe soube a camoniano
- Mas levo comigo os sonetos porque sou
portuguesa. |