Percorrer a rua até ao fim,
A pé atravessando o Central Park.
Vêem-se gays abraçados pelas veredas
Ou de diversa raça dando-se a mão;
Os lagos de margens congeladas
Neste Inverno de vidraça fina
Crepitam cristalografia.
Indiferentes ao frio, lá, onde o gelo
se esburaca
E respira a água líquida,
Vogam patos reais, vaidosos do papo
Vestido com écharpe de brilhantes.
Turistas tiritantes
Debaixo de gorros de pele
Tiram fotografias.
Despidas, as árvores, são esguios
esqueletos
Traçados a bisturi
Sobre cúprea chapa de neblina.
Deixam ver, à transparência, o busto
erguido
Dos elegantes arranha-céus
Na 6ª Avenida.
O tempo é monstro, sibila.
Porém, orgulhoso, a bela cabeça de
bronze
Erguida, uma estátua enfrenta a neve, o
gelo,
Tal como enfrentou o Papado, a Realeza
E ameaças à sua vida: Giuseppe Mazzini,
O grande líder carbonário.
Nos dois extremos da 79th Str.,
A água do Hudson é inacessível a quem
caminha,
Barrada pela marginal ríspida
A toda a velocidade corrida
Por limousines compridas
De Madonnas protegidas atrás de vidros fuscos.
Sim, o tempo é uivo, vidra a cara.
E outros veículos atrás de veículos
Numa hurry de workaholics
Que atroam e atormentam
Os tímidos ouvidos.
Volta para trás a estrangeira, os pés
gelados
De angústia, impotentes para alcançar a
água,
Presos à nítida sensação de clausura.
Apesar da liberdade para os
homossexuais,
E da livre relação inter-racial que
agora existem,
Tal como no teu tempo, Federico,
Manhattan continua a ser uma ilha. |