Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados,
é uma pessoa que os portugueses respeitam, pela coragem com que vai
denunciando calamidades públicas, esclarecendo as mentes e dizendo
verdades. Isto é importante, porque a maior crise que suportamos
não é a económica, essa ainda nem se fez sentir em muitas carteiras, a
maior crise é o descrédito geral e abissal em que está mergulhada a
palavra. A palavra dos homens que deviam ser de palavra e afinal mentem
mais do que quaisquer outros. Quando a palavra perde toda a
credibilidade, porque os valores de uma sociedade passam a ser os do
"Salve-se quem puder!", o cepticismo, a falta de esperança, o desespero
e a revolta, tudo isso constitui uma crise muito mais profunda do que a
bancarrota.
A falta de credibilidade da palavra, a
sua perda de peso e consistência, não afetam só o discurso dos que nos
governam, afetam todos os que por ofício a usam, recriam e criam:
jornalistas, escritores, advogados, professores, líderes religiosos,
tantos mais. Não acreditamos em ninguém, a corrupção é demasiado grande
e generalizada, já fomos excessivamente enganados, desde a cátedra até
ao púlpito, por todos os papagaios que sentenciam dos poleiros.
Todos temos responsabilidades pelo estado
de degradação das coisas públicas. Nós temos ainda direito a voto, e
votamos mal, a alguma liberdade de expressão, e temos medo de falar,
temos direito à rebelião, em última instância, mas havemos de preferir o
sofá diante da televisão.
Marinho Pinto é um homem que tem
suportado, a bem dizer sozinho, o papel de reclamar em voz alta por um
retorno à decência neste país corrompido por líderes cada vez mais
medíocres e venais. A palavra com que ele fala é válida, pesa nela a
crença que depositamos na sua honorabilidade, e deste jogo de relações
brota com força a esperança numa mudança para melhor.
Os cidadãos deste país estão
desprotegidos, Marinho Pinto outra coisa não tem feito senão tentar
proteger-nos. E ele? Usará colete à prova de balas? Acima de Marinho
Pinto há poderes desejosos de lhe fechar a boca. Quando isso acontecer,
neste país vai fazer-se um silêncio de chumbo. Quem vai ter a coragem
deste herói solitário, para o romper?
Espero que os portugueses comecem a ter
mais tomates do que orelhas para decidirem o que é urgente dizer. |