É verdade, alcancei a vitória
Mas que vulto me iluminou
Descido numa nuvem de almíscar
Agora dispersa nas dunas do Sara?
O rosto lhe entrevi coberto
Por um véu
Sob o olhar de carvão em brasa.
Meu S. Sebastião, pequenino,
Pouco sabes do meu martírio,
Este de te ungir às ocultas com óleos
Amadeirados e de te lamber as feridas
No oratório de pau-sangue do meu quarto
O almíscar da tua pele embriaga
Terás sido tu salvador e justiceiro?
O cavalo branco de ouro ajaezado
A meu lado montaste - sombra do
Encoberto ou aroma de anjo.
Porém mais do que tu me protegia
A figura esbelta sob um véu
Que passou por nós
Deixando um rasto de flor de laranjeira.
Rezo-te todas as noites e manhãs,
E sempre me embebedas com esse corpo
Adolescente.
Tão amorosamente Guido Reni te pintou
Que o jovem Mishima
Sem bem saber o que a mão fazia
Teve o primeiro orgasmo
Ao contemplar-te, salpicando o livro
Com a tua imagem divina
Também eu te bebo com os olhos
Também o meu corpo te respira
De encontro ao pau de que o teu é feito.
Porém nada disto é justo, meu santo
E meu amante, que na penumbra do
Oratório abraço, sem qualquer sinal
Que da salvação nos dê uma esperança
Fui julgado pelos tempos
Elevaram-me à epopeia a condição.
Tu, por Cristo amares como eu a ti,
Foste à morte condenado.
Deixaram-te no chão, como fera
Por setas abatida. E no entanto
Vivias, Sebastião
O mesmo vulto que a mim salvou
A ti ressuscitou das mortais feridas.
O perfume estala-me na cara
Neste areal de colcha marroquina.
Gloriosa com um astro e justa
Como Salomão, caminhando
Sem elmo e sem escudo,
Aproxima-se a divina salvação.
Sente o seu aroma de rosa matutina!
É a hora da mulher, meu Sebastião! |