O ronco da neblina é um aviso
De que está perto o legendário império
E que o espírito se veste de realidade
Em um futuro que é presente agora.
Porque tu és o mito lindo
O mito de que há impérios que se cumprem
Vencida a batalha de Alcácer-Quibir
Pelo meu Sebastião que é virgem.
Na penugem secreta do teu pénis
Crepitam dedos desejosos
De tocar o tamariz selvagem.
Ó meu amor quieto como um ninho
Ó meu Sebastião que somos aves
Ó meu Desejado que és passarinho
Dos sonhos ateados no Verão!
Deixa-te vir louro como as brasas
Deixa-te vir moreno como abrunhos
Deixa-te vir, Graal misterioso,
Correndo como vinho no meu cálice!
Rasam as ondas procelárias
Paínhos, gaivotas, cagarras e andorinhas
E o albatroz que é rei nos ares
Se os versos sulcam água nos teus olhos
Como jóias muito raras e perdidas
Como os três reis finados no areal
Para viverem para sempre em livro!
Ó meu Sebastião dos dias 20 de Janeiro,
Ó meu rei de beicinho como um Cupido
Ó meu país que te comprazes em rezar deitado
Na ânsia de um rei da morte ressurgido
Em strip tease às portas do sacrário! |