Luxitânia, Origens da Lux, é uma
Barca Atlante, ora de Velas enfunadas com Argonautas, ora de Âncoras
desembarcando Musas para as Artes e Ciências, nos Ciclos da Humanidade.
Nome gravado nos mapas da Proto-História de Portugal, eram Terras que
iam das Tágides de Tagus até ao Mar Cantábrico, ficando-lhe a Sul
a Mesopôtamia, Terras das Valquírias entre os rios Dahanan ou Ana
(Guadiana) e Cahpsus (Sado), fechada pelo Cyneticum (Algarves), com a
sua Serra do Caldeirão, simbolizando o Cálice de Dagda ou Graal, um
deitado rectângulo de hoje, proporcional ao erguido na geratriz do seu
eixo: Serra do Gerez (gira/gere)-Melriça (mil raios e centro
geodésico)-Ourique (castro verde).
Terras de Serpentes
Ocultas, no dizer dos Sábios da Antiguidade, as mais além das Colunas de
Hércules, tinham já no Eneolítico uma cultura megalítica de menhires,
dólmenes, cromoleques, antas, grutas sagradas e santuários que eram
terminais de passagem de linhas lay derivantes de uma Europa de
Carnac, Gotland ou Stoneheng, onde Lux era a Luz dos Campos de Elêusis
ou de Ísis (Campos Elísios), estendidos até ao Luxemburgo, chamando-se o
Coração da Alemanha a Luxácea, a região de Berlim, «amarração» que
sempre nos tem seguido, mas que hoje os alemães não entendem porque
deixaram de ser germânicos, como o foi Maximiliano I ao aliar-se ao seu
primo D. João II de Portugal.
Assim o Portugal
Antigo era uma radial de geomância sacra, onde ainda hoje a Província de
Lugo (do Deus Lug) encerra o Cabo Finisterra (onde finda a terra) e o
Campo da Estrela (Compostela) ou Serra de Portugal, onde os Montes da
Sabedoria são de Hermes ou Hermínios, neles nascendo o Rio do
Conhecimento que banha Coimbra.
Na Idade dos Metais,
a Luxitânia, pelas suas minas de cobre e estanho, levou o Bronze a toda
a Europa, como nos nossos tempos levou volfrâmio e urânio ao Mundo.
Portugal foi o Som da Pedra e dos Metais, a Forja de Vulcano dos
Exércitos até ao Império de Roma, mas também a Oficina do Ouro (o seu
Rio Douro) de uma filigrania Celta para muitas Damas da Deusa Europa,
vestígios de Briteiros e realidades das actuais Procissões das Festas de
Santa Luzia, ou Senhora da Luz, oposta à Serpente das Trevas.
Podem antropólogos e
historiadores esgrimir teses de quem somos, mas nascemos para ser fusão
ADN de diásporas da História. Primeiro, na lenda, éramos odínicos, com
os vestígios dos Tuata-da-Dannan de Argar, regiões do Guadiana a
Altamira, um Argar de uma Andaluzia, de novo de raiz Lux. Atraímos então
os povos da Terra dos Deuses Ases, ou Ásia, como os Tirsenos da Ásia
Menor e os Elamitas da Pérsia, mesmo os Ilírios da Europa de pés
na Ásia. Não estranhemos um retorno de hoje de romenos, moldavos,
ucranianos, indianos, em suma, um Cáucaso Antigo, um Pamir, por
fronteira. Fomos depois, com raízes de Lígures e Iberos, uma fusão de
dolicocéfalos altos e louros, odínico-celtas, com baixos e morenos,
naturo-endovélicos, adorando o Sol e a Lua, daqui saindo os Celtiberos.
Em seguida já é mais
fácil visualizar os nossos cruzamentos com a talassocracia cretense,
fenícia, cartaginesa e romana originando as Barcas Clássicas, com a
expansão árabe, em solos cristãos, plasmando Barcas de Abraão, com os
Descobrimentos de ADN afro-asiáticos e latino-americanos velejando em
Barcas de Cruz de Cristo, todas elas Barcas dos Corvos de Sagres ou de
São Vicente, Cabo Sagrado Romano.
De uma ancestral
cultura megalítica que obrigou Sertório a localizar (lugalizar) o
seu Senado em Évora, próximo dos Cromoleques de Guadalupe, sendo seu
mito a Corça Branca que o acompanhava, evoquemos a Tragédia de Viriato
(139 a.C.), com refúgio nos Montes de Hermes, ou Hermínios, uma
Sabedoria de um Mondego que passa em Coimbra, um rio então chamado Munda
vel Menda.
A Força desta
Luxitânia será a História das suas Tragédias: a de Viriato, a de Inês de
Castro, a da Tomada de Ceuta, a de Alcácer-Quibir, a da Morte dos
Távoras, a da Morte de D. Carlos I e a de Timor. São 7 Tragédias de
Renascimento que estão de acordo com a Beleza de Construção da Cabeça da
Deusa Europa, de 7 Luzes Antigas, como os 7 orifícios da nossa cabeça
(olhos, ouvidos, nariz e boca), dando origem, no séc. IV, às 7
Prefeituras Romanas do Ocidente, ou Dioceses da Hispânia: Bética,
Luxitânia, Galécia, Tarraconense, Cartaginense, Tingitânia e Baleares.
Somos vórtices de Energia (vulgo chakras) do Corpo do Mundo.
Assim começaria a Fundação de Portugal, com 7
Reinos Ibéricos: Portugal e Algarves, Leão, Castela, Navarra, Aragão e
Andaluzia. Teria a sua capital 7 Colinas e 7 Rios para que as Barcas
Lusas, como 7 Montes de Tomar Templário ou 7 Colinas de Roma saídas,
levantassem Âncora para um reconhecimento dos Açores com 7 Cidades, na
Ilha de São Miguel, o Príncipe do Juízo Final. Se quisermos duas imagens
de tudo o que se disse até aqui, diria:
-
Os símbolos do
Portugal Antigo, Clássico, Moderno e Futuro, estão encerrados,
respectivamente, na Porca ou Javali de Murça, no Veado ou Corça da
Nazaré, no Corvo isolado da Ilha dos Açores ou dual de São Vicente de
Sagres a Lisboa, na Pomba de Iria, a qual, cíclica, já irradiou o Culto
do Espírito Santo na diáspora de Portugal, tão Paraclética como o
similar Deus Vulcano, forjada no Porto da Luz, em Alenquer, por
Franciscanos e Santa Isabel, a Rainha do Alvará da Ordem de Cristo, Cruz
das Caravelas.
-
Os anagramas de Tomar e de Timor, dizendo
Morta e Morti, representam para além das Tragédias, o apoio dos Saberes
a um devir de constante Renascimento, onde o Sol e a Lua têm sido
símbolos de credos e cultos, mesmo do trajar típico de Timor, hoje
chamado de Loro Sae, dizendo já Estrabão que os Lusitanos, com 50
Tribos, quais Portas de Luz da Árvore da Vida, adoravam o Sol e a Lua.
Mais do que olhar a
História escrita e documental, tão plena de destruição de bibliotecas,
censuras de pensamentos e penas, inquisições de credos e parcialidades
de favores de novas verdades, importa ver as Barcas no seu Nevoeiro. A
Barca Luxitânia teve amarras em 4 Portos de Pedra: em Alcobaça, a Nau da
Fundação; em Batalha, a Nau da Libertação; em Belém, nos Jerónimos, a
Nau da Expansão; em Mafra, a Nau da Declinação. A lusofonia do Som dos
Mares, levando a cultura e a língua, para além do Som da Pedra
espalhando fortalezas, templos e casarios, atravessou 10 Estreitos
(Gibraltar, Ormuz, Palk, Formosa, Coreia, Bering, Malaca, Mucassar,
Tasmânia e de Magalhães), quais 10 Esferas da Árvore Yggdrasill, por 32
Rumos da Rosa-dos-Ventos, ou 32 Caminhos da Árvore da Vida, onde 10
Esferas também existem.
Tudo seria ideal se,
por detrás de tudo e por fim, não estivesse o comércio e a riqueza, a
geoestratégia de novos impérios de D. Manuel I ou Carlos V, de Napoleão
ou Hitler, ancestrais de Carlos Magno ou Otão III, alterando-se, se for
preciso, a Natureza para tal fim, como nos canais do Suez e Panamá. Mas,
seguindo o Nevoeiro da Barca, a História do Império português é desde
logo o Sangue de Inês de Castro e de D. Pedro I e a Genealogia de muitos
Cabrais.
De Inês de Castro,
por um dos seus carrascos, Diogo Lopes Pacheco, ser o antepassado de
Diogo Pacheco Pereira, a síntese de toda a gesta lusitana de
Quatrocentos e início de Quinhentos, de Portugal à África, ao Brasil e à
Índia. É o navegador e cosmógrafo, capitão e governador, testemunha do
Tratado de Tordesilhas, feitor do Esmeraldo de Situ Orbis, a Tábua da
Esmeralda dos Nautas, não um anagrama de louvor a quem quer que seja. É
o Aquiles Lusitano do Canto X dos Lusíadas, na pena de Camões, por
Palavra de Tétis. Morre na miséria, anos depois de ter sido demitido de
Governador de São Jorge da Mina, a 4 de Julho de 1522, Dia da Rainha
Santa Isabel e da Independência dos EUA, quando a 22 de Julho (Dia de
Santa Maria Madalena) de 1505 tinha sido, o semideus grego, levado em
Procissão da Sé de Lisboa ao Mosteiro de São Domingos, em louvores de D.
Diogo Ortiz, o Bispo de Ceuta de 1415, nesta data Bispo de Viseu.
Sangue de D. Pedro
I, pois dele nasce o Mestre de Avis, a Ínclita Geração, com o Sangue
Inglês da sua Rainha, o seguinte Império dos Mares, ou das Damas Isabel
I e Victória, ainda vivo com Isabel II e seu Commonwealth. A Tragédia de
Carlos I de Inglaterra seria similar à de D. Carlos I de Portugal. A
ambos se seguiu uma República. Nós restaurámos a Independência de
Portugal e demos a filha do Rei D. João IV para restaurar a Monarquia
inglesa. Mas é a Geneologia Cabral que nos permite ver 600 anos de
História, da crise política de 1383/85 à crise económica de 1983/85. São
600 de Marinha Mercante, de 1377 a 1977.
Álvaro Gil Cabral,
alcaide de Guarda-Belmonte, levanta Armas pelo Mestre de Avis, em Praças
e Cortes. Gonçalo Velho Cabral levanta Âncoras para os Açores. Pedro
Álvares Cabral levanta Padrões para unir a América à Ásia, ou o Brasil à
Índia. Francisco Cabral, o Missionário do Oriente, nascido nos Açores,
levanta uma sã Cristandade, em Colégios e Missões, em povos e reis, na
Índia, na China e Japão, continuada por João Cabral, outro Jesuíta da
Paz, aceite do Tibete ao Ceilão, da Índia ao Japão.
A conquista de
Malaca, em 14 de Janeiro de 1641, pela mão dos Holandeses é o início do
Cemitério das Barcas Lusas do Oriente quando Portugal a Ocidente as
restaura, desamarrando-as da Espanha, numa Guerra de Restauração que
duraria 28 anos, um ciclo lunar completo, tantos os Arcos Laterais do
Terreiro do Paço, ou os 26+2 ossos de cada um dos nossos pés, craveira
de medição da quedas dos muros (como o de Berlim) ou das Torres Gémeas,
de Horoshima/Nagasaki (1945), passando pelo Chile (1973), até New York
(2001).
São os Cabrais de
Fornos de Algodres, no séc. XIX, nas lutas de Reis Irmãos. É Sacadura
Cabral, o Duarte Pacheco Pereira dos Ares, o Rei Artur que
religava Portugal à Inglaterra (voo de 1920), Portugal às suas Ilhas de
hoje (voo de 1921 à Madeira) e Portugal ao Brasil (voo de 1922). A sua
Barca dos Ares afundou-se com o seu corpo, por isso ele chamava-se
Artur, algures onde tinha começado a nossa Barca de Argos: a Flandres.
No entanto, é a sua Mensagem de um fim de Camelot, completada pela Barca
dos Ares de Sarmento de Beires (Argos), o Ulisses dos Ares, o aluno dos
Celtas de França, instrutor do Brasil e da China, o Gama de
Lisboa-Macau (voo de 1924), o Cabral Nocurno do Brasil (voo de 1927), o
exilado de Gomes da Costa e o retornado de Costa Gomes que exala o seu
último suspiro, na véspera do Dia de Portugal, de Camões e das
Comunidades, a 9 de Junho de 1974, 22 anos depois de Amílcar Cabral
(com Aristides Pereira) ter iniciado a luta das independências,
um final de Império, 11 anos depois de ele ser Viriato na Guiné, em
1973. Ele e Beires eram poetas.
Antes de desfilarmos
nomes da lusofonia desta Barca importa reter que o seu Leme da História
foi sempre corrigido por Henriques ou Anriques, como narra Camões. Vão
888 anos de História de Portugal entre o Conde D.Henrique, lutando pela
independência e Xanana Gusmão alcançando-a, ou se quisermos, face à
morte do pai de D. Afonso Henriques, entre D.Teresa e Xanana,
chamando-se a mãe da Rainha, Ximenes ou Ximena Nunes,
esposa de D. Afonso VI. O Bispo D. Ximenes Belo de Timor também
pertence ao Nevoeiro da Barca. São 2 Dinastias, Afonsina e de Avis, com
início de Henriques, o Rei, com fim de Henrique, o Cardeal, sendo delas
Nauta o Infante D. Henrique, ao todo 17 Reis. São mais 2 Dinastias,
Filipina e de Bragança, que terminam com D. Manuel II, sem descendência
como o Cardeal, ao todo 17 Reis.
O tio do último Rei
deveria ter ocupado o Trono de Portugal, ele se chamava o Infante D.
Afonso Henriques. Mas a Barca não o aceitou ao Leme e esperou por
Henrique Galvão, querendo unir África ao Brasil, na Nau Santa Maria,
para dizer que o Império acabara. Dependerá do próximo Presidente da
República de Portugal, o 17º, Aníbal Cavaco Silva, o Rumo da Barca.
Hoje não se aplicam
os Saberes Ocultos, de Colégios, Monges, Ordens e Iniciados. Tudo gira
sem a Máquina Mundo ser conhecida, esfera mecânica no Convento Escorial.
Tudo gira sem os jovens lerem os Lusíadas, não conhecendo a Máquina
Celeste do seu Canto X. Novas verdades e valores navegam em internet.
Quantos acreditam no
improviso dos Descobrimentos, porque não sabem que a lusofonia só foi
possível irradiar no rigor do astrolábio, quadrante, balestilha, tábuas
do Sol, toleta de marteloio, regimentos da Estrela do Norte, da Altura
do Pólo ao Meio-Dia, do Cruzeiro do Sul e das Léguas, tratados da Agulha
de Marear, produzindo-se cartografia que difundimos a outros Reinos,
como o faríamos com o Sextante de Gago Coutinho. Mas hoje Pedro Nunes
teria lugar na Ponte de Comando do mais sofisticado porta-aviões, pois,
diariamente, são feitas as medições de posição e navegação, por
instrumentos clássicos, face à possível neutralização dos meios
electrónicos e informáticos. Não há maus alunos de Matemática. Não se
sabe é ensinar Aritmética e Geometria. Não há maus alunos em Português.
Não se sabe é ensinar Etimologia e Gramática. A investigação e o
desenvolvimento não são partilhados, mas sim patenteados, numa avidez de
direitos de autor, impedindo o acesso a fontes astrais.
Mas se o erudito
lusófono é mais hermético, o Som da língua é o que mais expressão teve,
como o Som da Música sempre também o terá. Portugal é o único país do
Mundo onde impende sobre as suas vogais um til, nasalando um som
místico, mesmo que um dia o queiram assassinar como fizeram ao trema,
algo que que os homens da Lusácea se oposeram irradiando mais o seu
“citröen”, pois nunca soubemos «adeqüar» nenhum acordo ortográfico. Hoje
o Brasil e as suas Academias hesitam em homologar sonorizações de
declínio. A África da Lusofonia diverge e desconfia da Matriz Lusa da
língua portuguesa unilateralmente avocada por Portugal.
Os Descobrimentos
nos deram poetas como Cristóvão Falcão, António Ferreira, Agostinho da
Cruz, Jerónimo Corte-Real e Luís Vaz de Camões. Eram os tempos da
Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, dos escritos de Frei Bartolomeu dos
Mártires, de Francisco da Holanda e de Samuel Usque. Uma língua
universal, moldada por gramáticos e lexicógrafos como Jerónimo Cardoso,
Fernão de Oliveira e Pero de Magalhães Gandavo. Era todo um espírito
científico e filosófico, sintetizado em António Luís, Francisco Sanches
e Garcia da Orta, perseguido depois de morto pelo Santo Ofício,
profanando-se o seu cadáver.
Era um Escol de
Quinhentos, ainda sem Contra-Reforma activa e feroz Inquisição, que
atraía a Lisboa, a Paris do séc. XIX/XX, letrados como Vazeu, Jorge
Buchanan, Cataldo Sículo e Nicolau Clenardo. Era o Som lusófono de Gil
Vicente e de sua filha Paula Vicente, o feminino que fez aparecer as
Damas das Letras como D. Leonor de Noronha, Públia Hortência de Castro,
Luísa e Angela Sigéas, Joana Vaz, sendo Padroeira desta erudição
a Infanta D. Maria, sobrinha de Carlos V, Musa inspiradora de
Camões.
Após João de Barros,
Bernardim Ribeiro e Sá de Miranda sofria já Damião de Góis da censura de
liberdade de pensamento, com uma iminente Inquisição, pedida por D.
Manuel I e concretizada por D. João III, alastrando na Europa o Fogo de
Lutero, aceso a 10 de Dezembro de 1520 quando ele queima a bula do Papa.
A erudição renascentista ou oposição silenciada, passa para um exílio
lusófono, com cometas em Portugal, ora presos, ora em fuga, dos quais
destaco Gonçalo Anes Bandarra e depois Padre António Vieira, Bocage e
Filinto Elísio, já no séc. XVIII, sendo a Marquesa de Alorna o símbolo
restante dos Távoras, o símbolo de que para se ter Artes, Letras e
Ciências é preciso ser-se livre. Assim se fizeram a cantora Luísa Todi e
o médico Ribeiro Sanches, dois grandes vultos de Portugal na Europa. O
terror pombalino geraria a pior das Tragédias dos Mares, a de
Todos-os-Santos de 1755, Dia do remoto Ano Novo Celta, um tsunami
ocorrido 400 anos depois da Tragédia de Inês de Castro.
A nova lusofonia
viria do Brasil, com o Som da Música, pois se a quisermos encontrar
antes, em compositores, só a podemos recordar em Pedro Escobar, o
Príncipe dos Moletes, segundo João de Barros, em Carlos Seixas, o Mestre
do Cravo e do Órgão. Digamos, pois, que é João Domingos Bomtempo, com a
sua Missa de Requiem à Memória de Camões, uma das muitas obras, que a
Barca da Luxitânia vai sedimentar Artes e Ciências. E o acaso
está no seu irmão, em José Maria Bomtempo, o médico de Angola
(1798/1805) e um dos melhores professores da Academia Medico-Cirúrgica
do Brasil, sendo acaso Bocage ter por primo o médico e zoólogo
José Vicente Barbosa du Bocage (1823-!907), tão pioneiro como José de
Leite de Vasconcellos, o arqueólogo e o etnólogo do seu Museu, nos
Jerónimos.
Esta alquimia faz
acordar nas trevas da Cultura, de D. João III a D. João VI, com algumas
luzes em D. João V, António de Castilho, sendo seu irmão José Feliciano
o fundador do jornal Íris do Rio de Janeiro, Herculano, Garrett, Camilo,
João de Deus, Antero de Quental, Júlio Dinis, Oliveira Martins, Eça de
Queiróz, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Fialho de Almeida e António
Nobre.
São tempos de um
Brasil varrido pela Independência dos EUA (1776, a 4 de Julho, Dia da
Rainha Santa Isabel) que geraram o Alferes Joaquim José da Silva Xavier
(executado em 1792) ao fazer a 1ª conspiração armada, republicana e
independentista, em 1789, 100 antes do Brasil ser República. Seria
Reino, entretanto, em 1815, 400 anos depois de Ceuta, 300 anos depois de
1515, o ano da faustosa Embaixada a Roma para pedir a Inquisição,
levando como símbolos de um já corrupto Império a onça, o cavalo e o
elefante. Neste fatídico ano a Barca Luxitânia parava no Extremo
Oriente, com as Rotas finais de Albuquerque e as sequentes Armadas de
António Abreu (com Fernão de Magalhães a chegar a Timor) e Jorge Álvares
a rumar aos países do Sol Nascente.
A Barca da Ordem de
Cristo ainda foi Barca das Ordens de Santiago, da Espada por Portugal e
de Santiago por Espanha, entregando o Leme final a Magalhães e
Sebastião, numa volta ao Mundo dos Mares, com contrato assinado
com Carlos V a 22 de Março de 1518 (dia de 1500 de Cabral de Cabo Verde
rumo ao Brasil, onde chegou a 22 de Abril), fazendo-se ao Atlântico a 22
de Setembro de 1519 (saída de São Lucar de Barrameda a 20) e pondo
Âncora, de regresso, a 7 de Setembro de 1522 (chegada ao porto a 6). As
datas da Barca de Santiago ajustavam-se, 300 anos depois, ao seu novo
Grito do Ipiranga e à sua Nova Independência. Faltava só restaurar
o seu Imperador a 1 de Dezembro de 1822, 182 anos depois de 1640.
Algum saber oculto
tinha a Tábua da Esmeralda do Aquiles Lusitano, pois este
Condestável Pereira dos Mares fez com que Cabral só tivesse Âncora,
em Porto Seguro, a 25 de Abril de 1500, sábado, vésperas de Pascoela,
Dia de São Marcos.
Nascem nos séculos XIX e XX os Mecenas da
Luxitânia, recordando-se alguns:
-
António de Araújo de
Azevedo, Conde da Barca (1754/1817), o Noé que leva o Rei D. João VI
para o Brasil, planeando a Arca com toda a sua biblioteca, núcleo da
futura Biblioteca Nacional do Brasil, carregando o que seria a primeira
oficina topográfica do novo Reino. Ele foi o novo Rabi Eliézer Toledano
que no séc. XV montava o mesmo em Lisboa.
-
Joaquim Ferreira dos
Santos, Conde de Ferreira (1782/1866), o afortunado comerciante da
África e Brasil, mandou construir 120 escolas primárias, financiou as
Misericórdias do Porto e Rio de Janeiro, fundou o Hospital de alienados
do Porto, com o seu nome, repousando, em Agramonte, em mausoléu
esculpido por Soares dos Reis.
-
Augusto Portugal
Silva e Sousa, Visconde Sanches de Baena (1822/1909), comerciante,
farmacêutico, médico (doutorado pela Universidade de Filadélfia),
numismáta, historiador e genealógico. Em 1859 funda, no Rio de Janeiro,
o maior laboratório químico-farmaceutico da América, sendo vasta a sua
obra de benemerência no Brasil e Portugal.
-
Júlio Monteiro Aillaud (?/1927), o
fundador da emblemática livraria do Chiado “Aillaud & Bertrand”,
lançando escritores como Aquilino Ribeiro, Antero de Figueiredo e Raúl
Brandão (o Dostoievski português, como o é a Agostina Bessa Luís),
criando e financiando revistas, como Atlândida, Ilustração, Voga e
Magazine Bertrand e desenvolvendo a difusão do livro do Brasil a
Timor.
Esta nova lusofonia
teve por sementes: os 6 jesuítas levados por Tomé de Sousa, o 1º
Governador-Geral do Brasil; a Nova Lusitânia, a Capitania de Pernambuco,
a Florença da América; vultos como Manuel da Nóbrega (fundador de S.
Paulo, 1549), José Anchieta, (linguísta, teatrista e beato, com o Papa
João Paulo II em 1980), António Vieira (o Padre dos Sermões), Alexandre
Gusmão (percursor do romance) e o Conde de Sabugosa (fundou o Teatro
secular no Brasil), o Vice-Rei das Sesmarias; o enriquecimento
cultural de D. João V, com Academias e Colégios.
O terror pombalino e
a sua censura, como a de Pina Manique não deixaram florescer estas
sementes. Elas iriam desabrochar, com os Românticos e Mecenas já
citados, principalmente pelo Som da Música Clássica, com os irmãos
Croner e Mestre Ivo Cruz, o brasileiro fundador das Orquestras de Câmara
e Filarmónica de Lisboa, com Francisco Freitas Gazul e a Família
de Freitas Branco, pelo Som da Música Ligeira de Raúl Ferrão e Lopes
Graça. As vozes de Carmen Miranda, de Stella Tavares, Amália Rodigues e
Cesária Évora, são 100 anos de uma Mensagem escrita de Fernando
Pessoa e de Agostinho da Silva, pintada por Almada Negreiros e
Lima de Freitas, teatrealizada por Luísa Durão e Vasco Santana,
televisionada por Pedro Homem de Melo e Vitorino Nemésio.
Nova Lusofonia de
eternas 7 Notas com novas reformas de som e grafia do Português, sendo o
nosso melhor filólogo Aniceto Viana (1840/1914), o Nauta da Reforma de
1911, o maior erudito do Mundo em línguas, abrangendo o remoto
sânscrito. Serão novas letras para o imortal lexicrógrafo Cândido
de Figueiredo compilar em Novo Diccionário da Língua
Portuguesa, dizendo o grande brasileiro Rui Barbosa que este
Académico das Letras seria sempre “a maior das nossas competências
actuaes em materia de lexicologia portuguesa”. Estas e outras
obras de vulto publicavam-se então na Imprensa Portugal-Brasil,
Sociedade Editora Arthur Brandão & C.ª, um de tantos pilares que não
emanava de acordos de grandes comitivas políticas.
Não se falou em
tantos Nautas de hoje, muitos deles fazendo lusofonia fora das Barcas,
ou na Nova Barca da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Na
prática, esta idealizada Barca só começou a ter Amarras 600 anos depois
se erguer o Mosteiro da Batalha, com Mestre Afonso Domingues, 500 anos
depois de Vasco da Gama rumar ao Oriente, 400 anos depois da morte de
Filipe II de Espanha, 300 anos depois da descoberta do Ouro do Brasil,
200 anos depois da loucura de D. Maria I, 100 anos depois do
Tratado de Paris, ou seja a EXPO 98 de Lisboa, com a sua Ponte Vasco da
Gama e o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago.
Que a CPLP siga a
Rota da Barca Luxitânia, das Artes, Ciências e Letras, sem lhe darem os
Governos um acento de Forças de Manutenção de Paz. As Musas e os Mecenas
surgirão sem Guerra. O Mundo do séc. XX alastrou a sua I Guerra até hoje
por ter afundado o Navio Lusitânia, em 1915. Hoje ela se mantém,
pela Cimeira dos Açores e talvez assim dure até 2015. Assim, gerida que
que está a Barca sem Marinheiros da Luxitânia, não haverão Musas e
Mecenas, pois dissemos ao Mundo que o petróleo se chamava Fundação
Calouste Gulbenkian, o crude da Paz e da Cultura, um dos Baluartes da
lusofonia.
A avidez do lucro,
de uma Matriz de Trevas de fim de Ciclo, derrama este crude de
Finisterra da América, ou Alasca, à Finisterra da Europa, ou Galiza,
condicionando independências, como o ouro, a prata, os diamantes, as
sedas, as madeiras preciosas e as especiarias impediram que o que a
Barca Luxitânia rasgou fosse verdadeiramente livre e independente.
Tenhamos Fé e Esperança para que a Barca da CPLP leve a Caridade ao
Mundo, já que o Planeta está enfermo de Justiça, Misericórdia, Prudência
e Força Espiritual, apesar de tantos Credos de Fé e alegados Iniciados
de Mistérios. Não precisamos de Césares, precisamos de Sertórios. Assim
seja o Canto da Barca Luxitânia na Lusofonia de Cesária Évora.
Termino evocando
todos quantos aqui não foram recordados na figura de 2 Bispos, um como
início do da Partilha da Barca dos Mares, outro como o fim do Império da
Barca dos Nautas: D. José Caetano Coutinho, Bispo do Rio de Janeiro, o
entusiasta da Independência do Brasil, sagrando D. Pedro I a 1 de
Dezembro de 1822, presidindo à Constituinte e à Assembleia Legislativa e
depois ao Primeiro Senado (1827/1831); D. Ximenes Belo, Bispo de Timor,
o entusiasta da Paz para um Independente Timor. Sejam estes Prelados o
símbolo das lutas de séculos para sermos livres, longe da Mater, da Mãe
Gea que nos gerou. Cantava Ary dos Santos e interrogava Natália Correia
porque não dizer Mátria em vez de Pátria. Digamos, por isso, Barca e não
Barco, pois Ela é Arca e não Arco.
João Santos
Fernandes
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