Os dias de hoje são caóticos, o stress está no nosso
corpo e na nossa alma mesmo depois de um fim de semana bem passado,
entranhando-se desesperadamente, a saúde ressente-se da falta de tempo e
as soluções para este tipo de problema parecem impraticáveis. O que está
ao nosso alcance fazer sem gastar dinheiro que possa contribuir para
melhorar a nossa qualidade de vida? Querem um exemplo? Meditar…
Meditar é como estar a
dormir profundamente, é um relaxamento profundo mas simultânea e
paradoxalmente, com uma grande perceção fruto de uma mente que se mantém
disperta. A meditação revela uma nova dimensão da consciência e da vida,
uma fusão serena com algo de imaterial, uma forma mais integrada entre o
interior e o exterior, portanto, mais plena. Meditar não é refletir
sobre determinados assuntos, não é concentração mental com o objectivo
de focar a atenção em alguma coisa. É um caminho de silêncio, de
encontro com o mais fundo de nós que se faz gradualmente á medida que se
vai meditando e está próximo da contemplação. É um abandono do ruído
exterior e da corrida do dia a dia e um penetrar no ruído interior com o
fim de o eliminar na busca da verdadeira voz de nós mesmos. Implica uma
postura de despojamento relativamente ao poder que nos confere esse
mergulhar da mente. No estado de meditação deixamos de estar embrulhados
em pensamentos, interrogações, preocupações, conflitos de toda a ordem,
desejos, sem ego e sem motivações, não se faz com esforço. Atinge-se um
estado de total harmonia com o ritmo do nosso mundo interior e com o que
nos rodeia. O que nos pode , então, trazer a meditação? O descanso, o
bem estar, a tranquilidade, a alegria e a graça da descoberta de um
sentido da vida, uma fonte, um lugar onde esse sentido habita. A
meditação é como que um estado de bem-aventurança em que lenta e
gradualmente nos podemos ir confrontando com todos os condicionamentos
do corpo e da mente, cm todas as rugas da nossa alma, eleva-nos o nível
de consciência, passamos de um estado de perceção grosseira a um estado
de perceção mais subtil. Daí que haja um trabalho de purificação
interior que cada um de nós tem de fazer apercebendo-se do movimento da
sua mente sem interpretar, analisar, comparar, julgar. A meditação
ajuda-nos a vencer a resistência ao que acontece de menos bom, ás
contrariedades, á irritação. Normalmente as nossas respostas são
condicionadas de acordo com a tradição, as ambições pessoais, as
motivações, a cultura. Aquilo que a meditação nos convida é a inverter a
marcha, crescer em vulnerabilidade, ternura, flexibilidade, deixar de
estar condicionado. Observar os pensamentos tal qual eles nos surgem
sentados confortavelmente com os olhos fechados. Isto requer uma
aprendizagem e tempo. Temos de o aprender no dia a dia sem fazer mais
nada. A pouco e pouco este estado começa a penetrar-nos, a invadir-nos
em todas as atividades da vigília e a partir da í passamos a estar mais
atentos a tudo, constante e intensamente conscientes de tudo o que ao
redor existe – árvores, pássaros, sons, edifícios, trânsito etc. Já não
estamos cegos, a sensibilidade aumenta, estamos a perceber o que se
passa no exterior e o que acontece no nosso interior. Esta observação
abre-nos canais de energia, de atenção, de perceção. Agora os impulsos
inconscientes de raiva, ciúme, ódio, continuam lá, mas a nossa reação é
de aceitação, conteúdo do inconsciente começa então a surgir e a
sugerir-nos coisas novas, por vezes sob a forma de visões ou
experiências não explicáveis racionalmente. Dá-se uma abertura da mente
que se pretende total. Já sem ter de nos acompanhar como habitualmente,
os impulsos, s pensamentos, as emoções, a energia está livre para se
exprimir na sua totalidade. Quem vive nesse estado torna-se imensamente
criativo, uma criatividade que acompanha o fluir do imenso movimento da
vida. Como nos diz António Damásio, no cérebro temos uma representação
do corpo, o corpo é algo em que podemos pensar, um tema a ver e também
podemos sentir esse mesmo corpo. Com a meditação acontece um tipo de
visualização que tem um profundo poder curativo sobre o nosso corpo,
quase que podemos sentir o stress a sair e um certo grau de libertação
das energias negativas; as imagens mentais da meditação são ténues
porque o importante é esvaziar a mente mas dá-se um sossegar do corpo e
da própria mente, através da clarificação dessas imagens que se tornam
ténues.
Há vários tipos ou métodos
de meditação, tão profusamente divulgados quanto o podem ser hoje em dia
as técnicas que ajudam a viver melhor o nosso quotidiano. Queria
falar-vos daquela que aprendi e pratico já há dez anos, a técnica da
Meditação Transcendental do mestre Maharishi Mahesh Yogi.
A Meditação Transcendental é
uma técnica muito simples e natural que permite que a atividade mental
se aquiete até atingir um estado de maior quietude interior, produzindo
um profundo repouso mental e físico. Este aquietamento permite que duas
coisas aconteçam: em consequência do repouso obtido, o stress profundo é
eliminado e em consequência do aquietamento mental, entramos em contato
com os níveis mais profundos e mais criativos da nossa própria
consciência. Durante a MT, a mente permanece completamente vigilante. A
pessoa está consciente daquilo que a rodeia, acordada por dentro, mas o
corpo está num estado de profundo repouso e a mente está mais sossegada.
No estado mais profundo de meditação, a atividade mental está
completamente silenciosa mas a pessoa está plena e claramente
consciente, é um estado de silêncio interior, de alerta em repouso. É
chamado Consciência Transcendental, porque afinal de contas é um estado
de consciência, não de inconsciência, onde os estados mais ativos do
processo de pensar foram transcendidos, ultrapassados enquanto a mente
está desperta mas silenciosa. A meditação leva cerca de 15 a 20 minutos,
duas vezes por dia, sentando-nos confortavelmente com os olhos fechados.
A altura em que se costuma meditar é de manhã e á noite, antes de comer;
é uma preparação para a atividade, não uma forma de fuga á realidade, o
efeito é refrescar, revitalizar e purificar a pessoa, de modoa que ela
possa levar mais da sua criatividade e vivacidade a tudo o que esteja a
fazer, seja o que for. A MT não é uma religião no sentido habitual do
termo, visto que não depende da fé para os seus efeitos, a prática não
envolve credos, dogmas ou doutrinas, nem artigos de fé ou atos de culto.
Então, na MT em que meditamos? A técnica envolve a utilização sem
esforço de um som específico, ou mantra, o qual é criativo no seu efeito
e adequado para o indivíduo ao qual é atribuído depois de algumas
indicações dadas do seu estado de saúde e tipo de personalidade ao seu
professor de meditação e atribuído por este. É um simples som, sem
significado ou associação de ideias, que permite á mente tranquilizar-se
enquanto permanece vigilante e focalizada. Isto é importante, porque a
meditação não é um estado em que se perde a focalização da mente, ou em
que se deixe a nossa vontade é mercê de qualquer impulso mental
passageiro. O meditante tem sempre a meditação sob controle, visto que
basta abrir os olhos para que o processo pare automaticamente. Do mesmo
modo, fica á escolha do meditante entregar-se a um devaneio ou voltar ao
uso correto do mantra. O mantra não é uma forma de oração de louvor, de
pedido ou de adoração, não meditamos tanto sobre o mantra mas com o
mantra. Utilizamos o mantra para conservar a mente vigilante, enquanto o
som é experimentado em níveis progressivamente mais sossegados até que
se perde. Neste estado mais profundo de meditação, a experiência da
Consciência Transcendental, o próprio mantra é deixado para trás.
Experimentar o Transcendente é um fenómeno percetivo, sem stress
passamos de um estado de perceção grosseira da realidade a níveis mais
subtis de perceção e isso é Consciência Transcendental. O efeito do
mantra reconhecido como benéfico, dá-se ao nível da atividade das ondas
cerebrais que se torna muito mais ordenada, um estado de coerência ou
sincronia das ondas cerebrais. Estas mudanças fazem-se sentir também a
nível espiritual. Longe de deixar a pessoa indiferente, o fato da MT
estar removendo o stress e a tensão, o fato de estarmos menos envolvidos
nos nossos próprios problemas e neuroses, significa que estamos mais
disponíveis para ajudar os outros. À medida que a nossa consciência se
torna mais clara devido á remoção da nebulosidade mental e emocional,
começamos a ver com mais clareza, com mais compaixão, as necessidades
dos nossos companheiros. À medida que nós próprios nos tornamos mais
fortes, perdendo o medo e tornando-nos mais corajosos, podemos ser muito
mais úteis. O amor cresce no meditante, naturalmente, á medida que os
bloqueios á efusão do amor se dissolvem. A natureza da vida é crescer,
expandir em realização. A meditação em si mesma podia-se chamar um
afastamento, um puxar a vida para trás, em direção á sua fonte
silenciosa mais íntima. A prática da Meditação Transcendental constitui
uma experiência única e pessoal. São reconhecidos os seus benefícios por
muitas pessoas a nível da saúde e do bem-estar, mundialmente, aqui fica
o convite, “Medite!”. |