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P. Vítor Gonçalves |
Ressuscitar cada dia |
BAPTISMO DO SENHOR Ano B
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Arrumamos com cuidado o presépio, assinalamos na agenda as datas especiais e aniversários, preparamos a mente e o coração para os dias de crise que todos prevêem. Do Jesus menino adorado pelos Magos saltamos com Ele para as águas do Jordão em que é baptizado. Como quase todos nós, ainda mal entrados na vida, logo a ser mergulhados na abundância de um amor imenso. E tantas vezes julgamos que isso foi há tanto tempo! Que do baptismo apenas ficaram as fotografias, a vela e o vestido! E contudo o nosso baptismo, longe de qualquer ideia de magia, é um dinamismo de vida constante. Interpela a autenticidade do nosso viver, a grandeza dos nossos sonhos, a coragem nas dificuldades. Creio mesmo que é a sua força que nos leva a ressuscitar cada dia, como diz José Carlos Bermejo: "Cada vez que nos 'pomos em pé', ressuscitamos. Cada vez que conseguimos que triunfe a vida e o amor sobre qualquer forma de morte e limite humano, apostamos e experimentamos a ressurreição." Uma das mais profundas experiências de ressuscitar é a do perdão. Jesus é indicado por João Baptista como o Cordeiro que tira os pecados do mundo. Quer dizer, Aquele que perdoa! O que dá a possibilidade de curar as feridas, de reconstruir o que parecia condenado à morte, de manifestar a beleza, não de quem é perfeito, mas de quem pode aprender com os erros. Claro que o perdão é um longo caminho, e também passa pela morte, que o banho baptismal simboliza. A morte do orgulho e do egoísmo, a morte da auto-suficiência e das aparências, a morte dos limites postos ao amor e dos sonhos que não vão mais longe! E toda a morte dói muito! Sim, em pequenos e grandes gestos somos capazes de morte, mas Jesus também nos vem confirmar que somos capazes de ressurreição. "Nascer de novo", pela água e pelo Espírito, como escuta, no meio da noite, Nicodemos, não é algo distante de cada um de nós. É desafio em cada dia, mas especialmente naqueles que as nossas piores escolhas encheram de trevas. A tristeza, a mágoa, a revolta, a traição e o medo não se curam facilmente; só com um amor sem limites. Mais do que esquecer, perdoar é redescobrir a vida em abundância que hoje nos é dada para darmos! O baptismo, sempre presente em nós, implica mergulhar fundo na vida e mergulhar fundo em Deus. Pobre é quem fica no cais, quem se agarra ao medo e às seguranças. Sempre que mergulho, ressuscito e posso ser instrumento de ressurreição. E então, "onde havia abatimento, há rosto erguido; onde havia solidão, há comunhão", como escreve José Carlos Bermejo. Queres arriscar ressuscitar um bocadinho? |
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