Passei fora o fim de semana e é de fora que eu vou falar. Quando tudo foi delineado, destinava-se a saída a descobrir um «caminho» judeu na zona de Trás-os-Montes.
Mas bem depressa tudo se modificou, para visitarmos as gravuras de Foz Côa e encarar uma guia que pouco tinha de simpatia, até ao momento em que deve ter sentido que o grupo também não seria tão fácil como ela imaginava. A Canada do Inferno foi mais uma desilusão para mim, que visito pela segunda vez as gravuras, a Canada do Inferno pela primeira. Parafraseando a palavra da guia, que repetiu, «estamos num País democrático, tudo se pode discutir», ousamos discutir o modo como se orienta uma visita e se quer impor um ponto de vista muito, muito “discutível”. Pior pareceu outro grupo, onde estava parte do nosso. Assim, Foz Côa pode dizer que não pode receber mais visitas para preservar o património rupestre e queixar-se, ao mesmo tempo, nos jornais, de que só vêm uns tantos milhares...
Mas a nóvel Cidade de Foz Côa estava animada com a Festa da Amendoeira e aí tudo era diferente. O encontro com amigos foi ocasião de festa e, aí, tudo bem.
Freixo de Espada à Cinta marcou o final do dia, depois do encontro com a natureza no Penedo Durão e a observação de outra maravilha da Natureza, os grifos em grupo mais numeroso do que observáramos anteriormente, em voos altaneiros ou «aterragens» limpas, ali aos nossos pés. Este é espectáculo que não cansa.
Uma passagem rápida pela X Feira Transfonteiriça deu para descobrir o conjunto de artigos ali expostos para ver (Turismo) ou vender/comprar (Comércio). Ali queríamos voltar depois de jantar para uma visita mais tranquila, mas tudo fechara já. Uma visita pela Vila foi a actividade seguinte, numa primeira descoberta dos sinais da passagem dos judeus por ali, antes de uns se recolherem aos quartos e outros ouvirem Jorge Palma. E tivemos de voltar no dia seguinte, para nova visita à Feira depois de uma parte do Grupo ter olhado as portas e janelas judeo-manuelinas, que deram a Freixo o nome de «Vila Manuelina»; um conjunto notável com a curiosidade de alguns quererem saber a razão do nome, melhor compreendido depois de ver o símbolo gravado na pedra e o freixo, em árvore centenária defendida já com «pensos» de cimento para atrasar a velhice.
Mas no programa do dia 2 de Março estava marcada a «Missa da Amendoeira» e, nela participei, concelebrando, com o Pároco, P.e João António de Barros e um Cónego jubilado da Diocese de Macau, natural de Freixo e, agora, voltado à terra natal. Confessando-se um braço direito de D. António Rafael, ofereceu-me, amigavelmente, a presidência, que declinei. O que podia fazer e dizer um forasteiro em dia de Festa e Festa da Vida celebrada na Eucaristia da Amendoeira?
Um Coro espanhol tinha vindo para solenizar a Eucaristia e deu um pequeno Concerto no fim da Eucaristia; não estivemos até ao fim, pois havia ainda um longo percurso a fazer. O almoço na Barca de Alva, na margem direita do Douro, serviu para retemperar forças, antes de atravessar a povoação, animada por feira ao ar livre, com produtos regionais e outros inseparáveis já de qualquer festa ou feira. Parar ali seria um suicídio turístico do grupo, que rumou a Castelo Rodrigo, em visita parcial de um grupo que sentia o cansaço e a necessidade de marcar outro número do seu programa cultural, que parece não querer parar.
A mim, marcou-me muito a Festa da Vida, na Eucaristia da Amendoeira, a única nos Concelhos que fazem a Festa da Amendoeira; a presença das Autoridades locais dava um tom mais solene à celebração e a curiosidade pelo Coro espanhol dava uma expectativa diferente; mas, foi a Eucaristia, em si mesma, que acabou por ser a Festa que reuniu a comunidade cristã à volta do Altar, esquecendo talvez, por momentos, o trabalho da amendoeira e a incerteza de uma colheita que tem sempre uns «compradores» antes de o produto final ir para casa do lavrador dar outra alegria pelo resultado de um trabalho paciente, para o qual ali foi pedida a bênção e protecção de Deus. E lembrei-me de umas amendoeiras que foram minhas e da minha família. Pelas flores e pelos frutos, pela amizade vivida nestes dias de modo diferente e especial, obrigado, Senhor!
P.e Armando Ribeiro
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