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ALTERNATIVA ZERO Ernesto de Sousa é uma figura polémica na cultura portuguesa, sem cuja referência a História da Cultura portuguesa ficaria profundamente mutilada. Ele não foi só um artista de vanguarda, um jornalista, um historiador da arte (clássica, moderna, popular e ingénua), um professor de arte, um fotógrafo, um poeta, um realizador de cinema e vídeo, um performer e o mais que agora me escape, ele foi também um alquimista, isto é, um mestre. Aluno de Química na Politécnica, partiria para aventuras muito mais arrojadas, e nisso investiu toda a sua vida, como um alquimista: viajando por esse mundo, sem ordenados certos ao fim do mês, sem empregos constantes, sem glórias, sem riquezas nem vaidades. Entre muitas outras, praticou a arte pobre, arte dos que valorizam qualquer suporte, pois não é na nobreza do suporte que está a arte, sim na nobreza de alma do artista - usou fotocópias, o manuscrito, a que ele chamava graffiti, usou terra e esperma como tintas, num envolvimento corporal com a obra, que é tanto da ordem da body art como da alquimia enquanto produtora de arte sacra. "Toda a arte é sacra", disse, e também dizia: "Sou ateu, graças a Deus!". Natural e artificial não tinham para ele qualquer valor como conceitos operativos, tanto trabalhou com o corpo como com as máquinas, tanto fotografou pessoas em pose como sem ela. A palavra "estética" era para ele algo do domínio dos cabeleireiros e das manucures, não distinguia "esteta" de "esteticista". Em vez disso falava de ética. A arte não era o objecto religiosamente guardado nos museus, embora também o pudesse ser, a arte era a Vida, com maiúscula. E como arte é a Vida, pouco importa que dada fotografia se use mesmo sendo má, mesmo estando desfocada. Ele usou e promoveu a arte da fotografia, sendo-lhe indiferente a qualidade técnica, porque arte não é o belo nem o tecnicamente perfeitinho, arte é ética e é Vida. Maria Estela Guedes |
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