entro no altar de um deus
antigo ou qualquer
ou inventado
mas um deus suficiente e vigilante e tudo
o que a esse deus compete
estende-me os seios o leite
a vida a juventude
para cumprir ritos antigos
............................................................sabemos pouco
............................................................e o diabo tece-as
............................................................e depois não custa nada
............................................................é uma leve corporal
............................................................genuflexão
ergo o corpo o teu corpo
o meu corpo
e a mão também
investidura
sei que vais morrer ou partir ou mudar
que mais podemos fazer
um abraço
duas mãos apertadas
enquanto um actor morre
morre ainda morre de novo
nas areias
no vento
nas dunas
adeus dizia alguém o barco partiu
a deus ajoelhado
o seu corpo é o teu corpo
é o meu corpo
inventaste um dia claro
não sabes o sussurro
da tua voz
a sombra da tua rugosa
superfície
o meu amor
não sabes os dias claros......................................agora
não sabes a revolução................... ......................quanto
o ranger da raiva..................................................lúcida
não sabes tantas coisas.......................................actualidade
que não morre
só tu morreste quando ainda não era tempo
a esperança latejava
faltava pouco
a eternidade sempre à espera
na máquina
no concerto
na montagem
mas o teu corpo ficou
no meu corpo
e o novo rito..............................o tambor dissipado
as trevas
volto-me para ela o seu corpo
é o meu corpo
como num desenho antigo a fotografia
o toque
a força erecta
a rocha aberta
o verão
a terra revolvida
o esquecimento
o heroísmo quotidiano
meu amigo
só te censuro teres partido assim
um pouco antes
da voz para ti confidente
e ritual
assim sem saberes
que ficavas
sem metafísica no meu corpo
vigilante e tudo e suficiente
como um deus qualquer
adeus
Janas, 1972