o corpoo....a mulher
corpo frágil do mundo
é redondo
tem a fortaleza das pedras
é terra
António Nobre
também eu
apetece-me comer terra algumas vezes
sim
o teu corpo
é a casa......onde habito.......................a minha
mas eu sou a casa
habitada
o lado de dentro
da paisagem
estendo a mão..............para a paisagem
e habito
a
os meus gestos
são
o teu corpo
a minha carícia é redonda
por dentro
porque o seu fim
é um começar
é um caminhar
no teu corpo
na sombra luminosa
do teu corpo
é um leve rumor de anatomia
aprendida devagar
como se tudo o que vamos inventar já estivesse
rigorosamente inscrito desenhado
ali centro de tudo
em............fim
re...............começado
digo mulher por hábito
por comodidade
mas na verdade o teu corpo
é um
e qualquer
o meu corpo...............a mão por exemplo
esta mão instante
X
a mão
por dentro
e não só redonda mas única
e central
digo ainda.............qualquer corpo
mulher eu
na tua carícia masculinafeminina
falo de ti
de todas as mulheres
porque não só me deixei embalar por ti
centro do mundo
e amor
como sabia
sempre o soube para lá de todos os figimentos
e utilidades
das nossas mais secretas metamorfoses
corpo menino e alimento
tu é que existes realmente
e tudo o mais
faz de conta
somos diferentes
faz de conta
e por isso nos vestimos e penteamos
nos vemos ao espelho
e mais a pintura
a cultura e a tatuagem
e os objectos invulgarmente sonoros
excitantes bem entendido
e propícios
mas tudo isso
são acessórios
é acessório
do nosso teatro corpo
do teu corpo
teatro macabro orgia
e a esperança ainda disponível
missa de cor
missa de som
ritual
porque só podes estar presente
a ausência do teu corpo
a tua ausência não é apenas insuportável.........impensável
o fim do mundo que
precisamente...........não tem fim.............é tempo
a tua ausência destruiria todas as razões e a fé
apagaria os caminhos
tornar-nos-ia imortais
e as casas.............vãs.........inexistentes
por isso não estás nunca ausente
as carícias pétreas e duras
maquinais
cristalinas
e do interior da terra
são
sinais
da tua presença absoluta
o teu corpo
é a virilha e o púbis
a palavra
a saliva
é por vezes um escuro gritar
e depois o suor estendido
ocupando a cama toda e a sombra e o recanto
o sono e a ternura
funda
de novo.........a terra
é ainda o meu corpo
as palavras que o designam
podem não ser ditadas para esta
qualquer memória
basta dizer
o sexo
o sexo
o sexo
como as...............fotografias do teu corpo
e os livros
e este livro
apenas ouropéis..........fingimentos
acessórios
da nossa metamorfose..........orgia
registo alquímico
da tua presença absoluta
agora
aqui
O TEU CORPO É O MEU CORPO
agora.........aqui:
teatro.........metamorfose orgia
o teu corpo
o meu corpo