Do Gabinete Informal de Prensa e Imprensa do Professor Doutor José Jagodes recebemos – para divulgação no País em geral e no Mundo em particular – assinado pelo seu Assessor de Noticiários & Agregados, ex-Comandante Tomás Figueira, a seguinte “press- realising”: ” Para os devidos efeitos, ou seja para gáudio dos seus inúmeros leitores, admiradores ou simples particulares, informo que o Sr. Doutor Jagodes, neste momento novamente no País após ter estado fora a reger num conhecido Estabelecimento de Ensino a sua célebre disciplina de Metafísica Objectual Aplicada, concedeu uma entrevista, que qualificamos de pasmosa, à distinta publicista freelancer Lina Carvalhosa que, acompanhada pelo seu fotógrafo privativo Benjamim Vistagrossa visitou o grande pensador na sua mansão de Linda-a-Velha. Adiantamos já que, conforme certas fontes geralmente bem informadas divulgaram, foi efectivamente verdade que a dada altura se registou uma viva altercação entre o Doutor Jagodes e o fotógrafo, confronto esse que teria partido dum disparate que Benjamin Vistagrossa teria incrementado e que… Mas não nos antecipemos, os leitores ficarão cabalmente cientes pela leitura integral da entrevista – a aparecer em diversos periódicos e, primeiramente, no habitual espaço cultural e informativo que usa dar a lume as produções do Doutor Jagodes.
De V.Exas. muito cordial e
atentamente, Tomás Figueira”
ENTREVISTA A JOSÉ JAGODES
“SÓ SEI QUE NADA SEI!”– Declarou à nossa repórter o Doutor José Jagodes, com a sua proverbial modéstia, durante o diálogo que manteve com Lina Carvalhosa (LC) e, adicionalmente, com o fotógrafo Benjamim Vistagrossa (BV) aquando da entrevista perpetrada na sua mansão de Linda-a-Velha.
O encontro, digamo-lo desde já, teve momentos de alguma crispação, mormente quando foi abordado o lançamento, sucedido recentemente, do seu livro “Congeminações teóricas na Baixa Idade Média”, profundo estudo em que o notável pensador se debruça sobre o tema das teorias conspirativas entre os pré-godos peninsulares e que foi valorizado pelo prefácio do Professor Vasquez Ferrabraz, hoje por hoje um dos maiores – se não o maior – especialistas nessa interessante matéria.
Saliente-se que logo de início, o que traz elementos iluminantes para melhor entendimento da controvérsia entre Benjamim e o Doutor Jagodes, se registaram fricções que… Mas os leitores verão pelo que a seguir se lerá.
Lina Carvalhosa (LC) – É com muito gosto, Doutor Jagodes, que aqui estou imbuída desta missão de o trazer de novo ao contacto com os nossos leitores. Há um certo tempo que se mantinha num relativo afastamento…Isso deveu-se a…
José Jagodes (JJ) – Apenas ao facto de eu ter estado, nos últimos tempos, a reger uma cadeira de Mística Conjectural e Matemática Pró-Activa na Universidade de Westford-on-Tyne, onde como talvez saibas sou professor convidado depois de ter terminado o meu contrato na Sourbonne onde durante mais de 6 anos tive a meu cargo a cadeira de caracteriologia e em que dei a lume o meu já quase clássico “A Vociferação nos Tempos Arcaicos e pós-Modernos”. Mas antes de passarmos à acção, e para começarmos bem, convido-vos a degustarem comigo um calicezinho de Vat 47, a meu ver a melhor bebida do mundo e arredores!
LC – Aceito, Doutor, já que é tão simpático…
BV – O Doutor, se me permite, não terá por aí uma Vodka? É a bebida que melhor me quadra. E devo dizer, com sua licença e escusando-me desde já, que acho ser a vodka muito melhor que o Vat 47…Essa sim que é a melhor bebida do mundo!
JJ –Achas que sim? É a tua opinião, que eu respeito mas não concordo. O Vat 47, esse uísque dos bons gastrónomos, até tem um efeito que beneficia o coração…Abre as artérias e dá alegria aos taciturnos!
BV – Talvez…Mas além do mais há o aspecto sócio-moral…
JJ – Sócio-moral?! Não te estou a perceber, moço…!
BV – Não? Mas eu explico já: o Vat 47 é um produto fabricado no universo económico do neo-liberalismo! É a bebida típica dos argentários…Dos que só se interessam pelo financismo, que tanto mal tem causado ao planeta! A vodka, para além do saboroso paladar que a recomenda, é um produto do universo progressista, e lembre-se por exemplo que há cem anos, precisamente, ela vem ajudando os povos a caminhar com alegria nos caminhos justos e de…
JJ – Alto lá! Queres tu dizer na tua que há bebidas progressistas e outras reacionárias? É isso?
BV – Exactamente, Doutor! Não esqueça a frase famosa, dum grande conhecedor, que disse que nós somos o que comemos. Naturalmente também o que bebemos…E embora não se dê conta, ao engorlipar esse tal uísque de que parece gostar tanto o Doutor está a fazer de si um manipulado pelas prestações anti-populares…da alta burguesia e derivados…
JJ – Eu acho é que tu estás é a ser politicamente correcto, o que me deixa com farnicoques. Mas pronto, não queres o Vat 47 não bebas. Ficas a secas, porque aqui, além do uísque, só tenho um conhaque Napoleão!
BV – Ou seja, material claramente oriundo das mesas e instancias monárquicas. E devo acrescentar, já agora…
LC – Meus senhores, detesto interromper mas acho que nos estamos a desviar do assunto nuclear que aqui nos trouxe! Passemos adiante e vou já questioná-lo Doutor: consta que o senhor tem estado a atravessar uma fase de nostalgia. É isto verdade?
JJ – Talvez…Mas isso deve ser por razões vindas a lume recentemente…Então e agora, que foi revelado que o homem afinal não é engenheiro, como é que os seus causídicos, com aquela voz profunda e bem timbrada que principalmente um deles usava, vão tratar o Temístocles quando estiver a contas com membros da comunicação social??! E eu que gostava tanto de ouvir, principalmente o causídico gordo, a referir: o senhor engenheiro acha que, o senhor engenheiro entende assim e assado…Fico um bocado macambúzio, confesso!
Benjamim Vistagrossa, artista fotógrafo
LC – São coisas da época, Doutor…Coisas da vida felizmente em democracia, não concorda? Mas já que estamos a falar em democracia, o senhor não acha que relativamente se tem estado a atravessar um período ligeiramente…controverso? É que as coisas parecem algo contraditórias, no que respeita à tradição das forças políticas: os que usualmente protestavam andam calados e tranquilos, os que pelo contrário torciam pela calma nas ruas é que expandem protestos e até…
JJ – Nunca ouviste dizer que mudam-se os tempos mudam-se as vontades? Hein? E já que abordaste esse tema, vou-te citar uma frase dum colega antiguinho do nosso ex-premier, curiosamente também de nome grego, um tal Aristóteles: “Quando a democracia se desgasta e se debilita é suplantada pela oligarquia”. E queres melhor exemplo de oligarquia do que aquilo que agora temos? Só que é uma oligarquia de novo tipo, bem disfarçadinha mas inegável e onde, se protestas, te cai logo em cima uma chusma de imprecações nas redes sociais que até ficas escanifrado! Ou seja, o preâmbulo a coisas menos amáveis, que é para aprenderes a não incomodar…
BV – O doutor desculpe a interrupção, mas eu acho que quem manda manda bem! Além disso são a expressão do querer popular, dos desejos populares que são quem mais ordena!
JJ – Ai sim?! Mas o querer popular, se bem me recordo, disse precisamente o contrário, moço. O resto foi arranjinho habilidoso mas que serviu principalmente para safar a carreira dum mangas que, doutra forma…
BV – No meu entender, tudo o que se fizer pelo zé povinho é justificado!
JJ – Mesmo contra as regras éticas?
BV – A ética, já o disse um grande pensador que foi também um extraordinário dirigente que visava os amanhãs que cantam, deve estar ao serviço dos fins magníficos que se perfilam no horizonte! O resto é conversa anti-popular.
JJ – Ou seja e trocado por miúdos, o que tu queres dizer é que como reza a frase canónica não faz mal mentir desde que isso beneficie o interesse do proletariado, o que significa realmente o interesse do Comité Central, não é?
LC – E lá estão os dois de novo a fugir ao tema! Vamos mas é prosseguir, Doutor…Creio que o senhor também se sente muito magoado com o que sucedeu recentemente, não é verdade?
JJ – Referes-te à famosa polémica com os mails do Benfica?
LC – Não, Doutor, refiro-me à desgraça dos fogos!
JJ – Claro, moça, que me sinto magoado, pois então! Mas contra as condições adversas do clima pouco se pode fazer…
LC – Mas parece que não foi só o clima…as altas temperaturas pós-estivais. Parece que o Estado andou às aranhas, que tudo ficou meio empanado…numa confusão calamitosa…
JJ – Talvez…Mas são azares e, como disse aquele homem público cujo nome não recordo de momento, agora que tudo estava a correr tão bem é que aparece isto dos fogos…!
Palavras sensatas, que mostram que até no meio da confusão há sempre alguém que mantém o sentido do essencial, ou seja dos interesses da classe dirigente, que é para dirigir que ela serve, sem se deixar estorvar por aproveitamentos políticos de crítica.
Doutor José Jagodes num flash mediático
LC – Mas não acha que a crítica, mormente nos quadros que a Constituição garante, é um bem e não um mal?
JJ – Claro, eu estava só a reinar um bocado contigo, a fazer espírito para aligeirar o ambiente!
LC – Ah, bom! Agora, Doutor, uma questão menos triste: segundo julgo saber, o lançamento do seu livro “A Vociferação nos Tempos Arcaicos e Pós-Modernos”, que teve lugar num salão dum dos mais conhecidos hotéis da Capital, parece que foi um êxito de público e de vendas…
JJ – Tens razão. Foi de facto algo que até me comoveu.
BV – O Doutor permite-me um aparte? Não sei se sabe que circularam boatos de que muitos dos seus numerosos amigos teriam comparecido apenas com o intuito de comprarem livros às dúzias e meias-dúzias para elevarem a obra no ranking da especialidade…
JJ – E lá vens tu outra vez com disparates…! Pensas que sou algum escrevente sem caracter, capaz de uma coisa dessas? Um tipo que procedesse assim só mostraria o seu baixo estofo, a sua falta de vergonha e eu prezo-me de as minhas obras singrarem sem truques desse cariz. A “Vociferação, etc” é um volume que se impõe pala justeza de tom, sem arlequinadas de baixo calibre, e tal como o anterior, onde são descriptadas as parlapatices das teorias da conspiração antigas e provavelmente modernas, vale pelo seu intrínseco articulado que…
BV -…Mas da fama não se livra, Doutor!!!
JJ – Ou queres sugerir que neste momento o que importa é um manguelas qualquer vir com conversas que mais parecem paranoias, com licença da mesa…?
LC – Meus senhores, então?
JJ – É que aqui o Benjamim dá-me comichões…
LC – As discussões a mim incomodam-se. Até parecia que estávamos no Areópago Nacional…em dia de plenário…
JJ – Pronto, eu modero o tom de voz. Queres perguntar algo mais?
LC – Quero referir-me a assuntos momentosos da circunstancia nacional…
JJ – Queres referir-te àquelas coisitas acontecidas com o Tony Carretas? Digo-te já que de certezinha não houve copianços, quando muito só teria havido, sei lá, influencias ou mesmo sugestões…para acentuar os romantismos…
LC – Não, não, referia-me era ao que tem circulado em certas fontes bem informadas, de luzes estranhas de noite, que até se supõe serem oriundas de objectos esvoaçantes não identificados…sobre o logradouro-perímetro de Retrancos…
JJ – Não me digas que também acreditas na tese de que o Sol dançou…Lá naquela vez…!
LC – Não sei, Doutor, mas lá que os alienígenas parece que são capazes de tudo…para tentar lixar os trabalhos da Geringócia… é uma grande possibilidade!
BV – Claro! E se calhar esses tais alienígenas estão ao serviço do Trompas. Só para lixarem uma solução governativa que tem sido a admiração do Mundo! Que o estrangeiro olha com inveja e mesmo vendo nela uma lição!
JJ – Tu hoje estás mesmo de todo, ó Benjamim. Daqui a nada se calhar até me vais falar nos argumentos empregues por quem de Direito para justificar as berlaitadas aplicadas com uma moca de pregos a uma alegada adúltera…
LC – Não, eu acho que o Benjamim não irá tão longe…
JJ – Que nisso de argumentos invocando os conselhos da Bíblia…É de não irmos por essa via, valha-nos deus!
BV – Mas que são conselhos sensatos, são. E até noutros calhamaços sagrados isso é contemplado. Veja-se por exemplo o Corano!
JJ – Coisas do sector ideológico religioso não, moços! Recuso-me a ir por aí, isso é matéria em que devemos manter um certo recato – que isso até me mete medo. E eu, como dizia o Outro, “só sei que nada sei!”
LC – Também digo, Doutor. Bom, para terminarmos gostava de ir por outro caminho, consensual e legitimamente alegre.
JJ – Sim, vamos mas é terminar com uma coisita que até nos causa uma justificada comoção – o quinto prémio futebolístico mundial atribuído ao nosso grande Arnaldo! Isso é que é algo de transcendente, até as chatices que envolvem a Pátria ficam irrelevantes!
LC – Melhor que isso só a perspectiva do nosso Sport verdinho ir ganhar este ano o Campeonato!
BV – E o caso da nossa talentosa Madorna ter escolhido Lisboa para morar. Isso é que nos diz e demonstra que a Nação vai por bom caminho, com o nosso Costavich ao leme tudo se resolverá a contento!
LC – É bem verdade, Benjamim. Não acha, Doutor?
JJ – Longe de mim querer desiludir a vossa, hum, esperança no futuro. E faço votos para que no Inverno que se aproxima não venham para aí umas marotas inundações que deitem água na fervura…Que a Proteção Civil nos defenda, como costuma dizer-se. Não é?
LC –Também digo, Doutor Jagodes. Resta-me dirigir-lhe um muito e muito obrigado por esta agradável conversa e…até sempre!
(Nós também, penhorados, agradecemos a Lina Carvalhosa o ter-nos permitido transcrever em primeira mão o presente trabalho, valorizado pelas fotos do singular Benjamim Vistagrossa, artista fotógrafo de muito valor).