segundo encontro na quinta do frade: «ARTE, CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE»

Segundo Encontro. Tema: Arte, Ciência, Espiritualidade . 19 de Novembro de 2016 . Casa das Monjas Dominicanas | Quinta do Frade, Lumiar


 
RISOLETA PINTO PEDRO

Os planetas



Marte

 

Hoje é dia de Juno, mãe de Marte

É a ela que procuro antes do filho porque antes do filho sempre veio a mãe:

 

Perscruto no céu o reflexo dela

na mão o saco

das oferendas

transporto pleno

o saco e eu

no bolso a antena

na esperança

do milagre

na mão o saco das oferendas

que outrora foi o ouro

e hoje é de outro ouro

chamado negro

o plástico filho

um outro Marte

de uma outra Juno

e Hermes sou eu hoje

brandindo na mão a vara

em que as duas serpentes

atentas como antenas

vibram

e já é voz.

Na mão o saco do milagre

que depositarei como oferenda sobre altar

no contentor do amor

porque hoje é dia de Juno

mãe de Marte.

Do outro quase lado do planeta

uma voz estremece

ecoa no corredor largo e longo

e logo vibra na oitava de todos os tons

porque hoje é dia de Juno

mãe de Marte

e um saco de oferendas na mão

faz o milagre

de sob o firmamento

à distância do dever

erguer

a tenda da reunião.

 

Procuro então o  filho:

 

Pobre pele pisada

cortada

beliscada

fendida

ofendida

pele em ferida

ardida…

Em que longínquo tempo desististe tu

da luz?

Quem te deu a maldita espada

com que tua alma se feriu

desatinada

desanimada

desalmada?

Cercado por um demónio e um medo

com crosta como pele

e pele como escudo,

em que obscura nebulosa guardaste

a escondida

inocência,

Marte?

Envolto em ferro

até o sol te queima

não te aquece.

Até o céu, vermelho

te enrubesce.

Já foste ameno e estrela!

Por quem caíste por quem

te viste

triste?

Nem o disfarce te esconde

nem a grandeza se impõe:

mas em ti está o Olimpo

e sinto

que passado

 o tempo

voltarás a ser templo.

Vem:

Aqui está a espada

transfigurada

de doce lâmina

magnânima.

Virei do lado do sol

afagar-te a pele.

Se tu deixares

Eu

Juno

tua mãe

 poderei finalmente

e em todos os princípios

consolar-te e

suavemente

A

Mar-te


 

Júpiter

Descendo do sol

o quinto

Ser.

Emfrente semvirar.

O quarto. .. se o olhares daqui

lá onde está

no assento glorioso e claro.

Não há que

duvidar ou temer: o quarto a subir, o quinto a descer.

Olha-o com teus olhos nus. Não receies.

Grande como um pai

de antigos anos.

Leve como amor

de primeiros dias

e tempos recuados.

Esférico como seio

do primeiro pão.

Amigo de patrícios

decorado de anéis

Rei de Reis.

Quando sondado

revela estranho mar.

Quando olhado,

preciosa pedra

polida para um rei.

A Ti agora

Falo:

Em Ti espero

Pai

Ó Justo

Em ti deponho minha fé

Em ti expando tudo

o que não tenho

Em ti me refugio

Tudo creio

e não  receio.

Ó Fogo sonhador…

 

 

 

Neptuno

Esfera adorável e

 mutável

com

paixão.

Abre-me as portas

para os mundos

sensíveis

daqui

transcender

Primordial ser Sonho

colectivo ou

Mito

que me aquece o ideal

e a prece.

Rede universal

em ti se cumpre o secular encontro

do presente

com o outro

a haver.

Ó rosa azul plasmada dupla e leve

que a emoção trespassa

e ultrapassa e transcende

e ascende

a taça!

Ó homem ó mulher

Ó mãe e mar

afogamento e fé:

Por ti meu pulmão anseia em ti descansa

e volta a ser

não-ser:

girino

embrião

guelra criança.

 

URANO

Novo tempo

traz o vento

viaja através dos fundos

tantos mundos.

Mar e ar.

Aprisionado no tempo já não estás,

nossa luz nosso instante

etéreo amante

ovo singular

Original

e uno.

Ó instalador do Caos

ó mago do fim dos bons e maus.

A ti te foi dado

esquadrar o céu

enquadrar a vida em diáfana moldura de véu

retratar

na gota o mar no outro o Eu

na ordem

aquele

que se perdeu

a estrada de retorno na corrente do sangue.

Vejo em ti

enigmática

misteriosa mandala

sol modesto

e travesso

ovo discreto estelar.

Em ti me abrigo

das vaidades e caprichos

que o tédio

não deixa de ofertar

Luz em ti sombra

com requinte

te observo

e me vejo

vagamente lunar

amplamente solar.  

 

Planetas-anões

Plutão, Ceres, Éris, Makemake, Haumea

 

Plutão

Oh que raiva sente o ser em frente de cujos passos um planeta sempre se intromete!

Sonho recorrentemente que removo os corpos que intrusos em minha órbita se intrometem.

É por escassez de massa que o respeito não me é tributado, ou será escassez de mente?

Que faz de mim Plutão um polémico planeta?

È de minha vontade voltar a integrar o grupo dos grandes e deixar a outros corpos menores, os que aguardam por um lugar: Varuna, Ixion, e outros de belos e misterioso nomes.

Transneptuniana minha linhagem, nenhuma objecção vejo a que possa transcender as limitações dos meus antepassados.

Não me agrada a descida do pedestal, ouve, Caronte e regista,  meu fiel satélite e secretário atento.

A distância a que te encontras isola-te no céu distante onde esperas vibrante a nave que um dia te visitará.

Que nos leva a nós a sentir por ti a dor do status que certamente não sentes?

Éris

Nos confins do sistema como em disco disperso, eis o maior dos pequenos.

 

Ceres

De Ceres se sabe o ser embrião que não se identificando com a família que lhe deram permaneceu só. Encontrará mais tarde, noutro Céu a família que escolheu. 

Haumea

 

Habitante do cinturão de Kuiper, venerado pelos ainda mais pequenos Hi’iaka e Namaka, suas destroçadas mas não menos fiéis partes, és, tu próprio descendente de uma família de destroços. Vejo em ti o albedo e o ovo.

É de deusa teu nome, fertilizada por ela nasceste e te encontraste.

 

MakeMake

És o criador mítico da humanidade, segundo os rapanui, que da Ilha da Páscoa te deram o nome.

 

 
 
 
 
 
Tomada de imagem: Maria do Céu Costa
Fotos: https://www.youtube.com/watch?v=Bl_Tj2J2fnQ
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