A.M. GALOPIM DE CARVALHO
EMPIRISMO NO PENSAMENTO DE ARISTÓTELES E NO DE ROGER BACON, MUITOS SÉCULOS DEPOIS.
Se, numa aula de filosofia, o professor começar por dizer que a palavra empirismo tem raiz no grego “empeirikós” e que significa experiência, está praticamente tudo explicado. Assim, um tema que quem não sabe julga difícil de abarcar, torna-se tão simples como uma conversa em torno da cozinha, por exemplo. Empirismo, na filosofia de Aristóteles, é, pois, a linha de pensamento segundo a qual todo o conhecimento deve ser baseado na observação do mundo e não na intuição ou na fé. “Não existe nada na mente que não tenha passado pelos sentidos”, afirmou este que foi o fundador do Liceu de Atenas, no século IV a. C. Esta linha opõe-se ao Inatismo de Platão, conhecido como corrente do pensamento que acredita e defende que o conhecimento de um indivíduo é uma característica que nasce com ele ou, dizendo por outras palavras, que lhe é inato. Não obstante ter sido seu discípulo, Aristóteles contrariou esta concepção do mestre.
Quase 17 centúrias depois, o inglês Roger Bacon (1214-1294), filósofo e alquimista, alargou o pensamento de Aristóteles introduzindo a variante experimental, no sentido de trabalho de laboratório. O Empirismo deste frade inglês, conhecido como “Doctor Mirabilis” (Doutor Admirável em latim), alude, entre outras, às experiências que, séculos depois, continuam a ser feitas nos laboratórios do presente, estando, portanto, na base do método experimental. É hoje um dado assente que que só os resultados experimentais permitem a indução em ciência.
Base ou fundamento do método científico, o Empirismo ensina que todas as hipóteses e teorias devem ser testadas por dados experimentais.
Diferente do conhecimento científico (baseado em factos verificáveis e comprovados pela experimentação), o conhecimento empírico, no sentido que hoje vulgarmente se lhe dá, é o que se adquire na nossa vivência diária, aprendendo superficial e acriticamente, através dos sentidos, fazendo, errando e corrigindo. É, em suma, o da experiência pessoal. Não obstante não ser considerado de nível científico, o conhecimento empírico, nesta óptica, foi a base de toda a sabedoria que, ao longo de séculos, conduziu a humanidade até o surgimento da ciência e continua a conduzir todos os milhões de homens e mulheres que, vivendo à margem da ciência, beneficiam de tudo o que ela produziu e produz em termos de tecnologia.
No caso da culinária, por exemplo, o conhecimento é essencialmente empírico, não devendo, todavia, esquecer-se que os electrodomésticos e outros equipamentos ao dispor, assentam em conhecimentos verdadeiramente científicos e que, cada vez mais, a ciência, nomeadamente a bioquímica, tem vindo a introduzir ensinamentos importantes no que respeita a dieta alimentar.