ESTELA - Geraldo, quando pediste colaboração para os "Palavreiros", sugeriste que falasse do papel do escritor, e se devia ou não usar um discurso límpido para ser entendido. Respondi na primeira pessoa: quando quero prestar uma informação, sou clara como o cristal. Quando estou a escrever poesia, nenhuma preocupação de público nem de inteligibilidade me move, a relação é apenas entre mim e a palavra, e é a palavra que comanda. Por isso, sai clara ou obscura consoante o seu próprio carácter. Porém esse problema já foi tratado na entrevista a José Augusto Mourão, quando lhe expus um motivo de perplexidade: no TriploV os discursos são na maioria altos, às vezes inextricáveis, por serem especializados, e é isso o que nos está a trazer público. Ele disse logo que a cultura é alta por definição: se não é alta, cai na pimbice, no popularucho. Isso não quer dizer que a cultura popular seja baixa: é alta também, no lugar cultural que lhe compete. Olhando para o nome "Palavreiros", noto que tem conotação popular, pelo menos para a sensibilidade linguística portuguesa... GERALDO - O "Grupo Palavreiros" surgiu do questionamento; o que fazer com nossa produção literária? O que realizar para que comunidades distantes de eventos culturais tenham acesso à palavra? Surgiu da união/comunhão de idéias para estimular/divulgar a palavra. Cativar um novo leitor! Seja vestindo a palavra com melodia, dramaturgia, ou nos saraus. Assim nos apresentamos em comunidades, escolas públicas, bibliotecas, teatros, casas de cultura, e congressos. O grupo é eclético, assim o registro de nosso cotidiano tem na escrita uma torre de babel. Popular; não é o caso de ser popular, "a busca da qualidade é a mesma", pois o espetáculo que apresentamos num congresso, apresentamos nas escolas. ESTELA - De facto, não notei, nos teus poemas publicados no TriploV, nem no teu comportamento literário comigo, nenhuma tendência programática para a inteligibilidade, nenhum esforço político para conquistar votos... Achas que a poesia é uma palavra à parte, algo mais próximo da música, da dança, da carícia? GERALDO - Sou um pequeno aprendiz, assim posso beber de várias fontes, perambular o lírico-erótico, a crítica, o cotidiano, os becos... Sim, a poesia é a carícia, o "caso de amor", mas da mesma forma posso e devo registrar tudo, "a tormenta" que atinge nossos dias... ESTELA - E o vosso portal? GERALDO - Com relação ao nosso pequeno portal de literatura: nasceu da necessidade de ter um espaço neste "restrito" mercado literário. Na última atualização ultrapassamos as 5000 páginas de conteúdo, publicando assim: Cantinho do Poeta<Palavreiros + Amigos>: (282 poetas), Dia Mundial da Poesia: Brasil (dezenove estados), quinze países, cerca de duzentos e quarenta participantes (Idiomas: Português e Español). Proseando <Palavreiros + Amigos>: (101 escritores/cronistas), Poesías En Español: (103 poetas), Prosa En Español: (36 escritores/cronistas). Estamos vinculando nesta atualização uma nova seção: "Ciber-Littera" destinada a ensaios, críticas e entrevistas literárias. ESTELA - Não há dúvida de que vocês atribuem um enorme valor à palavra. Visitei o vosso portal e reparei que, pelo meio dos ensaios sobre literatura e das conversas com artistas, há referência a temas esotéricos e religiosos. Qual é o lugar ocupado pela Palavra nos vossos conteúdos? GERALDO - Gosto da simbologia, resgate de tradições sufocadas pelo "homem moderno". A religião é a comunhão do indivíduo com o seu meio, não penso numa religião única, mas sim no "criador". Particularmente o assunto atrai, tenho alguns livros relacionados a mitologia (não me prendo no grego-romano, o mundo celta me fascina, e outros povos também, não esquecendo do nosso rico folclore). Estou por finalizar uma novela que a temática é a religião (candomblé). E assim vamos caminhando... ESTELA - Paradoxalmente, li entrevistas na vossa revista em que quase não há perguntas, sim estímulos à reacção epigramática, o que dá como resultado frases curtíssimas... Mais palavras não precisam de ser ditas, ou a entrevista é um pretexto para contacto humano, no mesmo sentido em que cumprimentamos um amigo que vemos na rua - "Olá, como vai você?" -, e esse contacto é importante para a nossa vida afectiva? Aliás noto que os brasileiros têm um discurso muito mais afectuoso do que os portugueses. Nós dificilmente diríamos "querido" a uma pessoa que não conhecemos, mas se te chamar "Geraldo querido" não vais estranhar... GERALDO - Às vezes a proposta da entrevista (curta) é essa; causar reações, pensar, não tendo necessidade de muitas palavras. Realmente o brasileiro tem esse "querer bem", aqui temos a convivência de vários povos em harmonia. É certo que a violência urbana tirou um pouco desse sorriso/brilho nos olhos... Com relação a "Geraldo querido", não estranharia, gosto desse costume. Para com os amigos íntimos o tratamento é bem mais carinhoso... ESTELA - Os Palavreiros são um grupo de São Paulo, com várias actividades culturais, entre elas a revista virtual homónima. Pareceu-me tratar-se sobretudo de jovens. Gostava que dissesses o que fazem vocês e o que é o "Formigueiro"... GERALDO - A escrita é um ato solitário, então o fazer? O "Palavreiros" tem se apresentado em encontros culturais, mostra de artes de Diadema/SP, bem como representado Diadema em eventos culturais noutras cidades de nossa região - por exemplo SESC - São Caetano do Sul. Procura resgatar a palavra oral em saraus e rodas-de-poesias e em escolas. Alguns de nossos companheiros, como Juan Carlos <chileno>, repartem seus conhecimentos de literatura latina. Em nossas apresentações mesclamos produção própria com a poesia contemporânea e consagrados, por exemplo o Movimento Modernista. ESTELA - E o "Formigueiro"? GERALDO - O "Formigueiro" é fruto da parceira músico-poética "Andaluz"<músicos> e "Palavreiros" - <poetas/escritores>. Uma apresentação que flutua no esforço de popularizar a poesia. Exibindo o "Caos Urbano" entre lamentos dos campos de guerra e secas. Cifrando poesias em ritmos múltiplos: maracatu/cantiga de roda/rock/blues e etc... ESTELA - O "Andaluz" é uma banda? GERALDO - Sim, a Banda Andaluz é composta por Marcos G. de Melo (violão, gaita, voz, arranjador e poeta), Zózimo Adeodata Fernandes (violão, voz, arranjo e poeta), Nivaldo Paulo Bezerra (violão, teclado, arranjo e voz), Radi Oliveira dos Santos (poeta, vocal e melodia), Rodrigo (flauta, percussão, violão e arranjo). A banda produz música com arranjos próprios e ecléticos sempre explorando os textos dos poetas Palavreiros, além de próprios trabalhos. Um casamento que deu certo: Estrofe & Coro. ESTELA - Gostava de saber o que preparas para o futuro, e o que pensas da edição virtual: vai ela substituir o livro impresso em papel ou, pelo contrário, poderá ajudar as editoras de livros a sobreviverem, uma vez que lhes dá uma enorme cobertura? GERALDO - No "Palavreiros" estamos trabalhando num projeto de contos - realismo fantástico. Temos um Fanzine em fase de retoques finais. Tenho alguns projetos (pessoais) literários: terminei de revisar algumas poesias que estavam por secar ao sol ("Ambrosia", poesia erótica; "Homo-Sapiens", poemas soturnos; "Poemas Esparsos", "Poemíninos" e uma seleção de meus contos "Faces, fases & fragmentos"). Particularmente não acredito que o virtual vai substituir o livro impresso no papel. Acredito e vejo o virtual como um aliado, fazendo chegar o nosso pensar noutros "mares". Com relação ao livro, sou um tanto romântico: o livro tem cheiro, gosto de passeio, cabe no bolso, e é só dar aquela vontade e ele está ali ao teu alcance... Portal de Literatura "Grupo PALAVREIROS" http://www.palavreiros.hpg.ig.com.br/grupopalavreirosportaldeliteratura
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