EDUARDO AROSO
I
Enquanto houver morte
e tivermos que lutar contra ela,
não sabemos ver que a vida
pode vestir-se de várias maneiras.
II
Todas as sementes foram postas
no lugar certo da terra
no primeiro dia da Criação.
Gumes de arrogância e egoísmo
fizeram-se alfaias e arados.
III
Desde o último solstício
que a primavera se anunciou.
Todos os exércitos de esperança,
sentinelas dos caules,
vínculos às raízes
serão poucos para florescer
a seiva e a paz.
IV
No lance, entre gorjeios,
cruzam-se emanações de laringes.
São distintos o dia e a noite,
a voz dos pássaros
e muitos farrapos vocálicos.
Estranha é a metamorfose das máscaras
que não assustam a terra mas o futuro.
V
Sim, a liberdade de Janus
escolher o rosto com que olha:
ou de os dois serem um.
Eduardo Aroso
7-1-2024