De um lado dizem vocês que eu odeio os naturalistas, de outro que mantenho acesa a guerra, e já disseram que o meu espírito criava certas fantasias, etc., até me decidir a facsimilar os textos gralhados para os pôr à vossa frente. E da missa não sabem nem a metade. Não sabem, por exemplo, que o livro "Francisco Newton, Cartas da Nova Atlântida" (em linha no site), não está acabado. Não entrei em Cabo Verde, fiquei pela exploração nas ilhas do Golfo da Guiné e primeira missão em Angola. Em Cabo Verde passam-se cenas epistolográficas terríveis que não me apeteceu, e continua a não me apetecer, expor à luz, apesar de as cartas estarem em linha e os dados necessários à compreensão em notas de rodapé. Na Guiné não entrei, e em Timor e Macau também não, falo disso apenas, como referência mais ou menos errática ao impossível percurso do naturalista-explorador pelo território português e ultramarino. Aliás, em certos pontos não entrei porque não tenho fontes suficientes, como em Macau.
O problema dos textos susceptíveis de induzir os leitores em erro, e por isso anti-pedagógicos, subversivos, não é específico do naturalismo português, é internacional; não é específico da Zoologia, da Botânica e da Geologia, atinge, como se viu no meu último editorial, obras de consulta geral para imensas pessoas, as enciclopédias. E se pensarmos que o erro mais vulgar a que recorre a linguagem cifrada destes textos é o geográfico, se pensarmos que outro tipo de erro vulgar é o que incide nos dados biográficos dos intervenientes, notamos que a Geografia e a História se tornam as maiores vítimas da subversão, e por consequência são os estudantes e investigadores nessas duas áreas aqueles cuja formação e informação está a ser trucidada por qualquer acção que, segundo o meu conhecimento, existe pelo menos desde o século XVIII, e ainda não terminou.
Quando decidirão os que mantêm acesa a guerra fazer um esclarecimento público, que permita tomar medidas para evitar que pessoas inocentes, e muito em especial os estudantes, continuem a ser enganados? Vamos esperar que a ciência acenda uma luz que nos guie. Há catorze anos que trabalho o assunto e ainda não brilhou sequer uma candeia, mas não é isso motivo para pensarmos que a ciência tenha recolhido ao sepulcro. Como disse, a subversão já dura pelo menos há duzentos anos, a ciência é uma carroça, anda muito devagar. Nada de desesperarmos, o esclarecimento ainda há-de vir, e nessa altura talvez eu fique com tempo disponível para jardinar no canteiro dos meus versos. |