A enormidade, em política, é em geral algo de tão mínimo que é preciso virem os comentadores explicar ao público a sua importância. Acontece que na América Latina há menos suavidade na conversa e não raro são explosivas as palavras dos governantes. Provavelmente como os países, em que os contrastes gritam. Na Bolívia, por exemplo, se faltam estradas, pontes, se as infra-estruturas turísticas deixam muito a desejar, se entramos em casas-de-banho públicas que são um nojo indescritível, em qualquer lugar encontramos um ponto de Internet para comunicarmos com o mundo. São terceiros mundos bem diferentes, os da América do Sul e de África: em África não existe informatização, as tecnologias da comunicação ainda por lá não se instalaram.
O rei de Espanha mandou calar Hugo Chávez? Pois também a mim já me apeteceu, confesso. Deu-se o caso na Bolívia, numa pensãozita em Santa Cruz de la Sierra. Via um programa de televisão em que ele e o seu colega boliviano, Evo Morales, sentados lado a lado à secretária, davam despacho a quaisquer requisições de entrevistadores ou público. Então, apontando para a cadeira ao lado da sua, com um sem-cerimónia chocante, em ar de quem se gaba de alguma façanha, Hugo Chávez declarou que tinha conhecimento da existência de um plano para matar o índio, Evo Morales.
Como se concebe que alguém possa declarar tal coisa, mesmo em privado? E mesmo fora do âmbito da política?
Dias depois, corria na Internet a informação de que estava iminente um golpe de Estado na Bolívia. Estaria relacionada com a declaração do Presidente? Estivesse ou não, não venha ele agora dizer aos portugueses que algum dos nossos políticos tem a cabeça a prémio, ou lá teremos de lhe retrucar: "Cala a boca, pá!"
Maria Estela Guedes
Britiande, 19 de Novembro de 2007
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