A.M. GALOPIM DE CARVALHO
Um post meu antigo no Facebook, começava assim:
“Num tempo em que ainda havia as então chamadas “classes especiais” (andámos de cavalo para burro) para crianças, algumas a roçarem a adolescência ou já nela entradas, com necessidades educativas especiais, mais concretamente, com problemas na aprendizagem, na sociabilização e outros, a Isabel, terminado o curso do saudoso Instituto António Aurélio da Costa Ferreira, foi colocada numa destas classes, em Lisboa….”
Sou um crítico, não tão activo como devia e, ao mesmo tempo, um defensor tenaz da classe dos educadores e professores dos ensinos pré-escolar, básico e secundário, classe que deveria estar (e, desgraçada e infelizmente não está) entre as primeiras (talvez, mesmo, a primeira) preocupações dos governantes. Todos os pais conscientes sabem que há professores sem qualidade ou vocação para exercerem essa missão (sim, porque é de uma missão que se trata e não de um qualquer emprego), a imensa maioria, prisioneira de múltiplas obrigações que nada têm a ver com o acto de ensinar, merece o meu respeito e a minha consideração. Uma classe desacarinhada, desprotegida e mal paga, a que a democracia retirou os ditos respeito e consideração. Já o disse e escrevi aqui e noutros media, que, em termos de educação, não estamos a formar a maioria dos cidadãos que a democratização do ensino trouxe às nossas escolas. Estamos a trabalhar para os “rankings” e para as estatísticas. Estamos a forçar os professores a amestrarem os alunos a acertarem nas questões que irão encontrar nos exames finais. Em alguns casos, como disse atrás, a propósito das infelizmente extintas “classes especiais”, andámos de cavalo para burro,
Aquele meu post mereceu o comentário que transcrevo e assino por baixo:
“Hoje, a pretexto do que se chama «inclusão», integram-se meninos com problemas sérios em turmas de alunos sem dificuldades de aprendizagem, exigindo-se aos professores que individualizem o ensino, com o apoio de alguns técnicos que, na maior parte dos casos, não conseguem facilitar o trabalho dos docentes. Depois inventa-se “sucesso” tristemente irreal, em anos sucessivos. E, como a lei o permite, invocam-se estatutos específicos que evitam que esses meninos façam exames. A isto todo o mundo fecha os olhos: há alguns empregos, os pais podem deixar os seus filhos nas escolas e até se dá a ideia de que esses meninos tiveram sucesso. Já os professores lamentam-se em voz surda, com medo de serem ouvidos.”
É esta a nossa triste realidade.
Quando, em 2015, no começo do seu mandato, o Primeiro Ministro afirmou que o nosso maior défice era o da Educação, deu-me razão, mas já passaram cinco anos e nada de verdadeiramente importante aconteceu.
A imagem que aqui mostro (capa de uma publicação do Gabinete de Avaliação Educacional, do Ministério da Educação) confirma o que ando a dizer há anos: Mercê dos programas, dos manuais usados, das orientações superiores e do tipo de exames, os professores, em vez de poderem ensinar e formar cidadãos, são levados a “amestrar” os alunos a acertar nas questões que lhes são colocadas nos exames. É bom para as estatísticas, mas é mau para os alunos e para o País.