NICOLAU SAIÃO
…sem que a princípio a opinião pública internacional e as chancelarias dos vários países se dessem muita conta, eis que o mundo se pode encontrar a caminho, temeroso, da Terceira Guerra Mundial.
O próprio Papa Francisco, um dos personagens mais bem informados mediante as investigações levadas a efeito por uma das entidades de inteligentsia actualmente mais eficazes – o Gabinete Interior da Sodalitium Pianum – só igualada possivelmente pelos serviços da paralela agência de Israel, foi muito claro numa declaração recentemente feita e que demonstra bem a sua justa preocupação: “A guerra é uma loucura“. E, como se sabe, o pontífice nunca fala por acaso ou para enrolar palavras…
Tal como nos tempos imediatamente anteriores à Segunda Guerra, em que uma encenação perpetrada pelos serviços secretos alemães possibilitou pretexto para a sequente invasão da Polónia, o esperado ataque da Rússia à Ucrânia é um despoletar previsível dum conflito generalizado, estando o sr. Putin neste momento a fazer o papel que coube a Hitler na anterior conflagração.
Escorado nos seus generais, que nunca engoliram bem a perda de influência da defunta URSS, o que lhes retirou protagonismo e realce, Vladimir Putin tem uma agenda evidente que resultou da sua análise aos países do Ocidente e seus dirigentes.
Com efeito, sendo os próceres da União Europeia uma equipa relativamente descomposta, com um presente chanceler alemão a muitos anos luz de uma senhora Merkel, firme e hábil estadista, e estando o “papagaio loiro”, como é popularmente apelidado nos mentideros políticos, muito fragilizado entre os cidadãos e mesmo entre os seus pares devido às sucessivas festarolas acontecidas de forma obnóxia em Downing Street, resta na Europa democrática com maior peso como interlocutor/opositor um Macron, ele mesmo a contas com a cada vez mais hostil opinião dos cidadãos ao seu posicionamento politico gaulês.
Quanto a Biden, tem oscilado na sua determinação: não quer nem pode perder a face de forte protagonista mundial, mas vê como algo de muito penoso um conflito aberto com um antagonista disposto a tudo (agora que já liquidou praticamente toda a Oposição interna e se garantiu por via de leis autoritárias a permanência quase ilimitada no poder discricionário) como o é o actual máximo dirigente russo, ainda por cima agindo com o apoio e o aplauso claro do ditador chinês.
Inquietantes caminhos se estão a abrir, paulatinamente, nestes tempos que ainda mal estão saindo duma pandemia que, na verdade, veio agravar os dados da questão nos quatro pontos cardeais.
Em 1938, até bem perto do rebentar do conflito que lançou o mundo numa espiral de violência, também não se queria crer que o mundo mergulharia na insânia, na loucura – para empregar a expressão do Papa.
E, para que tal não suceda agora, não são suficientes as, como dizia Trevor Roper em relação impressa à ingenuidade de Chamberlain, “expectativas de milagre“.