MARIA AZENHA
E assim foi:
assim que deus me apareceu peguei na máquina dos anjos
e comecei a escrever e pus-me a chorar
— é certo que sou mãe mas não uma qualquer —
ando de um lado para outro com o paraíso dentro
conheço a cor intensa das mulheres que se sentam em casa
à espera que o seu corpo rebente
e penso:
agora escrevo como uma matrioska
estou sempre a deitar cá para fora mundos que fazem aumentar o deserto
o fernando sabia-o e mudava frequentemente de ADN
estava farto de coisas visíveis como eu que nunca estou
na mesma cabine nem no mesmo laboratório de sombras
com a mão aberta à ciência
que hei-de fazer se sou de dentro para fora
estou sempre grávida
repleta de objectos exóticos que se espantam de
tudo nada existir realmente
dizem que este mês pertence ao estendal dos namorados
e esta ideia entristece-me porque sou cheia de espaço
sou uma nave tenho o ar leve
o meu corpo é uma metáfora
ganho a liberdade com a incerteza do universo
maria azenha