Dois ciprestes em Granada

 

MARIA ESTELA GUEDES
Dir. Triplov


Dois ciprestes em Granada terão de ser muito especiais, porque o que mais há em Granada são ciprestes. Lembro-me de ter lido algures, há muitos anos, uma discussão sobre uma espécie identificada por Abade Correia da Serra como Cupressus lusitanica. Ironizava então o crítico que a espécie nem era cedro nem do Buçaco, enfim, nem era cipreste nem português. Seja que espécie for, hoje ela figura na flora portuguesa com nomes vulgares variados, que mostram a confusão, ou a fusão de duas espécies: «cipreste-português, pinheirinho, cedro-de-portugal, cipreste-de-portugal, cedro-do-buçaco», e ainda mais. Deve ter sido por causa do debate contra Correia da Serra que eu não consigo separar os Cupressus dos Cedrus, sobretudo Cedrus libani, cedros do Líbano, aqueles que o arquiteto Hiram escolheu, dada a sua incorruptibilidade, para construir o Templo de Salomão. Em termos estritamente botânicos, Cedrus e Cupressus são géneros da mesma família, Cupressaceae, da mesma ordem, Pinales, a dos pinheiros, etc.. Em suma, são géneros irmãos ou bons primos.

Com as aromáticas, principalmente jasmim, a água, corrente, de repuxo ou em lago, e as citrínicas, os ciprestes representam a essência do jardim árabe, ainda muito presente em Granada e noutras cidades da região mediterrânica, outrora partícipes do Al-Andaluz. E aparecem muitas flores e toda a casta de representantes do mundo vegetal, na obra de Federico García Lorca, alguns dos quais espero mostrar neste primeiro contributo para o estudo da semântica e simbologia do mundo vegetal na obra do poeta granadino que alguns consideram mais árabe do que andaluz.