ANTÓNIO BARROS
D O P E R F O R M A T I V O C O R P O A U S E N T E
[referentes para uma leitura de: performance de corpo auSente, esse “corpo como texto”]
PreSente, AuSente, S(e)Ente resultou numa das assinaturas de autor de António Barros (AB). Gerada no seu tempo primeiro em resposta a um desafio de José Ernesto de Sousa, no início dos anos oitenta para a Cooperativa Diferença, Lisboa, exposição: A Caixa, “fora-da-caixa” esta peça fez-se desenhar. Mas progressivas apresentações mutantes depois surgiram. Refira-se, primeiro, no Museu Serralves, em 1999, na exposição: “PO.EX”. E assim passou a peça em condição geradora a inscrever a colecção da Fundação de Serralves. Uma versão em escala maior — para uma arte em espaço público — foi arquitectada para Coimbra 2003 – Capital Nacional da Cultura, projecto: “Poesia em chão de pedra_uma Antologia da Literatura Experimental Portuguesa” [Progesto].
A versão tipográfica do texto aplicado sobre suporte têxtil vem a surgir depois no vestuário de agentes performativos, resultando assim em plurais circunstâncias numa marca nominal de autor. Reside agora o modo num léxico distintivo — bem na razão dos desígnios de um “corpo como texto.” Convoca então uma razão de identidade, hoje resultante na condição sinalizadora de uma territorialidade particular no percurso do autor: a titulada performance de corpo auSente.
Da condição do Corpo migrante, constrangido, esse isolacionismo de Jochen Gerz, contaminante da condição da eLegível elegibilidade. Aqui vale referir a operação: Artitude:01 razão para Projectos & Progestos, “Performance agora”, TAGV_Teatro Académico de Gil Vicente, Universidade de Coimbra (UC), 2017. Mas antes o modo havia sido já experienciado em: Paisagens Neurológicas – Eco-Neuroprocessos de Criação, 2018, curadoria de Isabel Dos, Edifício das Caldeiras, UC.
A performance de corpo auSente, tantas vezes uma prática obrigatória no percurso do autor residente nos hibridismos das linguagens das artes, resultou como um dos paradigmas nas elegias a António Aragão (AA). Tributo a este poeta que, com Herberto Helder, fundou a Poesia Experimental em Portugal. No centenário do nascimento de AA a performance de corpo auSente, por AB, foi uma prática. O livro de AB nesse contexto publicado, Vulcânico PaLavrador_uma elegia a António Aragão, mas também a doação ao MUDAS_museu da obra de Aragão: Poesia URRO, antes parte integrante da colecção de Artitude:01, reforçam o sentido.
O objecto_texto gerador, e enunciatório do desígnio aqui referido, voltou recentemente a público em: Contextile 2022, Bienal de Arte Têxtil Contemporânea, “10 Artistas – o Têxtil na Arte Portuguesa”, CIAJG-Centro Internacional das Artes José de Guimarães, 2022.
A “caixa fora-da-caixa” é tributo a José Ernesto de Sousa, e almeja, assim, cumprir prática às vontades editadas por Ernesto quando dizia a seu tempo — “precisamos de uma geração que volte a colocar os bigodes na Gioconda”. Narrativa compósita que, em sua homenagem, surge em: gRito de ES_Ernesto de Sousa com GerAcção ao fundo, 2021, numa pro_vocação da leitura publicada no e-book, p.143,dedicado a Ernesto de Sousa no centenário do seu nascimento, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, 2022.
Se [em arte] para George Steiner há uma musculatura do espírito, onde a verdadeira lógica e a beleza são a mesma coisa, não será excessivo gerar uma performatividade para o corpo ausente, se ele ainda se sente ente. Digamos: se é preSente, mesmo que auSente. Obriga nessa hipnose ser Ente. E ele vem de mãos com uma acesa hermenêutica.