ANTÓNIO BARROS
Para fazer gerar um rosto identitário e distintivo do perfil de António Aragão (AA) podemos conjugar a assinatura que, como desígnio de contaminação, assumi. E este gRito reside no texto agora publicado no número #69 da revista Islenha_Temas Culturais das Sociedades Insulares Atlânticas – edição temática reservada para exaltar a obra de Aragão no centenário do seu nascimento (1921-2021). “Não faça arte, faça artitudes”, dizia-me AA na moldura de cada despedida, e assim fiz por revisitar na Islenha esta marca em duas páginas, vulto espelhante de uma vascularização natura ao fundo a fazer eco de Novalis. O poeta do querer transformar a arte numa nova natureza. AA zelou por tanto desse anseio.
Umas palavras primeiras na enunciação das vontades de manifesto de reconhecimento publiquei já antes, no livro que cataloga a iniciativa: “Pensar Aragão: mais [ou menos] exa(c)tamente”, Quinta Magnólia _Centro Cultural, direcção de Ana Teresa Klut, exposição com curadoria de António Carlos Valente.
É assim, nesta contextualidade do querer artitudes, querer de Aragão, que aqui enuncio para memória, essa que se pretende consequente, um mapeamento sumário dos gestos – de projectos a progestos – que fiz gerar para testemunho das artitudes que, para AA, assumi em modo de quem se maniFesta na senda do centenário do seu nascimento no arco temporal: 2021-2022:
1. Poesia URRO | MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira. Doação de uma colecção de 10 retratos, esculturais – arte do objecto – da ficcionada “Família Capela Gomes”, parte integrante da instalação: “Poesia URRO”, de António Aragão, edição para a iniciativa “PO/EX 80”, curadoria de Ernesto M. de Melo e Castro para a Galeria Nacional de Arte Moderna, 1980, Lisboa. AA doou-me as peças originais no contexto do Artitude:01_progestos visuais multimédia, gerador do simpósio: Projectos & Progestos _Tendências Polémicas nas Linguagens Artísticas Contemporâneas, Teatro Estúdio CITAC, Universidade de Coimbra. Doei este património ao MUDAS.Museu. Sublinhe-se o elevado empenho da directora do museu, Márcia de Sousa, que em bom ofício acolheu galvanizando singulares actividades educativas de modo continuado e promissoras realizações artísticas de autores emergentes.
2. Vulcão olhando o prato | Poema Visual, texto grafado em negativo sobre prato em porcelana, 27 cm de diâmetro, produção SPAL, em embalagem original, performativa, obgesto, com apresentação contextualizando na colecção “Vulcânico Palavrador” [po-ex.net/], Edição de 500 unidades, numeradas e assinadas pelo autor. Exemplares da peça integram as colecções: Biblioteca do Museu Serralves, Porto; Paradise Museum of Joseph Beuys, Bolognano; Museo Vostell Malpartida, Cáceres; MNAC_Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa; e. o.
Uma constelação de 31 unidades desta peça, uma para cada dia do mês, integrou a escultura_instalação – de um residir no túnel – em “Mágoa_Water Event”, de AB, Museu da Água de Coimbra, 2021, manifesto, na linha Fluxus, consequente ao trabalho antes gerado – com Yoko Ono – no Museu Serralves, “O jardim da aprendizagem da liberdade_The learning garden of freedom”. Em Ciências Documentais e Biblioteconómicas, AA foi aluno da Universidade de Coimbra.
3. Vulcânico PaLavrador _uma elegia a António Aragão | Edição de livro publicado pelo MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira, no âmbito do Centenário do nascimento de António Aragão, obra de António Barros com apresentação de Rui Torres e Eduardo Jesus. ISBN: 978-972-648-258-1; DL:487730/21. Um exemplar da publicação inscreve a Colecção de Literatura Experimental Portuguesa da Universidade Fernando Pessoa; a colecção da Biblioteca do Museu Serralves, na cidade do Porto; o Centro de Documentação do CAPC_Círculo de Artes Plásticas da Academia de Coimbra e a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. O autor do livro inscreve o Centro de Referências do Museu da Língua Portuguesa, Brasil.
4. Translocal AA | Uma edição da revista Translocal _culturas contemporâneas locais e urbanas, dedicada à vida e obra de AA. Foi esta a proposta que apresentei à directora: Ana Salgueiro, da edição especial temática dedicada a António Aragão da Translocal, que logo acolheu solicitando indicação de parcerias. Referi os promotores – e porque estes com reconhecida obra pública sobre a arte de Aragão – os investigadores: Rui Torres e Bruno Ministro. Para capa da revista propus um retrato de AA da autoria do poeta: António Dantas – autor de grande convivialidade com Aragão nas experienciações da poesia. E temos no prelo um novo número da revista Translocal, obra que no alinhamento do número anteriormente publicado, e dedicado à obra de Herberto Helder, contempla-nos com um singular património cultural destes dois geradores fundacionais da Poesia Experimental em Portugal.
5. Avenida António Aragão | Como elogio público póstumo formulei aconselhamento institucional do fazer-se dedicar de uma avenida da cidade do Funchal com o nome de António Aragão [Poeta e Historiador]. Mereceu a proposta o interesse de responsáveis de várias instituições, essas que logo prometeram zelar pela implementação perante a autoridade municipal; assim como foi célere o sublinhar do propósito, dando viva voz à causa, a comunicação social local.
6. Centro AA_HH | Grafei, semeei a ideia, já nas folhas de bordo de “AA_Silêncio”, com ecos no livro que cataloga a exposição: “Pensar Aragão…” na Quinta Magnólia_Centro Cultural: O fazer gerar na geografia onde AA se fazia circular, na cidade do Funchal, um Centro dedicado à Poesia Experimental. Logo às obras de António Aragão e de Herberto Helder, pais dos Cadernos que acabaram geradores da PO/EX [ver:po-ex.net/]. A sua residência ficava logo ali na Calçada do Pico, do Forte. No alinhamento da Quinta das Cruzes, esta logo depois do antigo Arquivo Distrital do Funchal, onde AA fui activo director. Lugares incubadores de práticas e desígnios de socialização onde AA teve grande existência. E logo abaixo, na (c)alma da cidade, frente à Catedral, o quase dEus: APOLO.
7. A_APOLO | deus da Arte e da Poesia | Canta-se, enCanta-se que: quando um homem sonha o mundo pula e avança, é polo AA_polo, no APOLO. E nesta senda estamos já meia centena de entusiastas da ideia que lancei a zelar para que ela avance. Sem abrir demasiado a porta do camarim partilho umas fichas dos bastidores. Devir de um propósito que leio oportunamente elegível, um trabalho em curso, numa esgrita que se quer para além do seu progesto:
Uma gambiarra de alva luz trepa as árvores, lâmpadas que se acendem ligadas à letra O de APOLO, também deus do Sol. A imagem, obra compósita, é parte subtil, trecho de uma fotografia gerada pelo poeta visual António Dantas.
8. Dragoeiro AAA | Quinta das Cruzes | Projecto de escultura, arte em espaço público, autoria de AB, objecto poético-visual gerado em diálogo com a obra de AA, e a instalar nos jardins públicos, espaço envolvente do Museu da Quinta das Cruzes. É a peça uma elegia a quantos edificaram este património, e aos seus históricos directores: António Aragão e Amândio de Sousa. Reside o museu na cidade do Funchal. Projecto dialogante com a operação: “Dragoeiro_Livro”, para a ilha de Porto Santo, programa em activo processo.
9. Sala António Aragão | Museu da Quinta das Cruzes | Espaço de exposições temporárias evocativas da vida e obra de António Aragão. Conjuga-se o propósito com edificado periférico do Museu da Quinta das Cruzes, como ainda a Capela de Nossa Senhora da Piedade. A peça de AA “Poesia URRO” vem merecendo já a criação de leituras e interpretações de vários artistas, e que ali poderão apresentar as suas experiências e leituras, como de toda uma vasta obra de AA. Um progesto que se pretende consequente. Um desafio elegível nos desenhos do desejo, e que bem podem conjugar-se com as actividades neste limbo geradas pelo MUDAS.museu. AA iria gostar. E aqui, na constelação pluridisciplinar dos plurais envolventes uma unidade de interpretação museológica, uma galvânica plataforma de leitura da obra de AA, mas também das escritas e atitudes consequentes. E logo das artitudes também. Isabel Santa Clara foi, é, uma exímia historiadora dessas vitalidades invulgares, como na Islenha #69 o prova, mas não apenas aí. Incansável na construção da memória de um extenso legado único. Até o dizer, ser, e sentir gerado na guerrILHA urbana. Merece apL(a)uso bastante. E mais. Vale debruçarmo-nos sobre o tanto com que nos contempla ainda na revista Translocal dedicada a AA graças ao brio de Ana Salgueiro, Rui Torres, Bruno Ministro e Emanuel Gaspar. A Translocal bem soube dar testemunho à conjugação: [AA_HH] que procurei iconic_a_mente metabolizar.
10. Jardim AA_Vulcânico PaLavrador | Arte em espaço público. Objecto-livro habitável integrando a obra poética: “Vulcânico Palavrador”, 9 textos, poemas visuais de AB dedicados a AA, grafados no pavimento em calçada portuguesa, 7m diâmetro com 9 unidades, cidade do Funchal. O texto inscreve o Visual Poetry Museum, Brasil; o projecto é parte integrante do Arquivo Digital da Literatura Experimental Portuguesa, po-ex.net/, Universidade Fernando Pessoa, Porto. Está a colecção publicada no livro: “Vulcânico PaLavrador_uma elegia a António Aragão”, e no jornal que acompanha vestindo a edição de “Vulcão olhando o prato”.
Pena minha, pena nossa, AA já não está entre nós para uma directa fruição do reforço onde estas 10 artitudes – todos os dedos das mãos – se inscrevem, e todo um fazer laureá-lo dos reconhecidos méritos enunciados. Advogo o aplauso aos autores em vida tangível. Sem morbidez em elogio póstumo. Na aqui impossibilidade, ficam os gestos para estímulo de plural empenho e dedicação às gerações vindouras. E para ânimo nosso parece vir chegando uma nova GerAcção capaz de voltar a colocar os bigodes na Gioconda. Como fez Dali. Como apelou José Ernesto de Sousa convocando ousadas emergências, este Ernesto, JES, contemporâneo de AA, e que a Triplov com a Maria Estela Guedes, felizmente, tão bem o sublinha.
10 artitudes – todos os dedos das mãos, e com a sensação que é sempre pouco. A lucidez perigosa de Clarice Lispector traz-nos Alexandre Dumas quando este nos alerta que: “há serviços tão grandes que não se podem pagar a não ser com ingratidão”. Vi tudo isso aquando AA, ainda em vida, e onde ouvi as suas palavras necessárias a quererem dizer o dizer; e porque a palavra lava, ouvi dolorosas palavras em lava. Sofr_idas. Guardei em silêncio. “AA_Silêncio”. Aprendi com Dumas a contrariar Dumas, mesmo quando as palavras não são bastantes obrigando-as à “invenção” de si, de palavras, palavras outras. Zelo por encontrar uma esgrita palavradora para contrariar a lucidez de Dumas. Tenho díVida de gratidão. DíVida não ao sol. À Sol. Sem a qual não existiriam para AA hoje estas 10 Artitudes – todos os dedos das mãos.
A n t ó n i o B a r r o s
“Vala Real”, MondeGo, 2022.
[Créditos de Imagem: 1. Estudo de Edição de Imagem, publicado em Islenha #69, P156/157 | 2. Obra compósita, imagem cortesia MUDAS.museu, Serviços Educativos, texto: AB, publicado em social plafaforma digital | 3. e 4. Cortesia Museu da Água, Coimbra, “Mágoa_Water Event”, F:AB | 5-10. Obra compósita,Texto e Infografia: AB, sobre imagens cortesia António Dantas | 11. Fotograma do filme: “AA_HH”, F:AB, Islenha #69, P156/157, F:AB | 12. Islenha #69, P14/15, publicado em: “Um rosto, um rasto e um ratilho. Reflexões sobre mil e uma maneiras de co-memorar”, texto de Isabel Santa Clara | 13. “AA_Silêncio…”, “Pensar Aragão: mais [ou menos] exa(c)tamente”, F:AB, catálogo: P112/113, colecção: Carolina Lia Gouveia.]