MARIA AZENHA
ROTAS E MITOS
(As grandes Paisagens da Alma Lusíada)
Haverá países onde as grandes revoluções nunca acontecem.
O caso de Portugal é bem ao contrário.
Portugal é um Ente com Destino, uma “singularidade” que aconteceu, acontece e acontecerá.
É o Futuro!
Lirismo trágico dum povo!
Portugal supera danos.
O promontório torna-se mágico.
O Adamastor torna-se humano.
No calendário das águas
A Pátria emerge, argonauta
Da nova era, em formas
Transcendentes e alumbradas.
Traz as naus, que houveram,
Mais sublimadas,
Guardadas em terras portuguesas.
Até a divindade a viu beber da fonte
Luz e pérolas, estrelas, encantos da Noite
E surgiu coroada de Rosas
E de auréolas.
Conduzida por Dione
Viva como o ouro,
Viva como o Sol,
Na Terra brilha
Como um coral.
Cumpre o nascimento
Do Menino
No
Ventre
De
Portugal.
A Luz deste ao povo ibero,
Portuguesa e irmã de Homero.
Escreveu-se em português o firmamento.
Resta cumprir a Nau,
Por dentro de cada Nação-a-ser,
A Terra,
O Santo Graal,
E o que A exceder.
E entrando assim
Sofreu tamanho dano o grande mestre,
Que trouxe ao mundo inteiro, a toda a parte,
O rosto, a imensidade, o mar celeste,
Enquanto sublimava a voz de Marte
Correndo ali a fama , a luz minestre,
Na força furiosa do estandarte,
Dizendo ao grande Tejo que acertasse
O verso,
A vida,
O vento,
A Voz soltasse.
Abriu-se então o Livro das Hespérides.
TETHYS SAUDANDO O POVO LUSITANO
Tethys, do trono de um império,
Depôs em teu seio o Livro Ocluso,
Relembrado em Flor de Lis,
Qual Rosa alada,
Esculpida em pedra,
Bússola de Ísis.
Entre deuses e homens
Ficou a Esmeralda gravada.
Ó Portugal,
O Ourives
És Tu!
Leves como deusas
Acenderam os céus
– núpcias divinas-
Discretas Rosas
que de Sírius caíram
Agora Vénus brilha.
Ao centro,
A
Secreta Ilha.
Vénus, em sua imensa beleza,
Fiel e afeiçoada à lusa gente,
Em véu e transparência
Revela o Céu, a Nau e o Escudo
Portugueses.
O querubim,
A grande estrela,
Entrega
ao
Pai,
Rosas ardentes
Cumpre o Homem a espada.
Ao alto, o que nele clama.
Eu, Diogo Cão, partindo
Em obra tão ousada
Trouxe do padrão o
S
A Chama.
De Oriente vem a Luz.
A mão cinge o Sol em círculo de ouro.
Nós, as guardiãs do fogo,
Em inteiro globo,
Chegámos ao Futuro.
Contemplo o Universo, o seu olhar.
E o mundo se transfigura em rocha trágica.
Em si trabalha a criatura,
A árvore frágil.
Contemplo a deusa,
O etéreo,
A Beleza,
– tão grande a benção –
A concha iniciática:
A Nau
Do
Verbo.
Por outras ordens cumpre-se o Império.
O reino, em terras,
Vai-se alargando
Entre comércios
Sonhos
E
Glórias,
Soltando das mãos a Forma
Da História.
Portugal é mistério e destino
Onde cada nação é Ser,
Onde cada uma sem se dividir
Cumpre o enigma que Há
Em existir.
E este modo de ser português
Simbolizado pela flor de Lis
É a luz derramada sobre o Oceano,
Sonho lusitano,
Fogo do Paráclito,
O Cosmos por descobrir!
Até os antigos deuses receiam as Naus
No avanço dos portugueses
Pelo oceano azul.
Recados manda, Neptuno,
Pelo peito d’Eolo,
Soltando as fúrias e os ciclones.
Elas, as Naus,
Fitando sempre os céus do Futuro,
Fizeram dos portugueses, não humanos,
Mas deuses do azul!
Cruza os Oceanos.
Do Passado vem para o Futuro.
Vem para o novo reino
Ungir a Alma do Mundo.
O Céu pode crer e ser.
O mar tem outro poder:
O de negar.
A MENSAGEM ESPIRITUAL DE FERNANDO PESSOA
Entregar a Rosa do Encoberto a Portugal para O libertar do Sono.
Este povo que sou eu
Muito para além,
No mar imenso onde há horrores,
Enfrenta o medo, a imensidão,
Para lá dos Bojadores.
Viaja,
Enigmático,
Em mar revolto,
Sempre assustador,
Mas cada vez mais perto do porto.
Cumpre na Terra, mais do que o céu.
Cumpre o Infinito,
Este povo, que é todo meu,
Ovo alado que se soltou dum grito!
O INFANTE
Cumpriu a Vontade Suprema
Em seu manto Irreal
Mestre do Ouro,
Da perseverança,
Dos caminhos da Lusitânia.
Hoje,
Emerge o S da mítica Taça,
Iniciando
A
Terra
Ao décimo portal.
FILIPA DE LENCASTRE
Fecundou-te o Anjo
Com o Lírio da Paz
E o ceptro Real,
A mais princesa de todas,
“ Princesa do Santo Graal”.
Iniciada em terra morena,
Foste Iniciadora,
Mãe,
Flor Criadora,
De todas
A mais serena.
Escreve o destino com a mão do ser
A história que uns haverão de ter
E a outros a memória de a reler
No que puderem entender ou crer.
A luz do céu se fez -se Portal.
O mar, a porta.
A Mãe divina,
A lua
De
Portugal.
O Anjo de Portugal, em fogo Templário,
Abriu, ao som do sétimo selo,
O Sol inteiro,
O Sol Total.
Derramou a inscrição do fogo azul:
O divino Feminino,
O Grande Graal,
Pela mão Altíssima
De
Aquário.
É em Ti o mistério
No azul oculto
Do
Etéreo,
Taça
Dourada
Do
Império,
Lírio,
Rosa da Ordem,
Flor Cósmica
De
Portugal.
Em verso e chamas,
De um antigo manuscrito,
Cobrindo este país
De raras flamas,
A nova Arca da aliança
Regressou da Atlântida.
Trouxe-A
O poeta da Mensagem
– Príncipe do Infinito –
Em seu ocluso peito,
Para ser desvelada.
Mistério da Ordem,
I.N.R.I.
No Logos da estrela solar,
Na Estrela do fogo.
Nela está escrito um Nome.
E pelo caminho das dez luzes,
Há de Portugal
Ser liberto do Sono.
A FORMA DA ROSA
Rodar a chave
Da
Rosa
Olhá-la no seu fulgor
Inventar a partitura
Desenhar
a
Forma da Flor.
Grande Iniciador e Iniciado
Na substância do mundo!
Pela suprema vontade
Sabes,
Queres, Ousas e Calas.
Teu Nume é rio do Absoluto.
Ó Santo,
Ó In- Revelado,
Ó ideal supremo da Humanidade,
Revela-nos a grande Jerusalém.
No Cálice do Rei
A Arte do Meio,
A
Arte Real!
Soltou-se
O Quinto Ponto
No triplo beijo.
O Cristo do Centro,
O Semeador,
O Fogo.
Creio no Pai. Creio no Filho.
Creio nos campos do amor e do trigo.
Creio no Infante. Creio nos templários.
Creio no cálice. Creio no espírito.
Creio no sangue. Creio no lírio.
Creio no fogo universal e inteiro.
Creio na paz. Creio no Cosmos.
Creio no Graal.
Creio no Santo Nevoeiro.
Creio na Mãe.
Creio na Rosa.
Creio na Hora miraculosa.
Creio no Ámen.
Como cantar a Nau?
Como dizer Mar,
Coração,
Estrela da manhã,
Ou
Nave de Luz?
Como incendiar a neve
No centro da
Cruz?
Serpente -Sol
Som de Rá
Selo
Sebasthos.
Do Poderoso recebi o S
Coroado
Por
Cinco flamas,
O pentagrama.
Sou a Iniciação
O Sim
O Sete.
Sou
o
Diamante
o
Graal.
MEL-KI-TSE-DEK
Trago a Antemanhã
De alma imersa no globo
Desde aquele dia,
Em Nevoeiro e Fogo.
Traz dentro dela o Rei -Excesso,
Meu país de sinais,
Nau- de- oiro do deserto,
Meu coração sonha o teu regresso,
Meu país
De Nome certo!
CHEVALIER-À-LA-ROSE
Para que ouças as minhas palavras
E eu dispare as flechas do meu coração
Deito-me no poema do teu sangue,
Por fogo
Por amor,
Em tua boca silenciosa.
Sabes o caminho dos relâmpagos
E da noite azul,
Flor de intemporalidade pura.
Derramas sobre a Terra
A luz indócil,
A música do céu,
Em deslumbradas pedras.
Quando passas em Silêncio,
Ó lâmpada do Sol,
As árvores incendeiam-se nas águas,
As mais puras.
Sustentas o Crepúsculo
Os deuses do futuro
Em tuas mãos de Apolo.
Chegou a hora da Esperança,
Minha pátria,
Minha lança,
Minha flor de tule,
Rosa da Aurora,
Chevalier-à-la-Rose
“De Camões a Pessoa – A Viagem Iniciática”
Poemas ilustrativos de Maria Azenha
Editora Sete Caminhos, 2006
ISBN 989-602-068-X