Um programa de Maria Estela Guedes com realização de Sara Sousa
Rubrica Livros com Música
EDIÇÂO ORIGINAL NA RÁDIO TRANSFORMA: radiotransforma.net
5. Dave Grohl, o contador de histórias
Indicativo geral
1 . SARA – «DAVE GROHL, O CONTADOR DE HISTÓRIAS» – mais um programa de Maria Estela Guedes e Sara Sousa, rubrica «Livros com Música», na Rádio Transforma
2 . Nirvana – Smells like teen spirit – 4:55
- ESTELA – grohl_01 . Dave Grohl assina um belíssimo livro de memórias, a que deu o título “The Storyteller”, mantido na tradução portuguesa da editora Marcador, em 2021, com o subtítulo “Histórias de vida e de música”. Um autocolante azul acrescenta a informação: “Dos Nirvana aos Foo Fighters”. Os Nirvana, liderados por Kurt Cobain, e os Foo Fighters, banda criada por Dave Grohl depois da morte de Cobain, são os dois principais grupos em que atuou, como baterista e mais tarde também como vocalista, guitarrista, compositor, etc.. Na verdade, Dave Grohl, que em aparência só não sabia dançar, é homem dos sete instrumentos, o principal dos quais, sob o meu ponto de vista mais literário do que musical, é a caneta. Este homem do rock é um grande escritor. Para usar as suas palavras, um contador de histórias. Quase trezentas páginas de leitura agradável, mas sobretudo instrutiva, que nos leva, pelos meandros da música, até à criação dela, aos modos de vida, aos concertos, às tournées, nos conduz aos bastidores, a casa, e às pessoas que o dono da casa recebe e frequenta.
- Foo Fighters – Everlong (Live At Wembley Stadium, 2008) – 5:20’
- SARA
Ouvimos a guitarra e a voz de Dave Grohl, com a canção “Everlong”. Foi num concerto no estádio de Wembley, em 2008. Na bateria estava Taylor Hawkins, que abandonou a banda e a vida há muito pouco tempo. Foi o segundo grande golpe sofrido por Dave Grohl, parece assim desejável que chame para si Shane Hawkins, filho de Taylor, que herdou o talento do pai e vamos ouvir agora numa reconhecida canção dos Foo Fighters. Canta “My hero” o seu autor, Dave Grohl, que começa por apresentar o jovem ao público, no concerto de homenagem ao pai. Shane, na bateria, é tão sensacional como o pai e como o próprio Dave Grohl, quando era baterista dos Nirvana.
- Foo Fighters with Shane Hawkins – My Hero / I’ll Stick Around – 8:49’ – bastam 3 minutos.
- ESTELA – grohl_02
O amor aos outros é das mais tocantes notas de “The storyteller”. Dave Grohl é generoso, ele aprecia a música alheia, reconhece aquela que mais serviu para a sua formação, e eu creio que os Nirvana, com a voz e o estilo de Kurt Cobain, foi determinante nesse aspeto.
- SARA.
- DAVID BOWIE “Space Oddity” – só o primeiro minuto e 30, mais ou menos.
- ESTELA – grohl_03
Em “Storyteller”, Dave Grohl aprecia todos aqueles de quem fala, raramente redige uma frase negativa sobre este ou aquele músico. Lembro-me apenas de uma exceção, quando, fisicamente maldisposto, comenta que só duas vezes na vida vomitara, e uma delas ao ouvir David Bowie no mais que famoso “Space Oddity”. Acontece que essa música foi composta expressamente para render dinheiro, de acordo com declaração do próprio David Bowie, e acertou completamente no alvo. Então, salvo “Space Oddity”, Dave admirava David Bowie, era amigo dele como de tantos outros, e cantaram juntos, apesar de eventuais conflitos. Dave declara, numa entrevista, que o principal motivo do seu apreço por David Bowie era o facto de Bowie viver isolado no seu próprio espaço, isto é, ser completamente original.
Dave tem cantado os mais diversos músicos, com os mais diversos cantores, a exemplo de Paul McCartney. Na sua modéstia, acha sempre extraordinário cantar aqui e ali, ser convidado por este ou aquele, caso de Barack Obama, família e convidados, para quem cantou na Casa Branca.
11.SARA – Na sua frente, ao lado do Presidente dos Estados Unidos, Paul McCartney, um velho amigo. Foi precisamente a canção deste elemento dos Beatles, “Band on the road”, o que pediram a Dave Grohl que cantasse e vamos agora ouvir.
12.Dave Grohl Performs “Band on the Run” | In Performance at the White House – 6:01’
- ESTELA – grohl_04
“The storyteller”, “Histórias de vida e de Música”, de Dave Grohl, parece justificar a sua qualidade literária no facto várias vezes referido pelo autor: os seus pais são escritores. Compositor, escritor, baterista, guitarrista, cantor, e talvez algo mais, pois, a dado passo, ele refere ter gravado todos os instrumentos de certa canção ou disco. Isto nos primeiros tempos, porque não tardou a ganhar dinheiro suficiente para pagar aos músicos da sua própria banda. Algo me chamou a atenção neste âmbito da riqueza, sim: quando já nem sabia quanto dinheiro guardava no banco, quis comprar uma propriedade, isolada, para ter o seu próprio estúdio. Então pediu à sua assistente que procurasse uma casa com terreno, nada menos que 180 hectares. Confessa que não fazia ideia de quanto eram 180 hectares. A propriedade comprada teria só 80, mas, meu Deus! ainda assim isso dá quase as dimensões de uma pequena povoação.
Independentemente da música, mais firmada no ritmo do que na melodia, é muito gratificante ler “The storyteller”. Boa literatura, informação que interessa aos curiosos de como vivem os artistas, quem conhecem, com quem convivem, em que países, cidades e moradias. Dave foi capaz de viajar 80 horas seguidas, interrompendo uma tournée na Austrália, para levar as filhas a um baile de estudantes, na escola, e logo a seguir repetir os voos, durante 80 horas, para retomar o fio dos concertos. Excelente pai, não é verdade? Cantar com uma das filhas num espetáculo escolar é francamente inacreditável, mas valeu a pena, não? As filhas são cantoras, estrearam-se com ele.
- SARA – Dave Grohl apresenta Violet Grohl, sua filha, que acompanha à guitarra na canção de Adele, “When we were young”.
- Dave Grohl and Violet Grohl – When We Were Young (Adele Cover) – 6:23’
- Indicativo –
Se necessário, sobre “Mantra”, até perfazer o tempo do programa.
Mantra – Dave Grohl, Josh Homme, Trent Reznor – 7:04
Dave Grohl, “The storyteller”.
Marcador, 2021
30.outubro.2022