FRANCISCO SOARES:
Neve

 
 
 
 
 
 
 

A Tempestade
Eugénio Montale

Tradução de Francisco A. Soares

A tormenta que dispara sobre as folhas

Duras da magnólia os longos trovões

De Março e o granizo,

 

(os sons de cristal no teu ninho

nocturno te surpreendem, do ouro

que se extinguiu sobre os mognos, sobre a talhe

dos livros engastados, arde ainda

um grão de açúcar na concha

das tuas pálpebras)

 

o relâmpago que empalidece

árvores e muros e os surpreende naquela

eternidade de instante – feixe de mármore

e destruição – que dentro de ti esculpida

levas por tua condenação e que te liga

mais que o amor a mim, estranha irmã –

 

e depois o estrondo rude, os sistros, o fremir

das pandeiretas na fossa maldita,

o arrastar de pés do fandango e, por cima,

qualquer gesto que se debate...

......................................................como quando

te viraste e com a mão, livre

a fronte da nuvem dos cabelos,

me saudaste – para entrar na escuridão.

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